Participante em golpe de 2003 em São Tomé lamenta "falta de interesse" da Justiça

por Lusa

Um dos participantes no golpe militar de 2003 em São Tomé e Príncipe acusou hoje o Ministério Público de "falta de interesse" na investigação sobre acusações de que o ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada mandou assassinar três figuras do Estado.

"Para mim, essa gente da Procuradoria-Geral da República não tem moral. Eu já fiz a acusação, eles que procurem o homem [Patrice Trovoada], chamem-nos e vamos esclarecer isto", disse Plácido `Peter` Lopes, ex-soldado do extinto Batalhão Búfalo (do exército sul-africano), em entrevista à Lusa na capital são-tomense.

Em agosto de 2017, num vídeo colocado na sua página na rede social Facebook, entre várias acusações, `Peter` Lopes apontou Patrice Trovoada como sendo o financiador do golpe de Estado em 2003 em São Tomé, altura em que, disse, este deu ordens para assassinar três figuras do Estado são-tomense, designadamente o ex-Presidente Manuel Pinto da Costa, o então chefe de Estado Fradique de Menezes e o então ministro da Defesa, Óscar Sousa.

"Eu mandei uma carta à Procuradoria-Geral da República. Por que é que não me responderam? Como sabem que eu ia dizer verdades que iriam mexer com muita gente, o Ministério Público simplesmente rasgou a minha carta", acusou hoje, reafirmando a sua disponibilidade para ser ouvido pela Justiça são-tomense.

Contactado pela Lusa, o procurador-geral da República, Kelve Nobre de Carvalho, afirmou que o Ministério Público não tinha forma de abrir um processo, uma vez que, pouco depois dos acontecimentos, Fradique de Menezes "concedeu um indulto presidencial a todos os envolvidos", que foi publicado em Diário da República.

"O indulto constitui uma das causas da extinção da ilicitude. Não é possível falar de um possível procedimento criminal", disse o procurador-geral.

`Peter` Lopes, que reside na África do Sul, sublinhou que já fez "o que tinha de ser feito".

Em tribunal, prosseguiu, poderia provar que "Patrice Trovoada deu ordens" para assassinar Pinto da Costa, Fradique de Menezes e Óscar Sousa, afirmando não "precisar de advogado".

"Todo o mundo sabe que o senhor Patrice Trovoada estava bastante envolvido no golpe de Estado de 2003. A intenção dele era matar aquelas figuras, mas não era essa a nossa intenção, porque nós somos são-tomenses", disse, recordando que "houve golpe, mas não houve sangue", o que `Peter` Lopes explica com os laços familiares que ligam os são-tomenses (uma população com cerca de 200 mil pessoas).

"Embora tenhamos feito a nossa vida militar lá fora, numa unidade especial [da África do Sul], nós continuamos com aquela cultura de são-tomense, somos filhos são-tomenses, nascemos aqui e jogámos futebol aqui", referiu.

Alguns dias depois de ter feito o vídeo, `Peter` Lopes relatou que o Governo são-tomense, então liderado por Patrice Trovoada, mandou uma carta às autoridades da África do Sul para averiguarem a veracidade do vídeo.

"Fui chamado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-africano, pela Interpol, pela inteligência sul-africana, e numa reunião eu assumi claramente que fui eu que fiz o vídeo. Depois mandaram-me embora, viram que eu simplesmente falei a verdade ao povo, que eu queria que soubesse dessa verdade", disse.

Durante a sua deslocação a São Tomé e Príncipe, `Peter` Lopes reuniu-se esta quarta-feira com o primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, e com o ministro da Defesa, Óscar Sousa.

Segundo o próprio, esta visita pretendeu avaliar possibilidades de investimento de empresários sul-africanos em áreas como o turismo, aviação, agricultura e banca em São Tomé e Príncipe.

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