MNE italiano tenta mediar com Israel entrega de ajuda da flotilha a Gaza

O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, está a tentar mediar com o Governo israelita uma autorização para que a ajuda humanitária transportada pela Flotilha Global Sumud entre na Faixa de Gaza, indicaram hoje fontes ministeriais.

Lusa /

"O ministro está em contacto com o Governo israelita e identificou um mecanismo de mediação credível", segundo as fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) italiano.

"O Governo de Itália está a analisar todas as opções para evitar novas ações ofensivas contra os navios da Flotilha", acrescentaram as mesmas fontes, referindo-se ao ataque com drones sofrido durante a noite, ao largo da Grécia.

Partida no início de setembro de Barcelona, na costa nordeste de Espanha, aquela flotilha tinha já denunciado ter sido alvo de dois ataques com aeronaves não-tripuladas ao largo de Tunes.

A Flotilha Global Sumud, composta por cerca de 50 navios com ativistas, políticos, jornalistas e médicos de mais de 40 nacionalidades, incluindo a ecologista sueca Greta Thunberg e três portugueses (a deputada Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício), é considerada a maior flotilha organizada até ao momento.

Os seus navios pretendem chegar a Gaza para levar ajuda humanitária e "quebrar o cerco israelita", após duas tentativas barradas por Israel em junho e julho.

Em junho, Israel deteve no mar os navios da Flotilha da Liberdade que tentavam chegar a Gaza - segundo a organização, em águas internacionais - e deportou os seus membros, alguns dos quais após passarem por prisões israelitas.

O Governo israelita afirmou na segunda-feira que não permitiria que a flotilha chegasse a Gaza, onde está quase há dois anos em curso uma guerra, propondo-lhe atracar no porto da cidade israelita de Ascalon, a norte do enclave palestiniano, e transferir a ajuda, que afirmou se encarregaria de fazer chegar ao destino.

Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando 251.

A guerra no enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos 65.419 mortos, na maioria civis, e 167.160 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros e também espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas por mais de dois meses de bloqueio de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de alguns mantimentos, distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos famintos, tendo até agora matado 2.531 e ferido pelo menos 18.531.

Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelitas de defesa dos direitos humanos.

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