Macron aprova reforma de pensões sem votação na Assembleia Nacional

por Andreia Martins - RTP
"64 ans c'est non"" (Aos 64 anos não!). Vários deputados de partidos de esquerda levaram mensagens de contestação para a Assembleia Nacional e entoaram o hino francês como forma de protesto contra a reforma das pensões, que o Governo aprovou sem votação. Pascal Rossignol - Reuters

O Presidente da República francês, Emmanuel Macron, aprovou esta quinta-feira a polémica reforma do sistema de pensões sem passar pela Assembleia Nacional. Para isso, recorreu ao artigo 49.3 da Constituição francesa, que prevê a possibilidade de aprovar leis sem que estas sejam votadas.

A decisão foi tomada minutos antes da votação na câmara baixa do Parlamento. Emmanuel Macron tentou, até ao último momento, reunir os votos suficientes para garantir a aprovação da reforma de pensões.

No entanto, sem uma maioria garantida na Assembleia Nacional, o Governo francês optou por não levar a lei à votação e forçar a aprovação através do artigo 49.3 da Constituição francesa.

Durante a manhã, a reforma foi aprovada pelo Senado, com 193 votos a favor e 113 votos contra. Para que fosse aprovada na Assembleia Nacional, seriam necessários 287 votos favoráveis, quando a coligação de apoio a Macron e ao Governo conta apenas com 250 deputados.

Sem uma maioria garantida na câmara baixa, o Presidente francês forçou a aprovação da lei através do artigo 49.3 da Constituição francesa. A decisão foi recebida com enorme contestação entre os partidos da oposição, que prometem apresentar moções de censura ao Governo nas próximas 24 horas.
José Manuel Rosendo - RTP

Com esta nova lei sobre as pensões, a idade da reforma deverá passar dos 62 para os 64 anos (ou 43 anos de descontos). Acabam também os regimes especiais para trabalhadores dos transportes, energia.

Perante uma Assembleia Nacional em ebulição, a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, assumiu a responsabilidade do governo em relação à decisão de contornar a votação e sublinhou a necessidade de aprovar o projeto de lei para garantir a sustentabilidade das pensões.

No entanto, a primeira-ministra esteve largos minutos sem conseguir falar, com vários deputados de esquerda a entoarem “A Marselhesa” como forma de protesto. 

Na Place de la Concorde, perto da Assembleia Nacional, decorre uma manifestação contra a decisão do Governo. Jean-Luc Mélenchon, do partido França Insubmissa, considera que a aprovação desta lei sem a votação na câmara baixa representa o “colapso” da atua maioria parlamentar.

Mathilde Panot, presidente do grupo parlamentar da França Insubmissa, disse esta quinta-feira que o partido deverá apresentar uma “moção de censura transpartidária”.

À direita, a líder do Reagrupamento Nacional, Marine Le Pen, anunciou que o partido irá “evidentemente apresentar uma moção de censura", mas garantiu que os deputados também vão votar favoravelmente as moções de censura de outras forças políticas.
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