Milhões de pessoas estão em risco de vida e muitas já abandonaram as suas casas no sul de Angola devido à seca agravada pelas alterações climáticas que está a devastar aquela região, alertou a Amnistia Internacional.
Esta insegurança abriu caminho para uma crise humanitária, devido à seca extrema que dura há mais de três anos e à medida que a comida e a água são mais escassas milhares de pessoas já deixaram as suas casas à procura de refúgio na vizinha Namíbia, destacou a organização, em comunicado.
"Milhões de pessoas no sul de Angola estão à beira da fome, presas entre os efeitos devastadores das mudanças climáticas e desvio de terras para a pecuária comercial", sublinhou o diretor da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, Deprose Muchena.
O responsável frisou que a pior seca em 40 anos "atingiu comunidades tradicionais que lutavam para sobreviver desde que foram desalojadas de vastas áreas de pastagem".
"O Governo angolano deve assumir a responsabilidade pelo seu próprio papel nesta terrível situação, garantir soluções às comunidades afetadas e tomar medidas imediatas para resolver a insegurança alimentar nas áreas rurais das províncias do Cunene e Huíla", atirou.
De acordo com o governo, 67% das pastagens no município de Gambos estão ocupadas por criadores comerciais de gado.
Comer folhas para sobreviver
E acrescentou que dezenas de pessoas morreram de desnutrição desde 2019, maioritariamente idosos e crianças vulneráveis, e que as pessoas estão a recorrer ao consumo de folhas para sobreviverem.
Os angolanos das províncias do Cunene e Huíla têm sido especialmente atingidos pela persistente seca, depois da época de chuva de 2020/2021 ter sido anormalmente seca, o que significa que a situação deverá piorar nos próximos meses.
Em maio de 2021, ONG's angolanas relataram que mais de sete mil angolanos, principalmente mulheres com filhos, tinham fugido para a Namíbia, e que o número ainda estava a aumentar.
Àquela data o Programa Alimentar Mundial (PAM) estimava que seis milhões de pessoas em Angola tinham alimentos insuficientes, principalmente no sul do país e que mais de 15 milhões utilizavam estratégias de sobrevivência baseadas em crises ou emergências, como economizar ou reduzir despesas não alimentares.