Rússia envia 28 caças para a Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Equipa de acrobacia aérea russa Strizhi ('os Velozes') com aviões de caça Mig-29 durante um festival aéreo nos arredores de Moscovo a 30 de agosto de 2015 Maxim Zmeyev - Reuters

Moscovo enviou para a Síria 28 aviões de combate, afirmaram responsáveis norte-americanos à agência France Presse. Ao responsável pela Defesa dos EUA o Governo russo garante que o reforço recente da sua presença militar na Síria tem uma "natureza defensiva".

Os aviões "russos de caça e de ataque ao solo foram estacionados num terreno de aviação perto de Latakia", um bastião do Presidente sírio Bashar al-Assad, precisou a mesma fonte.

Nas últimas semanas Washington denunciou o aumento da presença armada russa na Síria, incuindo tropas especiais no terreno. Moscovo garante que apenas pretende combater os jihadistas na Síria.



As forças russas estariam a construir uma base aérea em Latakia e uma base a sul, mais para o interior, de apoio à base russa de Tartessos, a única que Moscovo detém no Mediterrâneo, frente ao Chipre. O anúncio da chegada dos caças fez soar mais alto as campainhas de alarme.
Rússia garante caráter "defensivo"
O Pentágono já confirmou que o secretário norte-americano da Defesa, Ash Carter, falou esta tarde com o seu homólogo russo, Sergei Shoygu, tendo ambos "concordado em debater mais mecanismos para resolver o conflito sírio".

Peter Cook, adido de imprensa do Pentágono, classificou a conversa como "construtiva".

Secretario da Defesa dos Estados Unidos da América, Ash Carter, nas cerimónias do 11 de setembro de 2015 Foto: Reuters

Shoygu disse a Carter que o reforço da presença militar russa na Síria é "de natureza defensiva" e que pretende apoiar as obrigações da Rússia para com o Governo do Presidente sírio Bashar al-Assad, disse ainda um responsável senior aos reporteres.

Com aviões norte-americanos a operar na região, em combate contra o grupo extremista Estado Islâmico, será conveniente as duas potências coordenarem as suas atividades militares aéreas, de forma a evitar problemas e acidentes.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou na quarta-feira passada que o tipo de armamento e de munições que a Rússia tem enviado para a Síria "levanta obviamente questões muito mais sérias sobre o que está de facto a acontecer".
Rússia e Irão na luta contra o terror
Um analista militar considera "significativo" o aumento de tropas russas na Síria e sublinha que este equivale à "colocação da primeira grande força expedicionária russa" fora do antigo espaço soviético, desde a guerra com o Afeganistão.

O Kremlin tem afirmado também estar pronto a participar na luta internacional contra os islamitas do grupo Estado Islâmico e a Frente al-Nusra, o braço armado da Al Qaeda na Síria.

Na semana passada o Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu a sua estratégia de apoio a Assad e apelou de novo a uma coligação internacional mais alargada contra o grupo radical Estado Islâmico, que domina grande parte do território do leste da síria e do centro de norte do Iraque.

Presidente russo Vladimir Putin, a observar exercícios militares na região de Orenburg, Rússia, a 19 de setembro de 2015 Foto: Reuters

Moscovo propõe que a atual coligação, liderada pelos Estados Unidos, inclua a Rússia e o Irão.

Nos últimos dias o Kremlin mostrou-se mesmo aberto a reuniões com Washington para debater a resolução do conflito sírio.
EUA recusam auxílio russo
Os Estados Unidos consideram contudo que uma implicação mais profunda da Rússia na guerra síria seria contraproducente, podendo mesmo comprometer qualquer hipótese de resolução do conflito.

Em Berlim, este fim de semana, o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, considerou mesmo que a inclusão russa corria o risco de "bloquear o caminho para uma resolução do conflito".

Kerry afirma que tal aliança iria provocar a ida "de ainda mais combatentes jihadistas para a Síria" e "enraizar Assad" no poder, uma hipótese descartada por Washington.

Contudo, a estratégia norte-americana de apoio aos rebeldes sírios no terreno, evitando comprometer as suas próprias tropas na Síria e no Iraque, tem tido pouco sucesso internacional ou político e conhece mesmo fracassos na frente de formação de combatentes.
Síria defende Moscovo
Em Damasco, o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Mouallem, defendeu que "a participação da Rússia no combate contra o Daesh (nome árabe para o grupo Estado Islâmico) e a Frente al-Nusrah (braço sírio da Al Qaeda) é ainda mais importante que o fornecimento de armas à Síria".

Walid Mouallem, ministro dos Negócios estrangeiros da Síria Foto: Reuters

Vai "modificar os dados" da luta, afirmou Mouallem à cadeia Russia Today, numa entrevista divulgada domingo pelos media sírios.

Mouallem descreveu a luta "contra o terrorismo" como "uma prioridade" que iria "abrir uma porta a uma solução política na Síria", onde a guerra civil iniciada durante a Primavera Árabe já fez 240.000 mortos desde março de 2011.

A participação russa irá "arruinar os planos de todos aqueles que conspiraram contra a Síria e demonstrar que os Estados Unidos não têm uma estratégia clara contra o Daesh", disse Mouallem.
Programa norte-americano
Quarta-feira passada o general Lloyd J.Austin, líder das tropas americanas para o Médio Oriente, reconheceu perante o Senado em Washington o absoluto fracasso de um programa militar norte-americano com o objetivo de constituir uma força militar síria credível contra o Estado Islâmico.

Apenas "quatro ou cinco" rebeldes sírios formados e equipados por Washington combatem já no terreno, afirmou. O programa, orçado em 500 milhões de dólares, previa formar no primeiro ano 5.000 combatentes.

O general Lloyd Austin, chefe das tropas dos EUA no Médio Oriente, no Kuwait em 2011 Foto: Reuters

De acordo com Lloyd, a maior parte dos primeiros 54 combatentes formados até agora foram atacados por um grupo ligado à Al Qaeda pouco após a sua entrada na Síria.

Atualmente estão em formação uma centena de combatentes, depois das primeiras regras de triagem dos candidatos terem sido relaxadas no início do Verão devido à escassez de candidatos.
Reforço de grupos rebeldes
O Observatório sírio para os Direitos do Homem (OSDH), uma ONG baseada em Londres que reúne dados do terreno dos combates, refere no entanto que 75 rebeldes sírios, treinados na Turquia pelos Estados Unidos para combater o grupo Estado Islâmico, já estão na Síria.

Entraram na Síria "entre sexta-feira e sábado de manhã", a bordo de um comboio de veículos e sob proteção aérea da coligação internacional anti-jihadistas, refere a organização.

Deverão colaborar com dois grupos de rebeldes apoiados pelos Estados Unidos: os Suqur al-Jabal (Falcões da Montanha) e a Divisão 30.

O porta-voz desta, Hassan Moustafa, confirmou à agência France Presse a chegada dos reforços após "dois meses de treino na Turquia". "Estão agora na cidade de Tal Rifaat", afirmou.

O Pentágono recusou confirmar a informação.
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