Jornalíssimo

por João Fernando Ramos, Rui Sá

Cientistas da África do Sul descobriram um continente perdido debaixo da ilha Maurícia. Na Índia outro grupo de investigadores descobriu sete novas espécies de rãs noturnas. Quatro delas estão entre as mais pequenas do mundo.
No Jornalíssimo desta semana Joana Fillol conta tudo sobre estas descobertas e revela que os jovens portugueses são favoraveis à existência de quadros de honra nas escolas. Tempo ainda para uma interrogação para responder em www.jornalissimo.com: Deve existir uma opção vegetariana nas cantinas escolares?

No oceano Índico, por baixo da ilha Maurícia esconde-se um continente perdido. Não, não é Atlântida. Trata-se do super continente de Gondwana. As pistas para o encontrar estavam nas rochas da superfície.

Na ilha Maurícia, onde a água é transparente e a paisagem deslumbrante, havia algo que não batia certo para os geólogos.

Como é que numa ilha de origem vulcânica como aquela, formada há nove milhões de anos, podia encontrar-se um mineral (o zircão, que se produz em rochas continentais) que data de há 3000 milhões de anos?

Durante algum tempo houve quem sugerisse que o zircão teria chegado à ilha pela ação de ventos ou do mar.

Agora, essa hipótese está totalmente afastada e o enigma geológico foi resolvido por uma equipa de cientistas liderada por Lewis Ashwal, da Universidade de Witwatwersrand (África do Sul).

O zicórnio, sabe-se agora, provém de partes do antigo supercontinente Gondwana, que juntamente com a Laurásia, "nasceu" da fragmentação da pangeia (uma palavra que vem do grego e significa "toda a terra").

Fazemos aqui um aparte para recordar as aulas de biologia. Há 200 milhões de anos, os continentes não tinham a configuração que hoje conhecemos. Existia uma única massa de terra, designada Pangeia que, quando se fragmentou, deu origem a dois supercontinentes: Laurásia e Gondwana.

Por sua vez, a fragmentação destes dois supercontinentes deu origem aos atuais. Devido ao movimento das placas tectónicas, Gondwana dividiu-se e levou à formação da África, da América do Sul, da Antártida, da Índia, de Madagáscar, da Austrália e do Oceano Índico.

Segundo os cientistas desta Universidade da África do Sul, publicada há cerca de um mês na 'Nature Communications', a presença de zircões na Ilha Maurícia prova "a existência de materiais da crosta terrestre muito mais antigos, que só podiam ter sido originados num continente", escreve Ashwal.

O grupo de investigação sustenta que a rutura do Gondwana não foi uma "simples divisão", mas sim uma "fragmentação complexa" que deixou "fragmentos de crosta continental de vários tamanhos à deriva dentro da bacia do Oceano Índico em evolução".

Os cientistas concluíram, assim, que esses pedaços de crosta foram posteriormente cobertos por lava durante as erupções vulcânicas na ilha e sugerem que há muitas peças deste continente desconhecido (os pedaços que sobraram da desintegração de Gondwana) - que agora batizaram de 'Mauritius' - em homenagem à ilha que lhes proporcionou a descoberta - debaixo do Oceano Índico.

No artigo que publicou no site da Universidade em que trabalha, o investigador principal mostra-se muito entusiasmado com a descoberta: "Não é todos os dias que alguém descobre um novo fragmento de continente", escreve Lewis Ashwal. O facto de a sua descoberta estar enterrada sob um vulcão e não poder ser vista ou tocada não a torna menos importante: "Permite uma crescente compreensão de como a Terra funciona e como funcionou no passado", acrescenta.


As mais pequenas rãs do mundo descobertas na Índia

São rãs noturnas, vivem na Índia e medem-se em milímetros

Não foi só por causa do tamanho que estas rãs demoraram até hoje a ser descobertas: o som que fazem assemelha-se ao de insetos e, além disso, vivem em habitats secretos (por entre a vegetação de bosques húmidos ou à volta de charcos), na Índia, numa região rica em biodiversidade, a cordilheira dos Ghats Ocidentais.

Quatro das sete espécies de rãs noturnas que os cientistas da Universidade de Deli acabam de apresentar ao mundo têm entre 12,2 e 15,4 milímetros. Por não chegarem aos 18 milímetros são consideradas miniaturas. Não devem andar muito longe, portanto, do tamanho de uma joaninha ou de uma abelha.

Os cientistas que as descobriram espantaram-se não só com as novas espécies, mas também com a sua abundância naquela região.

"Novas" elas só são mesmo para o Homem, porque pertencem a uma linhagem de rãs que se espalharam pelo território indiano há cerca de 70 ou 80 milhões de anos, revelam os seus descobridores.

Para serem reconhecidas como novas espécies, estes animais foram sujeitas a exames em laboratório: fizeram, por exemplo, testes de ADN, exames de bioacústica e foram alvo de comparações morfológicas pormenorizadas.

Ficamos então a saber que o género das rãs noturnas é maior do que se pensava. Até aqui eram conhecidas 28 espécies e, destas, apenas três eram miniaturas. Agora são 35 e há 7 miniaturas.

As descobertas costumam ser momentos felizes, mas esta chega acompanhada de grandes preocupações: "entre as sete novas espécies, cinco enfrentam ameaças consideráveis %u200B%u200Be requerem conservação imediata", pois os seus habitats estão fora das zonas de proteção e sob ameaça de serem destruídos ou perturbados pela atividade humana, transmite o investigador principal, o Professor SD Biju.

Uma curiosidade: o número de anfíbios descobertos aumentou muito na última década. Entre 2006 e 2015, das 1581 espécies descobertas a nível mundial, o maior número pertence à Mata Atlântica brasileira (182), seguida pelos Gaths Ocidentais e Sri Lanka (cerca de 159).
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