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Frente Polisário apoia negociações sobre Saara Ocidental com garantias, mas está pessimista

por Lusa
Mohamed Messara - EPA

A Frente Polisário (FP) indicou hoje estar "pessimista" quanto à gestão do novo enviado especial da ONU para o Saara Ocidental, uma vez que falta "um apoio firme" para que Marrocos volte a cooperar sem condições prévias.

Numa conferência de imprensa realizada após Steffan de Mistura ter terminado a primeira visita oficial aos campos de refugiados sarauís na Argélia desde que o novo enviado da ONU foi nomeado há quatro meses, Jatri Adduh, chefe do Gabinete Político da FP, insistiu que os sarauís apenas aceitarão voltar à mesa negocial se o processo for "credível e com garantias".

"Reafirmamos ao enviado especial da ONU a nossa disposição total para cooperar, na condição de que tal se faça no quadro de um processo sério, credível e responsável, que inclua prazos determinados, para que não se ande a perder tempo", afirmou Adduh, citado pela agência noticiosa espanhola EFE.

"Creio que De Mistura recebeu de nós o apoio que necessita, mas, infelizmente, não o recebeu em Rabat. E não o poderá receber de Rabat a menos que o Conselho de Segurança das Nações Unidas exerça uma pressão séria e contundente sobre Marrocos para que este volte a cooperar sem condições para que se chegue a um compromisso de acordo com a legalidade internacional", sobre o estatuto do Saara Ocidental, acrescentou.

Em linha com este argumento, o responsável da Polisário sustentou que "todo o problema está na posição negativa de Rabat" e no facto de, no Conselho de Segurança da ONU, "haver países que pretendem, claramente, apoiar a posição de Marrocos".

"Enquanto esta questão não for resolvida, não poderemos avançar no processo de negociação. Pelo contrário, infelizmente, a situação pode evoluir negativamente", frisou.

A viagem do diplomata italo-sueco começou quinta-feira em Marrocos, o país que ocupou a antiga colónia espanhola do Saara Ocidental em 1975, e deverá estender-se por uma semana. 

Depois dos campos de refugiados, Mistura deverá deslocar-se a Argel e à Mauritânia, numa tentativa de encontrar uma solução para o conflito regional mais antigo do norte de África.

O périplo de Mistura acontece num contexto muito diferente de outros levados a cabo por antecessores seus. 

As tropas marroquinas entraram há um ano na passagem de Guerguerat, uma zona desmilitarizada que Marrocos e a Mauritânia exploram comercialmente, e toda a região está imersa num nível elevado de tensão militar.

A Polisário considerou a entrada das tropas marroquinas - que pretendiam expulsar um grupo de sarauís que protestavam contra a utilização da estrada no território que reivindicam - como uma violação do cessar-fogo assinado em 1991 e lançou uma ofensiva militar contra o muro de separação construído por Rabat no deserto, que ainda continua, um ano depois do incidente inicial.

Neste contexto, logo que desembarcou na cidade argelina de Tindouf, porta de entrada dos campos, o representante da Polisário junto da ONU e da missão das Nações Unidas para o Saara Ocidental (MINURSO), Sidi Mohamed Omar, alertou que a posição do movimento independentista "é lutar até à plena independência da República Sarauí".

"Estamos numa situação em que não há um cessar-fogo nem um processo de paz e este é um dos grandes desafios que De Mistura enfrenta", analisou.

Quinta-feira, num encontro com De Mistura, o ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Burita, insistiu na proposta de autonomia apresentada por Rabat como a única solução para o conflito do Saara Ocidental, excluindo a exigência da Polisário, que quer um referendo de autodeterminação, tal como ficou definido nos acordos de paz assinados em 1991 com a ONU.

Domingo, o líder da Polisário e Presidente da República Árabe Sarauí Democrática (RASD), Brahim Ghali, insistiu que o movimento exige "uma solução justa e equitativa, capaz de garantir ao povo o direito à autodeterminação e à plena independência consagrados nas resoluções e acordos da ONU".

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