Líderes europeus reúnem-se em Bruxelas com esforço de guerra na Ucrânia em agenda

por Cristina Sambado - RTP
Yves Herman - Reuters

Os líderes da União Europeia reúnem-se esta quinta-feira em Bruxelas para discutir formas de aumentar radicalmente o apoio militar e financeiro à Ucrânia, num contexto de apelos aos Estados-membros para que ponham as suas economias "em pé de guerra".

Esta quinta-feira, os chefes de Estado e de governo deverão também analisar os planos controversos para confiscar milhares de milhões de euros em juros de ativos russos congelados e enviar a maior parte do dinheiro para a Ucrânia.

Um diplomata afirmou ao jornal britânico The Guardian que era necessário um novo "sentido de urgência e imediatismo" em relação à guerra na Ucrânia, depois de a retórica de Moscovo ter endurecido notavelmente nos últimos dias.

"Agora que enfrentamos a maior ameaça à segurança desde a II Guerra Mundial, é mais do que tempo de tomarmos medidas radicais e concretas para estarmos preparados para a defesa e colocarmos a economia da UE em condições de guerra", escreveu Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, numa carta enviada aos líderes europeus antes da cimeira.


Avisando que os europeus "enfrentam um momento crucial", Charles Michel frisou que a principal tarefa que os líderes da União Europeia enfrentam é "a rápida prestação de ajuda militar à Ucrânia", com base numa iniciativa recente da República Checa, que conseguiu adquirir 300 mil munições de artilharia no mercado externo em apenas três semanas.

Uma fonte acrescentou ao jornal britânico que estas armas seriam entregues "em semanas", mas que, a longo prazo, a Europa precisava de desenvolver uma política de defesa. "Nos últimos cinco a dez anos, o objetivo tem sido reduzir o orçamento da defesa. Todos os anos, mas agora isso mudou".Esta linguagem reflete uma consciência crescente de que a União Europeia deve intensificar a sua campanha para ajudar a Ucrânia a vencer a guerra e garantir a sua capacidade de defesa a longo prazo. Mas tem também como objetivo preparar o público europeu para grandes exigências financeiras em matéria de defesa, incluindo a aquisição conjunta de armas.

Esta quinta-feira, os líderes europeus debatem a ideia das obrigações de defesa, que têm sido avançadas por alguns, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, como forma de financiar um aumento do investimento na defesa.


Os países vizinhos da Ucrânia, como a Estónia, são favoráveis à utilização de obrigações de defesa, enquanto os Estados mais moderados, como a Holanda e a Finlândia, se opõem à ideia de uma dívida comum da União Europeia que deixaria os contribuintes a pagar durante décadas.

As alternativas - aumentar os impostos ou cortar nos serviços públicos para financiar a defesa - são desagradáveis para a maioria. No entanto, um diplomata levantou a possibilidade de obrigar cada país a contribuir com dois por cento do seu PIB nacional para a defesa da União Europeia. Uma medida que poderia gerar até 80 mil milhões de euros.

A outra grande - e controversa - ideia em cima da mesa é o confisco de milhares de milhões de euros em juros sobre os ativos russos, uma medida que, segundo os seus defensores, poderia gerar 27 mil milhões de euros em lucros para a Ucrânia nos próximos quatro anos.

No entanto, os diplomatas dizem que as propostas ainda estão repletas de dificuldades jurídicas.

O Kremlin afirmou na quarta-feira que tal medida seria uma "violação sem precedentes do Direito Internacional".

Segundo o Guardian, alguns membros do G7 já foram mais longe do que a União Europeia e estão a analisar a possibilidade de utilizar o capital dos ativos russos, que incluem ouro, dinheiro e obrigações, congelados nos seus países.

A principal preocupação dos líderes é a perspetiva de os tribunais internacionais ordenarem que todo o dinheiro seja devolvido à Rússia, destruindo a reputação da Europa como um porto seguro para os investidores.

"É uma proposta profundamente complexa, porque é absolutamente única e é a primeira vez que isto é feito, com todo o tipo de implicações em termos de ramificações legais, potencialmente sistémicas, em termos de riscos financeiros e económicos", sublinhou o diplomata.
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