Rússia anuncia teste bem sucedido de míssil de cruzeiro com propulsão nuclear

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no sábado o sucesso do teste final de um míssil de cruzeiro com propulsão nuclear, elogiando esta arma “única” com um alcance de até 14 mil quilómetros, em resposta ao escudo antimísseis dos EUA. O anúncio surgiu antes de um ataque com drones de Moscovo a Kiev que provocou três mortos e perto de 30 feridos.

Cristina Sambado - RTP /
Putin dirigiu esta semana manobras das forças nucleares russas por terra, mar e ar Russian Presidential Press Office via EPA

“Os testes decisivos estão agora concluídos”, disse Putin num vídeo divulgado pelo Kremlin, durante uma reunião com responsáveis militares, ordenando que se comecem a “preparar as infraestruturas para colocar esta arma ao serviço nas forças armadas” russas.

Segundo garantiu, o Burevestnik (pássaro da tempestade em russo) tem um “alcance ilimitado” e “é uma criação única que mais ninguém no mundo possui”.Durante o último teste, em 21 de outubro, o míssil Burevestnik permaneceu no ar “cerca de 15 horas”, sobrevoando 14 mil quilómetros, precisou o chefe do Estado-Maior russo, Valéri Guérasimov, acrescentando que “este não é um limite” para este armamento.

“As características técnicas do Burevestnik permitem utilizá-lo com precisão garantida contra locais altamente protegidos situados a qualquer distância”, acrescentou.

Vladimir Putin anunciou em 2018 o desenvolvimento pelo exército russo destes mísseis, capazes, segundo ele, de superar praticamente todos os sistemas de interceção.

Segundo Guérasimov, “durante o seu voo, o míssil completou todas as manobras verticais e horizontais”, demonstrando assim “as suas grandes possibilidades na hora de eludir os sistemas antiaéreos e antimísseis”.
Putin destacou que se trata de “uma peça de armamento única que mais ninguém tem no mundo” e lembrou que especialistas do mais alto nível previram que tal projeto era “irrealizável”.

"E agora concluímos os testes finais", afirmou orgulhosamente, acrescentando ser preciso construir a infraestrutura necessária para a sua implantação e colocá-lo ao serviço das Forças Armadas, para o que ainda há “muito trabalho pela frente”. O 9M730 Burevestnik é um míssil de cruzeiro a baixa altitude lançado do solo que não só é capaz de transportar uma ogiva nuclear, como também é movido a energia nuclear. A NATO refere-se a ele como SSC-X-9 Skyfall.

Putin anunciou pela primeira vez em outubro de 2023 um teste bem-sucedido com o Burevestnik, um míssil envolto em controvérsia devido aos numerosos testes falhados realizados no final da década passada.

A Rússia decidiu avançar com o desenvolvimento desses mísseis quando os EUA abandonaram, em 2001, o tratado antimísseis, assinado por Moscovo e Washington em plena Guerra Fria (1972), para criar o seu próprio escudo antimísseis.

Putin dirigiu esta semana manobras das forças nucleares russas por terra, mar e ar, logo após o cancelamento da cimeira de Budapeste com o seu homólogo dos EUA, Donald Trump, devido à recusa de Moscovo em cessar as hostilidades na Ucrânia.Três mortos em Kiev na sequência de ataque russo
Um ataque com drones russos em Kiev causou pelo menos três mortos e perto de trinta feridos, incluindo seis crianças, anunciou este domingo o presidente da câmara da capital ucraniana.

"De acordo com as primeiras informações, três pessoas morreram e 27 ficaram feridas" no bairro de Desnianskyi, em Kiev, escreveu Vitali Klitschko na plataforma de mensagens Telegram.O ataque também causou danos materiais e incêndios em vários apartamentos. No bairro de Obolonskyi, destroços de drones caíram sobre um prédio de 16 andares, ainda de acordo com o presidente da câmara de Kiev.

O ataque ocorre um dia depois de outros ataques russos na Ucrânia terem causado quatro mortos e cerca de 20 feridos.

Já o presidente ucraniano voltou a pedir novas sanções contra a Rússia e os seus aliados.


"Cada ataque russo é uma tentativa de infligir o máximo de danos possível à vida quotidiana. É claro que são necessárias restrições tarifárias e sanções adicionais contra a Rússia e todos aqueles que a ajudam a manter-se", escreveu Zelensky no Telegram.

Kiev e a região circundante estiveram sob alerta de ataque aéreo durante cerca de uma hora e meia antes de a Força Aérea os suspender.Oficiais militares ucranianos disseram no Telegram que a Rússia lançou 101 drones contra a Ucrânia durante a noite, 90 dos quais foram abatidos.

Zelensky garantiu que a Rússia utilizou quase 1.200 drones de ataque, mais de 1.360 bombas aéreas guiadas e mais de 50 mísseis de diferentes tipos contra a Ucrânia nos últimos sete diasTrump afirma que “não vai perder tempo" com Putin
Na frente diplomática, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou, no sábado, que não ia "perder tempo" a marcar um novo encontro com o homólogo russo, Vladimir Putin, sem um acordo à vista para pôr fim ao conflito na Ucrânia.

"Não vou perder o meu tempo. Sempre tive uma excelente relação com Vladimir Putin, mas isto foi muito dececionante", acrescentou, referindo-se às tentativas de resolver o conflito entre Moscovo e Kiev.
O enviado do Kremlin para questões económicas, Kirill Dmitriev, encontra-se desde sexta-feira nos Estados Unidos para conversações com responsáveis da Administração Trump.

Segundo a imprensa norte-americana, Dmitriev reuniu-se no sábado, na Florida (sudeste), com Steve Witkoff, um dos emissários de Donald Trump, e deverá continuar as conversações com membros do Governo dos EUA, de acordo com uma fonte próxima das negociações.

c/ agências 
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