Independentistas curdos em conversações secretas com os EUA

por RTP
Miliciana do YPG, assistindo uma família de refugiados Rodi Said, Reuters

Foram até agora mantidos em segredo, e hoje revelados pelo PKK, os contactos que este vem mantendo com os EUA. O PKK acusa a Turquia de inviabilizar o combate ao "Estado Islâmico".

A revelação foi feita ao Daily Telegraph por um dos três dirigentes interinos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), Cemil Bayik. As conversações têm sido realizadas por vias indirectas, tanto mais que o PKK continua na lista de organizações "terroristas" do Departamento de Estado norte-americano.

Em entrevista àquele diário, Bayik pediu aos EUA que mediasse o conflito com a Turquia e afirmou ainda que o seu partido estaria disposto a aceitar um cessar-fogo sob garantias dos EUA.

Quando a Turquia iniciou os bombardeamentos aéreos contra posições do "Estado Islâmico", abriu também as hostilidades contra as YPG, milícias de autodefesa ligadas ao PKK, que têm sido, no solo, as principais antagonistas do "Estado Islâmico". Em geral, tem-se constatado que os raids aéreos turcos visam com mais frequência as posições curdas que as islamitas.

O aparente paradoxo de combater o "Estado Islâmico" e também as únicas forças terrestres que o enfrentam tem sido explicado pelo facto de o líder turco, Recep Tayip Erdogan, ter interesse em reabrir o conflito com a minoria curda na Turquia, para poder declarar o estado de emergência, dissolver o parlamento em que as últimas eleições, inesperadamente, não o colocaram em maioria, e convocar novas eleições em ambiente de exaltação nacionalista.

Desde que foram reabertas as hostilidades, caíram duas dezenas de polícias e soldados turcos, mortos em acções atribuídas ao PKK.

Cemil Bayik declarou na entrevista ao Daily Telegraph que o PKK não aceitaria qualquer cessar-fogo unilateral. Afirmou, nomeadamente: "A menos que haja garantias, não podemos dar passos unilaterais".

Referindo-se aos contactos com os EUA, disse: "Claro que há mensagens, há reuniões, cartas, e é provável que se desenvolvam mais".

Mas também foi advertindo: "Se a América continuar a apoiar a política turca, é possível que perca os curdos. Se a Amércia perder os curdos, vai ser difícil derrotar o 'Estado Islâmico'".
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