Rússia. Médicos recusam transferência de Alexei Navalny para Berlim

por Carlos Santos Neves - RTP
A Amnistia Internacional veio instar a administração do hospital a facultar "total acesso" à informação "sobre o estado de saúde e o tratamento à família e médicos que esta escolha" Igor Russak - Reuters

O principal rosto da oposição ao Presidente russo Vladimir Putin não será transferido para a capital alemã por decisão médica, justificada com o estado de saúde "instável", confirmou esta sexta-feira uma porta-voz do político. Alexei Navalny encontra-se internado num hospital na Sibéria por suspeita de envenenamento.

"O médico chefe anunciou que Navalny não está em condições de ser transportado. A sua condição é instável", escreveu Kira Iarmych na rede social Twitter, citadA pela France Presse, ao denunciar uma decisão que "ameaça a sua vida".
A Amnistia Internacional veio instar a administração do hospital a facultar "total acesso" à informação "sobre o estado de saúde e o tratamento à família e médicos que esta escolha".


Ainda de acordo com a porta-voz, seria "mortalmente perigoso deixá-lo no hospital não equipado em Omsk, com um diagnóstico que ainda não foi feito".

Um avião médico descolou durante a madrugada da Alemanha, com destino à Rússia, tendo em vista transferir Alexei Navalny para Berlim. O aparelho partiu de Nuremberga perlas 3h11 (menos uma hora em Lisboa), segundo noticiou o jornal Bild.

A operação foi montada pela organização não-governamental alemã Cinema pela Paz, que havia já organizado uma missão análoga para um membro do grupo musical de protesto russo Pussy Riot, Piotr Verzilov, em 2018.

O presidente da ONG alemã havia garantido, em declarações à AFP, que o Hospital La Charité de Berlim estava preparado para internar Alexei Navalny.
Em estado de coma
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, garantia ontem que Moscovo estaria disposta a ajudar na transferência do opositor para o estrangeiro. Por sua vez, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, abrirar as portas dos respetivos países para conceder asilo político a Alexei Navalny, de 44 anos.

O advogado opositor de Putin entrou na quinta-feira em estado de coma numa unidade de cuidados intensivos  de um hospital siberiano, após ter-se sentido mal e perdido a consciência num voo de regresso a Moscovo.
O Governo da Alemanha mantém-se "em contacto" com as autoridades da Rússia numa tentativa de solucionar o "caso humanitário urgente" de Alexei Navalny.


O seu círculo próximo aventou de imediato a hipótese de envenenamento.

A porta-voz Kira Iarmych revelou que Navalny terá ingerido veneno num chá que bebeu ao início da manhã de quinta-feira num café do aeroporto, antes do embarque.

"Os médicos estão a dizer que a toxina foi absorvida mais rapidamente com o líquido quente", afirmou, acrescentando que a polícia foi chamada à unidade hospitalar.
Hospital de Omsk diz não ter encontrado veneno
O médico-chefe adjunto Anatoly Kalinichenko, do hospital de Omsk, na Sibéria, afiança que até agora não foi encontrado qualquer vestígio de veneno no organismo de Navalny.

A porta-voz Kira Yarmysh publicou um vídeo no Twitter com declarações de Kalinichenko.


"O envenenamento como diagnóstico permanece em segundo plano, mas não acreditamos que o paciente tenha sido envenenado", disse o médico.

O estado de saúde de Navalny apresentou uma "certa melhoria", mas continua instável, adiantou, por sua vez, Alexander Murakhovsky, diretor do Hospital de Emergência nº 1 de Omsk.

"O seu estado às 8h00 apresentou uma certa melhoria. Mas, até agora, não conseguimos estabilizar a sua situação", afirmou Murakhovsky em conferência de imprensa, citado pela agência russia Interfax.

O médico indicou que foi por esta razão que a unidade hospitalar não autorizou a transferência de Navalny para a Alemanha, num avião médico que já se encontra no aeroporto de Omsk.

"Se o estado do paciente estivesse estável, os meus especialistas e a junta que se reuniu hoje não se teriam oposto. Não se pode dizer que estamos a colocar obstáculos", enfatizou o responsável.

Murakhovsky fez mesmo questão de sublinhar que os médicos russos "não são piores" do que os da clínica alemã para a qual Navalny deveria ter sido transferido esta sexta-feira.

O médico acrescentou que Alexei Navalny continua inconsciente e evitou avançar com um prognóstico: "Não posso fazer previsões".

c/ agências
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