Polícia italiana faz apreensão histórica de anfetaminas do Estado Islâmico

por RTP
EPA

A polícia italiana anunciou ter apreendido 14 toneladas de anfetaminas em Nápoles, esta quarta-feira. O material, sob a forma de 84 milhões de comprimidos, terá sido produzido na Síria pelo Estado Islâmico e está avaliado em mil milhões de euros (quase 1,2 mil milhões de dólares).

Trata-se da "maior apreensão de anfetaminas do mundo", com a descoberta de 14 toneladas desta droga na forma de 84 milhões de comprimidos, segundo informaram as autoridades italianas.

A apreensão dos comprimidos de Captagon, feita em navios no porto de Salerno, no sul de Nápoles, tem o valor de mil milhões de euros no mercado e a investigação leva a crer que o material foi produzido pelo grupo extremista do ISIS, na Síria, para contrabando com a máfia italiana.

"É a maior apreensão já feita de anfetaminas até hoje", disse à Reuters Domenico Napolitano, chefe da polícia tributária italiana, que apreendeu os comprimidos.

A droga estava escondida em três recipientes suspeitos, contendo cilindros de papel para uso industrial e rodas de metal, avançou Ministério Público de Nápoles que está a coordenar a investigação.

Cada cilindro de papel, com cerca de dois metros de altura e 1,40 de diâmetro (provavelmente fabricado na Alemanha), escondia cerca de 350 quilogramas de comprimidos impossíveis de serem detetados por um ‘scanner’, estando também as rodas de metal cheias de comprimidos.
"Droga dos jihadistas" vendida à máfia italiana
De acordo com um comunicado da polícia italiana, as embalagens onde foram encontrados os comprimidos tinham carimbado o logótipo Captagon - nome conhecido por se referir à "droga dos jihadistas" devido ao alegado consumo do grupo extremista. Produzida no Líbano e distribuída na Arábia Saudita nos anos 90, esta droga foi encontrada nos esconderijos de vários terroristas, como os responsáveis ​​pelos ataques de Paris em 2015, nomeadamente à sala de concertos Bataclan.

"De acordo com a DEA [departamento norte-americano que investiga o tráfico de drogas], o ISIS faz amplo uso desses medicamentos em todos os territórios sobre os quais exerce influência e controla a sua venda", esclareceu a polícia italiana.

Utilizado na década de 1960 para tratar narcolepsia e depressão, o Captagon é um dos vários nomes para o cloridrato de fenetilina, um composto de drogas pertencente à família das anfetaminas, com uma mistura de cafeína, que pode funcionar com estimulante e como inibidor da dor, do cansaço e até do medo.

"Sabemos que o Estado Islâmico financia as suas próprias atividades terroristas através, sobretudo, do tráfico de drogas sintéticas produzidas na Síria, que se tornou, nos últimos anos, no maior produtor mundial de anfetaminas", lê-se no comunicado.

Este tipo de anfetaminas é muito comum no Medio Oriente, principalmente nas regiões devastadas pela guerra, como a Síria, onde os conflitos aumentam a procura destas substâncias e, consequentemente, potenciam oportunidades para os produtores.

Segundo a investigação que está a decorrer em Nápoles, o Estado Islâmico, possívelmente, também produz grandes quantidades de drogas sintéticas para vender nos mercados globais e, o material encontrado esta quarta-feira, destinaria-se à distribuição na Europa por vários grupos do crime organizado.

"A hipótese é que durante o confinamento, devido à emergência epidemiológica global, a produção e distribuição de drogas sintéticas na Europa praticamente parou e, por isso, muitos traficantes de diferentes grupos de crime organizado recorreram à Síria, onde parece não ter diminuído a produção", disse ainda polícia italiana.

Os investigadores acreditam que existe um "consórcio" de grupos criminosos já que os 84 milhões de comprimidos podem satisfazer o mercado europeu e uma das hipóteses em investigação é que o crime tenha partido de um "cartel" de clãs da Camorra (máfia napolitana).

"É possível que os grupos criminosos locais de Camorra estejam envolvidos neste negócio", disse o tenente-coronel Giordano Natale, à Reuters.

De facto, há duas semanas, a mesma unidade de investigação de Nápoles, especializada em crime organizado, intercetou um contentor de roupas de contrafação que escondiam 2800 quilogramas de haxixe e 190 quilogramas de anfetaminas na forma de mais de um milhão de comprimidos com o carimbo Captagon, o que ajuda a fomentar as suspeitas de estas substâncias estarem a ser distribuídas na Europa.
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