O julgamento do cardeal de Hong Kong, Joseph Zen, e de quatro ativistas, todos acusados de falhas no registo de um fundo humanitário para apoiar manifestantes pró-democracia, começou num tribunal da região chinesa.
Figura proeminente da Igreja Católica da Ásia, Zen, de 90 anos, foi detido no início de maio, juntamente com outras figuras pró-democracia - incluindo a cantora Denise Ho e a advogada Margaret Ng - ao abrigo da lei de segurança nacional do território imposta por Pequim em 2020, tendo sido libertado sob fiança no mesmo dia.
No entanto, o cardeal não foi até ao momento acusado do crime de "conluio com forças estrangeiras", estando a ser julgado apenas pela acusação da falha no registo do Fundo de Ajuda Humanitária 612 junto da polícia.
Os arguidos administravam o fundo, entretanto extinto, que se ofereceu para pagar despesas legais e médicas de alguns manifestantes pró-democracia dos protestos de Hong Kong em 2019.
O crime implica o pagamento de uma multa máxima de dez mil dólares de Hong Kong (1.300 euros).
Segundo o jornal South China Morning Post, a acusação vai estar a cargo do procurador-geral adjunto de Hong Kong, Anthony Chau Tin-hang, que teve também nas mãos o primeiro caso a ser julgado ao abrigo da lei de segurança nacional.
A decisão final irá caber à juíza Ada Yim Shun-yee, um dos magistrados nomeados pelo líder do Governo da cidade, John Lee Ka-chiu, para lidar com casos ligados à lei de segurança nacional.
A investigação ao estabelecimento do Fundo de Ajuda Humanitária 612 teve início após um dos administradores, o académico Hui Po-keung, ter sido detido no aeroporto quando estava prestes a embarcar para a Europa, onde iria ocupar um cargo de docência.
A prisão do cardeal Zen provocou indignação da comunidade internacional, que acusa a China de pôr fim a liberdades outrora conferidas em Hong Kong.
O Vaticano reagiu com cautela à detenção de Zen, dizendo apenas que estava "a acompanhar muito de perto os desenvolvimentos".
O caso chega num momento delicado para a Igreja Católica, que procura renovar, até ao final do ano, um acordo que permite a Pequim nomear bispos na China com a aprovação do papa.
O cardeal Zen criticou este acordo, que considera prejudicial para a igreja clandestina chinesa, que se recusa submeter-se às exigências das autoridades de Pequim.