O Europa Minha esteve num comício da extrema-direita italiana. E conta como foi.

Salvini chega de camisola desportiva com “Itália” escrito ao peito. Num comício em Florença, o líder da extrema-direita falou sobre segurança, trabalho e a "revolução do bom senso".

Passa pouco das dez da manhã de Domingo e troveja em Florença. É dia 5 de maio e o comício da Liga, um partido de extrema-direita italiano, chega à cidade toscana.

É no subúrbio de Galuzzo, a trinta minutos do centro, que se ajeitam bandeiras com “Salvini” num fundo azul. Cartazes mostram o sorriso do líder de punho em riste. “L’Italia, Rialza La Testa”, lê-se em amarelo. Itália levanta a cabeça.

O encontro era para ter lugar na Piazza don Pietro Puliti mas a chuva obrigou a organização a recolher para um local coberto e, no meio dos primeiros apoiantes, montar um palco improvisado.


O burburinho aumenta com a chegada dos apoiantes, e dos imperveáveis às cores que trazem ainda molhados. No público, homens e mulheres de todas as idades olham para o telemóvel, conversam, aguardam a chegada do candidato. Uma criança dorme ao colo. O mau tempo e a tradição de esquerda da região não dão a Salvini a afluência que costuma ter, mas a sala vai enchendo.

“Matteo chega daqui a 20 minutos”, anunciam. É preciso aproveitar o tempo, explica um dos porta-vozes, e ir apresentado a lista dos candidatos por Florença.

Manuela, uma das candidatas locais, explica ao Europa Minha o que a leva a apoiar a Liga. “Itália precisa de uma mudança”. Quer que uma aliança com outros países forme “uma força antagonista” a “esta Europa que estrangulou”. E enumera: "Itália, Portugal, Grécia, Espanha…"

Matteo Salvini está entre os protagonistas destas eleições europeias, empenhado em criar uma aliança de nacionalistas que pode vir a ser a terceira força política no Parlamento Europeu.

A Liga está em primeiro nas sondagens italianas. Prevê-se que o partido eleja 26 dos 73 eurodeputados que Itália tem no Parlamento Europeu. A concretizar, o resultado daria margem para a criação de um grupo político de partidos nacionalistas.



Chega de camisola desportiva, com “Itália” escrito ao peito. Matteo Salvini é também vice-primeiro-ministro e ministro do Interior na coligação com o Movimento 5 Estrelas.

Lê, de telemóvel na mão, os números que diz espelharem o seu trabalho. “Homicídios voluntários, menos 12%. Tentativas de homicídio, menos 16%. Lesões corporais, menos 21%. Violência sexual, menos 32%.” Resultados possíveis graças às “forças de segurança extraordinárias”, elogia.

O discurso sobre a segurança anima os espetadores. Delia, também candidata local, apoia o trabalho que tem sido feito. “Há anos que a Liga luta para ajudar o povo, os cidadãos, a viverem de forma mais serena, tranquila”.

Mas do outro lado da rua a opinião muda. De guarda-chuva na mão os opositores à Liga protestam. Anna não quer “um fascista a veicular as suas ideias” em Florença. “Que fique na casa dele”.

Também Francesco, de cartaz em riste, é contra as políticas da direita radical italiana. “Fazer recair os males de Itália sobre os mais frágeis é uma velhacaria!”. Uma cilada, explica.

A retórica populista de “anti” tem valido a Salvini um apoio crescente. É anti-imigração, anti-Islão, anti-euro. Em pouco mais de um ano de governação, a Liga cresceu em popularidade e ultrapassou o Movimento 5 Estrelas. Venceu seis eleições regionais sucessivas.

É a favor de uma Europa com nações fortes, com fronteiras fechadas. Ideias próximas das de Viktor Orbán, o vizinho húngaro com quem Salvini mantém uma boa relação.

“Trabalho e segurança, controlo das fronteiras, como nós tão bem fizemos em Itália”, diz o Ministro do Interior, questionado pela RTP sobre as prioridades para a Europa.

Mas, acima de tudo, “fazer a revolução do bom senso”. Acabar com “todas as regras que estes burocratas criaram para enganar Itália e os italianos”. O apoio ressoa pela sala. Aqui, em Galuzzo, os apoiantes de Salvini sentem-se enganados pela Europa.