Nobel da Paz entre os prisioneiros libertados pela Bielorrússia após acordo com os EUA

O ativista bielorrusso Ales Bialiatsk, um dos laureados com o Prémio Nobel da Paz em 2022, foi um dos 123 ativistas libertados por ordem do presidente Alexander Lukashenko, após um acordo com os Estados Unidos.

Andreia Martins - RTP /
Ales Bialiatski, prisioneiro político libertado pela Bielorrússia, surgiu em público este sábado junto à Embaixada norte-americana em Vilnius, na Lituânia. Foto: Gonzalo Fuentes - Reuters

De acordo com organizações de Direitos Humanos, os 123 prisioneiros foram libertados em troca do levantamento de sanções norte-americanas contra a Bielorrússia. 

De acordo com a conta Poul Pervogo, afiliada à presidência bielorrussa na plataforma Telegram, o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, perdoou "123 cidadãos de diferentes países" após conversações com os Estados Unidos, que anunciaram hoje o levantamento de algumas sanções comerciais contra a Bielorrússia, nomeadamente ao setor do potássio.

O enviado especial dos EUA para a Bielorrússia, John Coale reuniu-se na sexta-feira e hoje com Alexander Lukashenko para conversações na capital bielorrussa, Minsk.

Lukashenko governa a Bielorrússia desde 1994, sendo o primeiro e até hoje o único presidente do país. Tem sido repetidamente sancionado não só devido à repressão política de opositores, mas também pela relação próxima com Moscovo, sobretudo por ter permitido a utilização do seu território na invasão da Ucrânia, em 2022.

No entanto, Minsk está à procura de melhorar as relações com Washington e já tinha libertado centenas de prisioneiros desde julho de 2024. 

Em declarações à agência Reuters, o enviado especial dos Estados Unidos para a Bielorrússia, John Coale, indicou que os cerca de 1.000 prisioneiros políticos que continuam detidos na Bielorrússia poderão ser libertados num grande grupo no decorrer dos próximos meses. 

"Acho mais do que possível que alcancemos isso, acho provável. Estamos no bom caminho, o ímpeto está aí", considerou.  

Acrescentou ainda que, sem qualquer prisioneiro político no país, grande parte das sanções poderia ser suspensa. "Penso que é uma troca justa", acrescentou o enviado norte-americano. 
Quem são os ativistas libertados?

Ales Bialiatski, de 63 anos, foi um dos ativistas libertados. Tornou-se um símbolo da resistência ao regime autoritário de Lukashenko ao receber o Prémio Nobel da Paz em 2022, numa altura em que já se encontrava detido. 

Bialiatski tinha sido detido em 2021 e dois anos depois foi condenado a dez anos de prisão por alegado contrabando relacionado com o financiamento da Viasna, uma organização de Direitos Humanos da qual é fundador.

O ativista negou todas as acusações, insistindo que tinham motivações políticas.

A ativista Maria Kalesnikav, de 43 anos, foi também libertada após as negociações com os Estados Unidos. Destacou-se em 2020 nos protestos nas ruas aquando a última reeleição de Alexander Lukashenko. 

Em setembro desse ano, foi colocada à força numa carrinha, levada até à fronteira com a Ucrânia e ameaçada de expulsão "viva ou em pedaços". A ativista respondeu ao rasgar o passaporte para impedir a tentativa de deportação. 

Em 2021, Maria Kalesnikav foi condenada a 11 anos de prisão numa colónia penal devido a "atividade extremista" e "conspiração para tomar o poder". Foi ainda incluída numa lsita de "pessoas envolvidas em atividades terroristas".

Viktar Babaryka, de 62 anos, é um ex-banqueiro que foi detido sob acusação de "corrupção" meses antes da eleição presidencial de 2020, após ter tentado concorrer contra Lukashenko.

Maxim Znak, de 44 anos, fazia parte da campanha de Viktar Babaryka, foi condenado em 2021 a dez anos de prisão por "atividades extremistas" e "conspiração para tomar o poder". Tal como Maria Kalesnikav, foi posteriormente adicionado a uma lista de "terroristas" pelos serviços de segurança.

Maryna Zolatava, de 48 anos, era a editora-chefe do site independente tut.by e foi detida em maio de 2021. Dois anos depois, foi condenada a 12 anos numa colónia penal por incitamento ao ódio e a ações que visavam prejudicar a segurança nacional.

Uladzimir Labkovich, advogado de 47 anos, foi detido em 2021 e julgado com Bialiatski. Em 2023 foi condenado a sete anos numa colónia penal. 

(com agências)
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