Lares de idosos. Os critérios em Madrid para decidir quem é hospitalizado

por RTP

Um grupo de 22 geriatras analisa cada caso e baseiam-se em critérios que avaliam os anos de vida útil. O jornal El Pais teve acesso a um protocolo da Comunidade de Madrid para a avaliação de quem deve ser hospitalizado perante os inúmeros casos de infeções em residências de idosos.

O jornal espanhol começa com uma pergunta que muitos espanhóis fazem estes dias: porque é que não vai uma ambulância aos lares buscar idosos. Em resposta, revelam um protocolo que está a ser seguido em Madrid com quatro critérios para selecionar quem é hospitalizado.

“As residências em Madrid onde há um surto de coronavírus, estão a embater num muro hoje em dia para aliviar sua situação: muitos idosos doentes são rejeitados pelos hospitais”, diz o jornal.

O protocolo que a Comunidade de Madrid está a seguir, diz El Pais, foi elaborado por geriatras, com base na ética da medicina de catástrofes. São 22 médicos da especialidade, espalhados nos 22 hospitais da região, que estão encarregues de valorar cada chamada de uma residência madrilena, para decidir quem deve entrar nos hospitais.

Têm quatro critérios, que se baseiam em anos de vida útil esperada para cada doente e no estado das urgências hospitalares. São afastados dos tratamentos quem apresenta demências avançadas, os grandes dependentes, os doentes terminais e os doentes com cancro terminal. O documento inspira-se numa filosofia semelhante à do guia ético elaborado por médicos para escolher quem tem acesso aos cuidados intensivos nos hospitais, também no âmbito desta pandemia de Covid-19.

O documento para os lares de idosos tem sete páginas e foi confirmado digitalmente esta quarta-feira pelo diretor geral de Coordenação Socio-sanitária, Carlos Mur. O diário El Pais diz que nos dias anteriores os médicos tinham usado versões anteriores com os mesmos critérios. Um segundo documento, de 29 páginas, inclui detalhes para facilitar a seleção, para limitar a margem subjetiva de quem decide.

O protocolo inclui uma escala de fragilidade com nove níveis. Fica afastado dos hospitais quem tem em critério de fragilidade de sete ou maior (fragilidade grave, com dependência total) e doentes terminais (com esperança de vida inferior a seis meses). 


Perante inúmeros pedidos de ajuda de lares com surtos de Covid-19 na Comunidade de Madrid, várias fontes médicas do jornal relatam uma situação extraordinária que coloca um dilema ético perante a escassez de ventiladores.

As autoridades não conseguem fazer um balanço exato dos mortos nos lares de idosos. De acordo com a Comunidade de Madrid, em 20 por cento das residências madrilenas (total de 425, de acordo com dados do ano passado), sofreram surtos.

O protocolo pretende evitar o colapso dos hospitais e identificar aqueles idosos que podem beneficiar da hospitalização. Cada lar recebe o nome e contacto do geriatra encarregue de avaliar o seu caso. Cada vez que um idoso apresenta sintomas graves de Covid-19, os responsáveis do lar devem ligar a este “geriatra de ligação” para valorarem se a transferência é adequada.

A atual pandemia está a colocar no dia a dia questões éticas que os profissionais de saúde apenas discutiam teroricamente.
“Em momentos como este, a medicina deve escolher quem tem uma vida útil pela frente”, analisar um pneumologista de Barcelona, Ferrán Morell, convidado por El Pais a comentar o protocolo. “É verdade que se tiveres um pai num lar, gostarias que fizessem tudo para salvá-lo, mas os recursos são o que são”, desabafa.

O documento terá começado a ser elaborado depois de uma reunião a 13 de março, com o objetivo de ter um plano de ação caso o sistema sanitário colapsasse.

Um primeiro documento do Ministério da Saúde, cuja existência foi revelada pelo jornal digital El Español, foi rejeitado pelo grupo de geriatras porque a hospitalização de pessoas com deficiência foi rejeitada, segundo fontes próximas do processo consultadas pelo El Pais.

A situação nos lares de idosos em Espanha é problemática. O Exército foi chamado a desinfetar mais de 500 lares de idosos durante o estado de alarme. Só esta quarta-feira, deveriam intervir em 99 residências de idosos.

Na Catalunha, a Generalitat já teve de assumir o controlo de uma residência assistida, gerida por privados, dada a amplitude do surto de coronavírus na instituição, com 70 por cento dos profissionais de saúde infetados.
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