Holanda. Antigo deputado de extrema-direita converte-se ao Islão

por RTP
Morteza Nikoubazl, Reuters

Um antigo deputado do Partido da Liberdade e braço direito do líder Geert Wilders surpreendeu a Holanda ao anunciar a sua conversão ao Islão. Joram van Klaveren, que durante anos combateu ideais muçulmanos no Parlamento holandês, justifica que “mudou de convicção“ quando escrevia um livro.

O que era para ser um livro crítico do Islão tornou-se para Joram van Klaveren um caminho para a fé. O antigo deputado reavaliou as suas ideias e reescreveu a obra, que acabou por ser um registo da busca do autor pela religião e religiosidade.

“Durante a escrita encontrei cada vez mais coisas que abalavam a minha visão do Islão”, contou van Klaveren, de 40 anos, convertido ao Islão a 26 de outubro.

Intitulado "Apóstata: do cristianismo ao islamismo na época do terror secular", o livro é "uma refutação das objeções que os não-muçulmanos têm" sobre o Islão, declarou numa entrevista ao jornal NRC.

Educado num ambiente cristão, van Klaverem revelou que “o maior obstáculo” assentava nas perceções negativas sobre Maomé. “Existem muitas mentiras espalhadas sobre ele”, afirma.

"Se tudo o que escrevi até agora é verdade, e acho que sim, então sou um muçulmano de facto", afirma.

Classificando as antigas posições sobre o Islão como “erradas”, criticou a linha de atuação do Partido da Liberdade. “Tudo o que havia de errado tinha de estar ligado ao Islão de uma forma ou de outra”, denuncia.
Surpreendeu “amigos e inimigos” e motivou críticas
A notícia da conversão de Joram van Klaveren, divulgada durante uma entrevista promocional do deputado livre, surpreendeu “tanto amigos como inimigos”, refere o jornal Algemeen Dagblad.

Quando era um aguerrido deputado do Partido da Liberdade - de 2010 a 2014 -, Joram van Klaveren lutava pela proibição da burqa, dos minaretes e nem queria ver sinais do Islão nos Países Baixos.

Na Holanda, o uso do véu integral foi proibido em locais públicos, como escolas e hospitais, no ano passado.

Joram Van Klaveren era conhecido pela retórica anti-muçulmana: apelidava o Islão de “miséria muçulmana”, o Profeta Maomé de “vigarista” e o Corão de “veneno”.

"Se isto não é um golpe de publicidade para promover seu livro, então é realmente uma escolha extraordinária para alguém que tem muito a dizer sobre o Islão", comentou um dos fundadores da organização não-governamental VNL, Jan Roos. "Mas nós temos liberdade de religião na Holanda e ele pode adorar quem quiser", concluiu.

Um representante do conselho de administração das mesquitas marroquinas na Holanda, Said Bouharrou, sublinhou a “coragem” de van Klaveren tornar pública a conversão.

"É ótimo quando alguém que tem sido tão crítico do Islão (...) percebe que não é tão mau ou perverso", acrescentou.

Joram Van Klaveren abandonou o Partido da Liberdade em 2014, por não concordar com o rumo impresso pelo presidente Geert Wilders. Durante um comício, Wilders perguntou à audiência se queria “mais” ou “menos” marroquinos na Holanda. A resposta: “menos, menos, menos”.

Van Klaveren criou o seu próprio partido conservador, o Pela Holanda, que representou no Parlamento até 2017.

A conversão de van Klaveren não é inédita no seio do Partido da Liberdade. Também o antigo conselheiro municipal em Haia Arnoud van Doom mudou radicalmente de convicção em 2013.

Sobre a conversão de van Klaveren, van Doom confessou no Twitter: “Nunca pensei que o Partido da Liberdade se tornaria num terreno fértil para os convertidos”.

Cinco por cento dos cerca de 17 milhões de cidadãos holandeses são muçulmanos, revela o Instituto Nacional de Estatística. O número pode duplicar até 2050, segundo especialistas.
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