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O mundo em casa

por Filipe Vasconcelos Romão, comentador de Política Internacional da RTP
Filipe Vasconcelos Romão, comentador de Política Internacional da RTP DR

Donald Trump é um presidente caótico e pouco competente, que foi cortando todos os laços (demitindo) com membros da administração e assessores que pudessem fazer-lhe frente contrariando as suas ideias pré-definidas. No entanto, mesmo num quadro de adversidade como o que estamos a viver, é um candidato presidencial muito eficiente.

Em 2016, apesar da confusão reinante na sua candidatura, alguma intuição e outros tantos erros na campanha adversária permitiram-lhe conquistar o colégio eleitoral e chegar à presidência. Essa eleição comprovou que um discurso nacionalista e protecionista, sem aspirações à moderação, poderia vingar e chegar a entrar nalgumas franjas do eleitorado democrata.

Nos anos 90, as eleições pareciam ganhar-se ao centro. Os democratas com Bill Clinton, os trabalhistas com Tony Blair ou os socialistas com António Guterres venceram eleições com programas centristas que seduziram eleitores que tinham votado antes em partidos de direita. Os tempos agora são outros. A estratégia de Donald Trump assenta na tensão e na mobilização permanentes do eleitorado mais fiel, com recurso a um discurso violento que não visa qualquer consenso.

O colapso económico veio acentuar esta estratégia. O candidato republicano fará os impossíveis para retirar a economia das primeiras páginas dos jornais e das redes sociais, recorrendo às suas já tradicionais mensagens simplificadas e chocantes. A comunicação social não terá outra opção que não seja deixar-se arrastar: o presidente dos Estados Unidos continua a ser o presidente dos Estados Unidos e a sua cacofonia gera audiências e ruído.

Até à chegada da Covid-19, Trump pretendia que a sua presidência fosse julgada pela evolução de uma economia que deixara plenamente nas mãos do livre-mercado (interno), graças às enormes descidas de impostos que promoveu e à rejeição de incentivos e programas sociais que vinham da administração anterior.

A epidemia trocou as voltas a esta estratégia e o que aí vem não será agradável de ver. Em 2016, os líderes republicanos davam como certa a derrota e concentraram os seus esforços na preparação do pós-Trump. Agora, o partido está rendido a uma candidatura com sérias hipóteses de vencer e o presidente contará com toda a artilharia política, mediática e económica do conservadorismo norte-americano.

Joe Biden, o candidato a quem compete fazer a quadratura do círculo no Partido Democrático, estará na linha da frente. Com menos dinheiro, sem a projecção mediática do poder e confinado à sua residência pela pandemia, o vice-presidente de Barack Obama para vencer terá que agregar tudo e todos os que se oponham a Trump desde a ala esquerda do seu partido ao capitalismo que contesta as guerras comerciais dos últimos anos.

Será uma guerra sem quartel, num país devastado pela pandemia, protagonizada por um presidente pouco popular, mas que sabe que se mobilizar os seus “40%” terá a tarefa muito facilitada perante uma oposição que terá de mobilizar mais gente, com menos recursos e com uma base menos coesa.

Sugestão

Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, é uma figura esfíngica, sem discurso político autónomo (ao contrário de outros vice-presidentes como Dick Cheney ou Joe Biden) e muito fiel ao presidente. No artigo “Inside the Trump-Pence partnership”, o site da CNN lança algumas luzes sobre a sua relação com Trump.

Nota: o autor escreve respeitando a ortografia pré-acordo ortográfico.
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