Polícia francesa esvazia mais um campo de migrantes em Paris a 3 meses das olimpíadas

por Lusa

A polícia francesa expulsou hoje um grupo de migrantes de um acampamento improvisado em Paris, perto do rio Sena, a mais recente operação que grupos humanitários alegam ser uma campanha de "limpeza social" antes dos Jogos Olímpicos.

Antes de amanhecer, cerca de 30 adolescentes e jovens da África Ocidental, a maioria menores de idade e a tentar obter documentos de residência em França, foram acordados pela polícia e instados a arrumar as suas tendas e pertences.

"Já estava assustado, mas estou ainda mais assustado porque não sei para onde ir", disse Boubacar Traoré, de 16 anos, acrescentando que fugiu do conflito no Burkina Faso, tendo chegado a França há dois meses.

Este tipo de despejos e evacuações de acampamentos de migrantes acontecem todas as Primaveras, após o fim de uma "trégua" de inverno, durante a qual as autoridades francesas suspendem estas ações.

Contudo, os grupos de ajuda que trabalham com migrantes e pessoas vulneráveis na região de Paris dizem que estas ações estão a intensificar-se antes dos Jogos Olímpicos de Paris, marcados para entre julho e agosto de 2024.

As organizações observam que as pessoas expulsas estão a ser enviadas para longe da capital, em vez de lhes ser oferecido abrigo na região parisiense, onde muitos requerentes de asilo têm datas de julgamento marcadas.

"As autoridades querem ter um sítio limpo para os Jogos Olímpicos", afirmou Elias Hufnagel, um voluntário do grupo que apoia os refugiados e imigrantes do acampamento de Paris, acrescentando que as autoridades "não querem que os turistas vejam Paris como uma cidade cheia de migrantes e requerentes de asilo".

Já a polícia de Paris disse que a operação foi efetuada por razões de segurança, nomeadamente porque o acampamento estava perto de escolas.

As autoridades propuseram que os jovens desalojados se deslocassem para Besançon, 400 quilómetros a sudeste de Paris, em dois autocarros, oferecendo-lhes alojamento durante três semanas, mas a maioria não quis aceitar a oferta, receando ficar ainda mais isolada e sem qualquer plano depois de esgotadas as três semanas.

Boubacar Traoré foi um dos jovens que se recusou a viajar, por estar à espera de uma audiência em Paris dentro de dois dias, embora não saiba onde irá dormir na noite de terça-feira.

Esta operação ocorreu dias depois da polícia francesa ter efetuado um despejo em grande escala no maior alojamento ilegal do país, num antigo edifício de escritórios da cidade de Vitry, a sul de Paris, que desalojou pelo menos 400 imigrantes, em 17 de abril.

A ocupação de Vitry, que se encontrava num edifício abandonado há anos e ocupado desde maio de 2021, duplicou a sua população devido à expulsão de imigrantes de outras ocupações e ao encerramento de numerosos abrigos para pessoas em situação precária em Paris.

O coletivo "O reverso da medalha", que reúne 80 organizações não-governamentais (ONGs) que se opõem aos impactos negativos dos Jogos Olímpicos, denuncia há meses "uma limpeza social" de Paris e dos seus arredores para esconder "a miséria, a mendicidade e a solidariedade".

Em 2023, as autoridades francesas evacuaram a antiga sede de uma empresa especializada em betão em Île-Saint-Denis, perto da futura aldeia dos atletas olímpicos em Paris, onde viviam 500 imigrantes, e outras 150 pessoas foram despejadas de um local abandonado em Thiais, a sul da capital francesa.

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