Sarah Netanyahu acusada de desprezo pelo sofrimento dos judeus portugueses

por RTP
Abir Sultan, Reuters

A cara-metade do primeiro-ministro israelita visitou no Rossio, em Lisboa, o monumento evocativo do massacre de judeus portugueses ocorrido em 1506 e sustentou que a sua família está agora a sofrer uma perseguição semelhante às da Inquisição. Vozes judaicas indignadas logo protestaram contra a comparação.

A declaração da "primeira dama" israelita, citada pelo Times of Israel, veio em resposta a um jornalista, que ironicamente lhe perguntou qual das inquisições é pior - a medieval ou aquela que agora escalpeliza o comportamento do seu marido e o dela própria, com vista a diversos processos judiciais.

Aparentemente sem detectar o tom irónico da pergunta, Sarah Netanyahu respondeu: "Ah, aí está um ponto. Não vou fugir à pergunta. Estou contente por você entender que isto [o processo judicial], para nós, é uma inquisição".

O marido, Benjamin Netanyahu, captando o embaraçoso da situação, tentou desviar a conversa, mas Sarah Netanyahu não queria desistir tão facilmente e ainda disparou: "Havemos de encontrar um momento para falar disto, hem?".
Uma analogia "inadequada e insensível"
A comparação parecia naturalmente forçada, porque o massacre ocorrido no Rossio em 1506 se saldou em cerca 1.900 vítimas mortais e porque a Inquisição introduzida mais tarde em Portugal se saldou em dezenas de milhares de mortos e exilados. Por isso, Ashley Perry, presidente de uma organização que procura restabelecer a ligação dos descendentes de judeus portugueses e espanhois com as respectivas comunidades e com Israel, logo comentou as declarações de madame Netanyahu como "deploráveis e mostrando desprezo pelo sofrimento dos judeus".

A isto acrescentou Perry: "Espero que a srª Netanyahu, após reflexão, peça desculpas por esta analogia inadequada e insensível (...) Estes comentários são um triste reflexo da minimização da perseguição histórica dos [judeus] sefarditas".
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