Macron acusa Itália de "cinismo" por ter recusado navio Aquarius

por RTP
O porta-voz do Governo francês, Benjamin Griveaux, afirmou esta terça-feira que Macron não tem dúvidas de que o país com a zona costeira mais próxima de um navio à deriva tem, de acordo com a lei marítima, responsabilidade sobre o mesmo Reuters

O Presidente francês acusa o Governo italiano de “cinismo” por ter recusado o desembarque dos refugiados a bordo do navio Aquarius. Segundo Emmanuel Macron, ao abrigo do Direito Internacional a Itália tinha uma obrigação que não cumpriu.

O porta-voz do Governo francês, Benjamin Griveaux, afirmou esta terça-feira que Macron não tem dúvidas de que o país com a zona costeira mais próxima de um navio à deriva tem, de acordo com a lei marítima, responsabilidade sobre o mesmo.

“Existe um nível de cinismo e irresponsabilidade no comportamento do Governo italiano em relação a esta situação humanitária dramática”, declarou Griveaux em nome do Presidente francês.

No Aquarius encontram-se 629 pessoas, incluindo crianças e mulheres grávidas, que ainda terão de percorrer 1.500 quilómetros de mar até chegar a Espanha, que na segunda-feira se ofereceu para acolher os passageiros.

Gabriel Attal, porta-voz do partido político En Marche, fundado por Macron, também considerou inadmissível a atitude de Matteo Salvini, ministro do Interior italiano. “A postura do Governo de Itália deixa-me doente”, declarou. “É completamente inaceitável ser politicamente correto quando vidas humanas estão em jogo”.
Necessárias “soluções verdadeiras”
Num debate com a Comissão Europeia e o Conselho da União Europeia esta terça-feira, o Parlamento Europeu pediu aos líderes da UE que demonstrem vontade política e encontrem soluções verdadeiras para terminar com a crise dos refugiados, sugerindo ainda que se deve chegar a um acordo acerca do regulamento de Dublin, que define as regras para o acolhimento de quem solicita asilo dentro da União Europeia.

Segundo este acordo, o primeiro país da UE a quem é pedida ajuda em casos de acolhimento de refugiados fica com a responsabilidade de resolver a situação, sendo que a Itália não cumpriu com esta regra.

O Parlamento Europeu acredita que o próximo Conselho Europeu será fundamental para a política migratória, uma vez que alguns grupos políticos defendem a criação de novos centros de acolhimento de migrantes.
Ajuda médica urgente
Apesar dos pedidos para que os refugiados a bordo do navio Aquarius parassem no porto mais próximo para poderem descansar, a viagem até ao porto de Valência apenas deverá ser interrompida para que os migrantes sejam divididos entre três embarcações: o Aquarius e embarcações da marinha e da Guarda Costeira italianas.A bordo do navio encontram-se pessoas que engoliram água do mar, que sofreram de hipotermia e que sofrem de graves queimaduras químicas.

Os Médicos Sem Fronteiras elogiaram a atitude espanhola mas reforçam que a prioridade imediata é o desembarque dos migrantes para que possam receber a ajuda médica necessária.

“Agradecemos este gesto humanitário de Espanha, no entanto isto significa que pessoas que já estão exaustas terão de enfrentar mais quatro dias no mar, num navio com demasiada gente a bordo e sob condições climáticas desfavoráveis”, comunicaram esta terça-feira. “A melhor opção seria desembarcar no porto mais próximo e apenas depois transferir as pessoas para Espanha ou para outros países seguros”.

A organização não-governamental francesa SOS Méditerranée, que salvou os refugiados das águas da costa da Líbia no sábado, mostrou-se preocupada com o facto de o Aquarius, o maior navio de resgate do Mediterrâneo, estar bastante longe da sua área de resgate e, portanto, não estar disponível para ajudar outros migrantes.
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