Grécia quer confiscar propriedades alemãs por conta da ocupação nazi

por RTP
Eric Vidal, Reuters

O parlamento grego calculou em 300 mil milhões de euros a dívida alemã por crimes cometidos durante a ocupação nazi. A estimativa foi ontem aprovada após um debate longo de doze horas.

Depois de ter pressionado fortemente a Grécia para adoptar planos de austeridade draconianos, a Alemanha recebe agora a factura respeitante aos massacres cometidos e às pilhagens levadas a cabo durante a ocupação nazi daquele país, durante a Segunda Guerra Mundial.

O parlamento grego aprovou ontem, após 12 horas de debate, o relatório da comissão competente, que enumera detalhadamente boa parte das perdas e danos causadas pela potência ocupante durante o período de Abril de 1941 a Setembro de 1944.

Invoca-se a esse respeito a liquidação de cerca de 300.000 gregos pelas forças alemãs, nomeadamente em grandes massacres cometidos nas localidades de Lyngiades, Distomo, Kalavryta, Kandanos e Viannos. Entre os valores devidos pela Alemanha, contam-se 28 milhões de euros que em 1997 o Supremo Tribunal mandou pagar aos familiares das vítimas.

Invoca-se, além disso, o crédito de 500 milhões de marcos do Reich que os ocupantes em 1942 decidiram conceder a si próprios com dinheiro existente nos cofres do banco central grego -  algo que hoje, apesar das dificuldades em estabelecer uma equivalência rigorosa, corresponderia a uma quantia na ordem de milhares de milhões de euros.
Medidas que estão previstas
Com o relatório, o parlamento grego aprovou também a recomendação de que o Governo faça o inventário de todos os bens alemães que possam ser apreendidos por conta dessa dívida, sempre discutida desde o final da guerra, mas que nunca foi paga.

O primeiro-ministro Alexis Tsipras comprometeu-se perante os deputados a seguir à risca a recomendação aprovada. Tsipras começará por enviar uma nota verbal ao chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, entretanto em visita-relâmpago à Madeira, inventariando as "inalienáveis pretensões" gregas e propondo negociações bilaterais em quatro fases precisas.

Se, como é de prever e está previsto por todas as partes envolvidas, o Governo alemão mantiver a sua recusa ao diálogo, o site de Der Spiegel revela que o Governo grego tem planos para avançar com uma queixa no Tribunal Internacional da Haia e no próximo Parlamento Europeu, a eleger em 26 de Maio.

Na previsão, igualmente, de numerosos obstáculos jurídicos que se levantarão pelo caminho, o Governo grego tenciona confiscar propriedades alemãs que se encontram ao seu alcance, a título de garantia para o pagamento do que os tribunais venham a determinar.

Aristomenis Syngelakis, líder o Comité para as Reivindicações Gregas de Indemnização, emite por seu lado a apreciação de que "este é um dia importante para a Grécia na luta por uma compensação justa da dívida alemã" e para a retificação da atitude "inaceitável e arrogante" que a Alemanha tem mantido sobre o tema.

As reivindicações gregas foram mantidas em surdina enquanto a Grécia se encontrou sob a autoridade do programa de resgate da União Europeia. Mas, agora que esse programa chegou ao fim, a Grécia recuperou a margem de manobra necessária para colocar novamente sobre a mesa essas já antigas pretensões, sem lhe ser imputada uma intenção de misturar os dois temas para deixar incumpridos os seus compromissos.
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