Morte de jovem afro-americano pela polícia reacende protestos em Minneapolis

por Inês Moreira Santos - RTP
Nicholas Pfosi - Reuters

Ainda não fez um ano desde que George Floyd foi assassinado durante uma detenção, mas há mais uma morte de um jovem negro a registar. Este domingo um afro-americano de 20 anos foi baleado alegadamente por um polícia, durante uma operação de trânsito num subúrbio de Minneapolis. O incidente gerou uma onda de revolta e reacendeu os protestos na cidade, levando centenas de pessoas a manifestar-se na noite de domingo e esta segunda-feira.

Daunte Wright, de 20 anos, terá sido morto a tiro por um agente policial nos arredores de Minneapolis, durante uma operação de trânsito. Momentos antes, o afro-americano tinha telefonado à mãe a dizer que estava a ser levado pela polícia, que foi chamada a intervir num incidente violento no bairro.

De acordo com a polícia de Brooklyn Center, o incidente ocorreu pouco antes das 14h00, quando um agente mandou parar o veículo de Wright devido a uma suposta infração de trânsito. As autoridades afirmaram, segundo o Guardian, que o jovem voltou a entrar no carro quando os polícias tentavam detê-lo e, para impedir a fuga, um dos agentes disparou.

"O veículo percorreu vários quarteirões antes de atingir outro veículo", afirmam as autoridades num comunicado.

Ao New York Times, o chefe do Departamento da Polícia de Brooklyn Center, Tim Gannon, confirmou que um dos seus agentes tinha baleado um homem, no domingo à tarde, após tê-lo mandado parar numa operação de trânsito e descobrir que o condutor tinha um mandado de prisão. A polícia tentou, por isso, deter Wright mas o afro-americano terá conseguido entrar de novo no carro, numa tentativa de fuga e, para impedi-lo, o agente disparou.

O carro de Daunte Wright ainda andou alguns quarteirões mas, após o condutor ter sido alvejado, despistou-se e acabou por bater noutro veículo. O jovem negro foi declarado morto, pelos paramédicos, ainda no local.

A mãe do jovem, Katie Wright, disse que ouviu os agentes a pedir ao filho para largar o telefone e um deles desligou mesmo a chamada. A namorada de Daunte, que ia também no veículo, atendeu uns minutos depois e disse-lhe que o filho tinha sido baleado.

"Ele disse-me que o mandaram parar porque tinha purificadores de ar pendurados no espelho retrovisor", disse Katie Wright à imprensa. "Então ouvi um polícia chegar à janela e dizer: 'Desligue o telefone e saia do carro'".

"Um minuto depois, liguei e a namorada dele atendeu, que era a passageira do carro, e disse-me que ele tinha levado um tiro (...), e que o meu filho estava já sem vida".

Tim Gannon não deu, contudo, nenhuma informação sobre o polícia que terá baleado Daunte Wright, nem especificou que tipo de mandado de prisão tinha contra o jovem, mas afirmou que esperava que as câmaras de video instaladas nos equipamentos policiais estivessem ligadas durante o tiroteio.

O Departamento de Assuntos Criminais do Estado do Minnesota já anunciou que vai investigar o caso do envolvimento de um polícia no tiroteio que vitimou Daunte Wright.

O incidente aconteceu em Brooklyn Center, um subúrbio de Minneapolis, perto do tribunal onde está a decorrer o julgamento do polícia acusado da morte de George Floyd, em maio passado.
Confrontos e violência levam a recolher obrigatório

Está em vigor o recolher obrigatório em Brooklyn Center devido a protestos que surgiram após a morte de Daunte Wright no domingo à tarde. Os protestos ocorreram não muito longe do local onde está a realizar-se o julgamento do caso George Floyd, obrigando as autoridades a usarem gás lacrimogéneo e granadas de choque para dispersar a multidão.

Por volta da meia-noite (6h00 em Lisboa) o autarca de Brooklin Centre, Mike Elliott, declarou recolher obrigatório até à manhã desta segunda-feira, alegando a necessidade de manter a segurança pública e considerando a morte do jovem afro-americano um "incidente trágico".

"Queremos que todos estejam a salvo. Por favor, tenham cuidado e vão para casa", disse o autarca, na mensagem em que justificava a medida de recolher obrigatório.

Elliott apelou ainda aos manifestantes para se manterem "pacíficos" e às forças de segurança a não tratarem com "violência" os manifestantes em protesto pacífico.

"Vamos garantir que será tudo feito para que se consiga fazer justiça", afirmou numa mensagem de video.

Os protestos em Brooklyn Center ocorreram horas antes de começar num tribunal a menos de 16 quilómetros de distância a 11ª sessão de julgamento de Derek Chauvin, o ex-polícia de Minneapolis que foi acusado de matar George Floyd.

A morte do jovem provocou novos protestos e a confrontos entre forças de segurança e manifestantes. Os manifestantes acenderam ainda velas e escreveram a giz mensagens no chão, como "Justiça para Daunte Wright".

Após a notícia da morte de Wright, centenas de pessoas reuniram-se em frente à esquadra em Brooklyn Center, a noroeste de Minneapolis, e as autoridades acabaram por recorrer a gás lacrimogéneo e a balas de borracha para dispersar a multidão.

Todavia, o comissário de segurança pública do Estado, John Harrington, relatou que nos confrontos foram atirados contra a esquadra da polícia "pedras e outros objetos". Em conferência de imprensa, Harrington afirmou que foram também vandalizadas várias lojas, durante os protestos e que, com receio de novas manifestações, vão ser transferidos para o local mais elementos da Guarda Nacional.

O governador do Minnesota, Tim Walz, reagiu à notícia e lamentou que "outra vida de um homem negro" tenha sido "levada pela polícia".



Ainda no rescaldo dos protestos contra a violência policial, desde a morte de George Floyd, e apenas duas semanas após o início do julgamento do polícia que o assassinou, Minneapolis volta a ser palco de manifestações antirracistas.

Durante os confrontos da noite de domingo, o gás lacrimogéneo lançado pelas autoridades atingiu vários prédios e habitações do outro lado da rua, onde vivem várias famílias que afirmam estar perturbadas com os novos conflitos.

"Tivemos qude fechar as portas porque estava tudo a chegar a minha casa", disse Tasha Nethercutt ao NYT, acrescentando que tinha quatro filhos a assistir aos confrontos, incluindo uma criança de dois anos.

Também Kimberly Lovett, administradora de um dos condomínios do local, disse que os moradores estão cansados de confrontos e "violência da polícia".

"Há crianças em todos estes edifícios", afirmou. "Estamos fartos que a polícia mate, frequentemente, jovens negros".

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