EUA. Xerife do Michigan com "relações amigáveis" com grupo terrorista

por RTP
Membros do grupo que conspirou para raptar a governadora, às portas do parlamento do Michigan, com armas, em abril Seth Herald, Reuters

Em maio passado, um grupo "de terrorismo organizado" foi acusado de planear o rapto da governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, invadir o Capitol e começar uma guerra civil. No mesmo dia, o xerife do condado de Barry juntou-se a dois dos elementos desse grupo num protesto e agora é acusado de ter feito comentários em defesa dos alegados terroristas.

Dias depois de a Polícia do Estado de Michigan e o FBI terem detido 13 indivíduos ligados ao suposto grupo que pretendia derrubar o governo estadual, o xerife Dar Leaf afirmou que achava que os homens estavam apenas a tentar prender a governadora Gretchen Whitmer, alegando que tal era legal segundo a lei daquele Estado.

Dar Leaf terá estado num palco de protestos junto de dois dos suspeitos da tentativa de ataque à governadora do Michigan, embora negue que tivesse conhecimento sobre o plano do grupo em questão. No entanto, a aparente "relação amigável" com os membros do grupo, que apareciam armados nas imagens divulgadas do prostesto, sugere que pode haver "lacunas" da lei local, avança a CNN.

Depois de os 13 homens serem acusados ​​de ligação com o grupo organizado, Leaf disse à comunicação social que alguns dos atos do grupo podiam ser legais.

"Muitas pessoas estão zangadas com a governadora e querem que ela seja presa"
, disse Leaf à afiliada da CNN WXMI.

No protesto de maio, Leaf comparou ainda as ordens de permanência em casa de Whitmer com uma detenção em massa.

"É apenas uma acusação, e dizem que era 'conspiração para sequestrar' e tem que se lembrar disso. Eles estão a tentar sequestrar? Porque muita gente está zangada com a governadora e querem que ela seja presa. Eles estão a tentar prender ou foi uma tentativa de sequestro? Porque ainda é permitido, em Michigan, se for um crime, fazer uma prisão por crime".

"E [a lei] não diz que quem está num cargo eleito está isento da prisão. Portanto, tenho que olhar por esse ângulo. E espero que seja mais parecido com o que é na realidade".

Numa outra entrevista, no dia seguinte à Fox 17, o xerife Leaf disse que não queria que se pensasse que ele simpatizava ou concordava com estas ações.

"São acusações muito, muito graves", afirmou, acrescentando que se travata de "um ato horrível". "Não queremos que escapem impunes".

O xerife afirmou que considerava também que as acusações de terrorismo contra os irmãos gémeos Michael e William Null, assim como contra os outros 11 indivíduos, não foram provadas e que mereciam a presunção de inocência.

"Na verdade, esses homens são inocentes até que se prove a culpa, por isso nem tenho a certeza se eles tiveram alguma coisa a ver com isto", disse.

Entretanto, na passada sexta-feira, 9 de outubro, Dar Leaf referiu que a lei local podia permitir certos atos.

"Há uma lacuna que permite uma milícia. Está na nossa Constituição por alguma razão. Se os indivíduos se tornarem radicais, isso só vai enviá-los para uma cadeia ou uma prisão".

Além de dizer que o código criminal de Michigan permitia que os cidadãos prendessem oficiais, Leaf pareceu dar crédito aos homens por fazerem parte de um grupo armado conhecido como Wolverine Watchmen.

"Bem, veja a própria milícia e as suas origens", disse Leaf à WXMI. "Eles têm mais legitimidade neste país do que as agências que os prenderam".

Na terça-feira, a Associação de Xerifes do Michigan emitiu uma declaração condenando as palavras de Leaf.

"É, francamente, desanimador que qualquer agente ou funcinário da lei, com qualquer tempo de serviço, possa responder desta forma", disse Matt Saxton, CEO da associação. "Os seus comentários foram perigosos e, para ser claro, não há nada sobre esse suposto grupo que possa ser interpretado como legal, moral ou americano".

Michael e William Null foram acusados ​​de fornecer apoio material para atos terroristas e de possuir uma arma de fogo durante a prática de um suposto sequestro à governadora.

A verdade é que as leis de Michigan dependem do tipo de acusação: se o crime cometido é de facto um crime ou se a pessoa é convocada por um agente da polícia para ajudar na detenção. A lei deste Estado também permite que donos de lojas, funcionários ou seguranças detenham um cidadão em caso de roubo.

Na terça-feira, cinco dos homens acusados de estar envolvidos no ataque a Whitmer foram levados a tribunal. Adam Fox, Brandon Caserta, Daniel Harris, Kaleb Franks e Ty Garbin são acusados de conspirarem para cometer um sequestro, ato que é punível com prisão perpétua.
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