Otto Skorzeny, operacional das SS e agente da Mossad israelita

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Otto Skorzeny é cumprimentado por Hitler após o sucesso da operação que permitiu libertar Mussolini DR

Otto Skorzeny foi um dos expoentes militares entre os soldados de Hitler. Das mãos do Führer recebeu a Cruz de Ferro, após liderar o comando que libertou Benito Mussolini nos Alpes. Mas o tenente-coronel das Waffen-SS não se reformou com o fim da Segunda Guerra Mundial. Nem se reformou, nem foi condenado nos julgamentos dos tribunais aliados. Refugiou-se em Espanha sob as asas de Francisco Franco e, sabe-se agora, foi recrutado para trabalhar para a Mossad, os serviços secretos israelitas. O que o fazia correr? Nem convicções nem honra. De acordo com biógrafos recentes: a adrenalina.

Otto Skorzeny era austríaco de nascença, proveniente de uma família distinta mas na miséria. Em 1931 alistou-se no equivalente, no seu país, ao que era o partido nazi na Alemanha. Mais tarde tornar-se-ia no “oficial preferido de Adolf Hitler”, afirma Dan Raviv, correspondente da CBS que em conjunto com Yossi Melman, autor e jornalista israelita, desvenda agora o seu passado pós-II Guerra como agente da Mossad, os serviços de informações israelitas.

Em 1939, quando rebenta a guerra, Skorzeny alista-se nas SS, integrando a Leibstandarte, unidade que constituiria o corpo de guarda-costas do Führer. A partir daí foi sempre a subir.

O austríaco de 1,93 m, com uma cicatriz que dramaticamente lhe rasgava a face esquerda, cedo começou a distinguir-se pela ousadia, firmando a sua carreira como comando. Em 1943, o resgate do líder italiano Benito Mussolini, aprisionado pelos aliados no Hotel Campo Imperatore, numa estação de esqui nos Apeninos, valeu-lhe a promoção a tenente-coronel e o título de “homem mais perigoso da Europa”. Foi o próprio Führer quem lhe colocou ao peito a Cruz de Ferro.
Glória pós-guerra
Após o final da guerra, Otto Skorzeny foi julgado pelos aliados por usar uniforme norte-americano numa operação durante a Batalha das Ardenas - derradeira tentativa alemã de lançar em 1944 uma contra-ofensiva a partir da Bélgica. O uso do uniforme do inimigo era punível com pena de morte, mas Skorzeny escapa a essa sentença e foge um ano depois, ajudado por antigos companheiros das SS que se infiltraram na prisão vestidos com uniformes roubados aos americanos.

Foi na Espanha de Francisco Franco que encontrou refúgio. E onde morreria em 1975. Mas antes a sua vida de aventureiro teve ainda vários fôlegos. Terá ajudado nazis a passar para Espanha e para a América do Sul durante os anos 50 e 60 e envolveu-se nos esforços do Egipto para construir um arsenal capaz de ameaçar Israel. Diz-se que nesse país chegou a treinar comandos egípcios e palestinianos, entre estes o próprio Yasser Arafat, futuro líder da OLP (Organização de Libertação da Palestina).

Nesses anos, os israelitas perdiam noites de sono face à possibilidade de cientistas da Alemanha nazi poderem vir a ajudar o Cairo a obter armas que seriam letais para o recém-formado Estado de Israel. Sabendo que o antigo SS estava envolvido com os cientistas, Telavive confrontou-se com duas possibilidades absolutamente contrárias: matá-lo ou recrutá-lo.

De acordo com Dan Raviv, em 1962 os israelitas escolheram a segunda opção. Em troca, Skorzeny não quis dinheiro, apenas ser retirado da lista negra dos israelitas que ainda perseguiam os responsáveis pelo Holocausto de milhões de vidas judias. Simon Wiesenthal, o mais famoso dos caçadores nazis, recusou as condições do antigo oficial SS, mas a Mossad forjou uma carta com a sua assinatura. O negócio estava assente.
Sem bússola moral
Convidado a ir a Israel, Otto Skorzeny teria nova oportunidade para mostrar a firmeza do seu carácter, mesmo que se tratasse de um carácter duvidoso. Os israelitas procuraram influenciá-lo, levando-o numa visita ao Yad Vashem, o famoso museu e memorial do Holocausto. Skorzeny não mostra o mínimo sinal de remorso. Os serviços secretos concluem que terão de trabalhar com um homem que não possui qualquer bússola moral.

Mas essa característica não impede Otto Skorzeny de desempenhar as suas novas funções ao serviço da Mossad com entusiamo. Nos meses seguintes forneceu pistas fundamentais para atacar a equipa de cientistas alemães ao serviço do Cairo e terá enviado pelo menos uma das cartas-bomba que eliminaram cientistas daquela equipa. Diz-se ainda que Skorzeny é o responsável pela morte de um dos cientistas alemães que trabalhavam para os egípcios.

Heinz Krug deslocava-se frequentemente ao Cairo. A 11 de Setembro de 1962 estava no seu gabinete, em Munique, quando desapareceu para sempre. O caso deixou a polícia alemã às escuras durante décadas. Sabe-se agora, de acordo com a investigação de Dan Raviv e Yossi Melman, que foi o ex-SS quem eliminou o cientista - uma mudança de agulha e uma entrega que ainda hoje surpreende os analistas israelitas que entram nos ficheiros de Otto Skorzeny.

Dan Raviv avança com uma explicação: “Penso que ele via aquilo como uma aventura e a Mossad era a melhor no ramo. Ele devia ter prazer ao trabalhar com eles”. O mesmo prazer que o terá levado, em dado momento, a ajudar antigos companheiros nazis a procurar refúgio em países sul-americanos e, depois, a ajudar a eliminar esses mesmos companheiros nos mesmos países da América do Sul. Odessa era o nome da organização que estava incumbida de proteger (antigos) nazis e Skorzeny fazia parte da sua direcção.

Otto Skorzeny morreu em Madrid no ano de 1975, tinha 67 anos. Durante as cerimónias fúnebres, na capital espanhola e em Viena, antigos camaradas das SS celebraram-no com a saudação nazi. Entre as pessoas que se deslocaram à Áustria para o funeral encontrava-se Yosef Raanan, o seu elo de ligação na Mossad e um judeu que tinha perdido grande parte da família nos campos nazis.
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