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Europeias. As peças principais no novo xadrez europeu

Com uma taxa de participação recorde, os europeus escolheram um novo parlamento. E ditaram o futuro da Europa: mais clima, mais democracia mas também mais populismo. Quem joga nos próximos cinco anos?

Sol, temperatura perto dos trinta graus, distrito de Lisboa. Na Escola Básica Conde de Ferreira, em Oeiras, os corredores estão vazios. Cartazes indicam o caminho entre bonecos que habitam as paredes: “AR a AT” na sala 3, “DF a EA” no ginásio…


Um grupo de escoteiros julgou poder aproveitar a afluência às urnas para angariar donativos mas até às duas da tarde, pouco mais de duas centenas de pessoas tinham cruzado a entrada da escola primária. As caixas de lápis que levaram para vender continuavam cheias.

Cenário recorrente: um pouco por todo o país chegaram relatos do que preconizava já uma taxa de abstenção das mais elevadas. No canto ocidental da Europa, onde as praias estiveram cheias, apenas um terço dos eleitores votou.

Mas do lado de lá da fronteira contam-se outras histórias. Em Espanha, por exemplo, 64,30% dos eleitores votaram à boleia das eleições regionais. E a média de participação europeia teve o maior aumento em quatro décadas: de 42% em 2014 para 51% em 2019.  

Crédito: LUSA

O panorama europeu confirmou algumas das tendências previstas durante a campanha, deitou por terra outras. Prevêm-se mudanças no hemiciclo com os partidos de centro a perder eleitorado, ainda que continuem na liderança.

Novas políticas surgem reforçadas: os partidos ecologistas conquistaram segundos e terceiros lugares um pouco por toda a Europa e conseguem mais 15 deputados.

O ALDE, grupo político dos liberais, estende-se por mais 42 lugares no hemiciclo.

Em quarto lugar surgem os nacionalistas, liderados por Itália. Ainda que tenham conquistado dois países, os resultados ficaram aquém do previsto pelas sondagens.

França

Depois da corrida renhida nas sondagens, a lista Renascença de Emmanuel Macron perde a carruagem e Marine Le Pen conquista o primeiro lugar com margem de 1%.

Não soam sinos de vitória para nenhum: Se a líder da União Nacional prometeu aumentar o número de deputados ao Parlamento Europeu e acabou a perder dois, o Presidente Francês quis ser uma alternativa sólida à extrema-direita e falhou.

Como se justificam os 22,41% da Renascença e os 23,31% da União Nacional? França teve 34 listas candidatas às eleições europeias e um cenário político fragmentado.


À esquerda, nem o partido de Mélenchon, Esquerda Insubmissa, nem o histórico Partido Socialista atingiram 7% dos votos. Ficaram ambos um ponto acima do mínimo necessário de 5% para entrar no hemiciclo europeu.

À esquerda, nem o partido de Mélenchon, Esquerda Insubmissa, nem o histórico Partido Socialista atingiram 7% dos votos. Ficaram ambos um ponto acima do mínimo necessário de 5% para entrar no hemiciclo europeu.

Os Republicanos, encabeçados pelo improvável professor de filosofia François Xavier Bellamy, perderam mais de metade dos lugares que conquistaram em 2014.

Apesar da reivindicação que ocupou Paris durante o inverno, as três listas apresentadas pelo movimento dos Coletes Amarelos também não terão lugar em Estrasburgo.

Em terceiro lugar mas com sabor a vitória estão os Verdes, com 13% e o dobro do número de deputados em 2014.
Reino Unido

A norte do canal da Mancha, o fenómeno Farage mostra como o Reino Unido continua dividido. O Partido do Brexit venceu por larga maioria conquistando 28 lugares no Parlamento Europeu.

Em segundo lugar estão os Liberais Democratas, partido anti-Brexit. Subiu de um para quinze deputados e assume assim uma posição de liderança na oposição à saida do Reino Unido da União Europeia.


Na mesma medida, mas em sentido inverso, os Conservadores perdem quinze. Os partidos tradicionais confrontam-se com o afastamento inegável do eleitorado: à esquerda, os trabalhistas de Corbyn também perdem metade da representação europeia.

Surgem de novo os Verdes com um avanço, a bordo da maré que se espalhou pela Europa: sobem de três para sete lugares.
Itália

A Liga Norte, que conheceu com Matteo Salvini um salto de popularidade, ficou em primeiro lugar e elegeu 28 deputados. Com um aumento consecutivo de eleitorado nos últimos cinco anos, o partido de extrema-direita passou de 4% dos votos em 2014 para 30% em 2019.

O líder quer fundar um novo grupo político que junte os partidos nacionalistas e anti-imigração, e que substitua o existente Europa das Nações e Liberdades (ENF). A nova aliança extremista deve contar com os eurodeputados franceses de Le Pen e com os húngaros de Orbán.

Salvini é admirador de Vladimir Putin e de Donald Trump. Como reação aos resultados eleitorais, publicou uma fotografia onde se pode ver o líder russo e um boné de apoio à campanha do presidente norte-americano, de 2015.

Hungria

Viktor Orbán termina a noite eleitoral com uma vitória de 53% que traduz, mais do que um apoio popular maioritário, o sucesso da alteração à lei dos círculos eleitorais.

Desde 2011 que o governo húngaro tem levado a cabo uma reforma constitucional que põe em causa a independência do sistema judiciário e a liberdade de imprensa.

O Fidesz está suspenso do PPE, depois de vários diferendos com a Comissão Europeia, como a campanha publicitária que Orbán promoveu contra Jean-Claude Juncker. O Europa Minha contou a história. Os eurodeputados do Fidesz deverão aliar-se aos de Salvini e constituir uma força opositora à imigração.

Ainda assim, nem tudo permaneceu igual na Hungria. Um novo partido, de jovens liberais que querem devolver a democracia aos cidadãos, conquistaram dois assentos parlamentares. O líder do ALDE, Guy Verhofstadt, felicitou a mudança e a integração do novo partido Momentum no seu grupo político.


Alemanha

Foi a primeira vez, em duas décadas, que Merkel não conduziu a campanha da União Democrática Cristã (CDU).

A sucessora de uma das mulheres mais poderosas do mundo, Annegret Kramp-Karrenbauer, passou o primeiro teste com 29% dos votos. A extrema-direita conquista o quarto lugar com 11 deputados, correspondendo ao que indicavam as sondagens.

Os socialistas caem de 27 para 16 deputados e perdem o segundo lugar para os Verdes, que duplicam o número de eleitos e se assumem como a principal oposição de esquerda na Alemanha. Ska Keller, cabeça de lista, é também candidata à Presidência da Comissão Europeia.