Trump começa a desmantelar rede de parcerias comerciais montada por Obama

por RTP
Kevin Lamarque, Reuters

TPP, NAFTA, TTIP são siglas e acrónimos que não têm a simpatia de Donald Trump, o recém-empossado presidente norte-americano. Já durante a campanha eleitoral Trump usou uma retórica hostil aos tratados que envolvem os Estados Unidos em várias parcerias por todo o globo. Hoje, começou a cumprir a promessa de colocar um ponto final no que diz serem acordos prejudiciais aos interesses do cidadão norte-americano e, com uma assinatura deitou por terra o TPP – Tratado Trans-Pacífico, negociado com 11 países da orla do Pacífico.

A partir de agora “será sempre: a América primeiro. A América primeiro”, avisou Donald Trump no discurso que pronunciou na última sexta-feira a partir do Capitólio, logo após o juramento como 45º presidente.

Durante a campanha já fizera saber o que considerava ser mais importante para a economia do país: fazer retornar a produção, privilegiar o trabalhador americano e anular os acordos globais estabelecidos por Washington. Em Novembro, já presidente eleito, anunciou que pôr termo ao TPP e começar a desmantelar a rede de comércio livre montada pela Administração Obama (e mesmo negociações anteriores, como o NAFTA) estaria à cabeça da lista de actos executivos assim que pusesse pé na Casa Branca.

“Foi uma decisão excelente para o trabalhador americano o que acabámos de fazer”, afirmou Trump após assinar a ordem na Sala Oval.

Os republicanos estão, no entanto, a ver a decisão de Trump como uma espécie de traição, já que Barack Obama havia negociado o TPP com pinças, garantindo de antemão o apoio dos seus adversários, incluindo o speaker Paul Ryan, que – tirando Donald Trump, que é uma espécie de outsider – é o mais próximo de um líder do GOP.

“A decisão do presidente Trump de se retirar formalmente da Parceria Trans-Pacífico é um erro grave que terá consequências por muitos anos para a economia americana e para a nossa posição estratégica na região Ásia-Pacífico”, acrescentaria o senador John McCain (R), entre um coro de vozes a lembrarem a Trump que a China respirará de alívio e ganhará novo fôlego para estender a sua influência na região.

Uma das coroas de glória de Barack Obama estava para ser o TTIP – Tratado Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento. Os embaixadores que espalhou pelo mundo, justamente apelidados de “embaixadores TTIP”, fizeram um sprint final para tentar selar o acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia antes do final do mandato.

Mas não o conseguiram e sabemos agora que talvez de nada tivesse servido, já que o TPP – assinado em Fevereiro de 2016 por Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canada, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietname após sete anos de negociações – acaba de ser deitado para o cesto dos papéis pelo novo líder americano.

O tratado deveria ainda fazer um longo caminho nos corredores do Congresso e do Senado até ser ratificado, mas os subscritores tinham este passo como uma mera formalidade, já que o pacote apresentava os Estados Unidos como grande beneficiário do acordo: 8 mil milhões de dólares anuais para a agricultura e mineração, 200 mil milhões para a indústria e 148 mil milhões para o setor de serviços, segundo um estudo publicado pelo Peterson Institute for International Economics.

Uma visão diferente vem sendo defendida pelo multimilionário que dirige agora os destinos dos Estados Unidos. Trump acusa estes mega-acordos de “terríveis e contrários aos interesses” dos norte-americanos.

Trata-se de uma aparente contradição, já que é um homem de negócios que se opõe aos acordos globais que vêm sendo vistos por alguns sectores como uma manobra americana para dominar o curso do comércio mundial. É uma situação ambígua que parece aproximar Donald Trump justamente dos movimentos que têm saído primeiro contra a sua eleição e depois contra a sua posse.
Numa entrevista em Junho passado, o presidente da FLAD, Vasco Rato, apontava já então o fim do TTIP se Trump vencesse as presidenciais

Bernie Sanders, candidato democrata derrotado nas primárias por Hillary Clintos e forte opositor a Trump, deixou um forte elogio ao presidente republicano, sublinhando que o TPP “está morto e enterrado”.

“Agora é a hora de desenvolver uma nova política de comércio que ajude as famílias trabalhadoras, não apenas as grandes multinacionais. Se o presidente Trump for sério em relação a uma nova política para ajudar os trabalhadores americanos, então eu adoraria trabalhar com ele”, sublinhou Sanders num comunicado.

Quando os negociadores de Obama finalizavam o TTIP, os detratores do acordo desmentiam as promessas de geração de emprego e aumento dos PIB americano e europeu com os dados relativos ao Nafta, sublinhando que o acordo assinado entre Estados Unidos, México e Canadá custara milhões de postos de trabalho.

Arrumado que parece o tratado da orla do Pacífico, o presidente Trump deverá agora voltar a sua atenção para o NAFTA, tendo já feito saber que pretende reunir-se brevemente com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau: “Vamos em breve começar as negociações relativas ao NAFTA. Vamos renegociar o NAFTA nas componentes da imigração, segurança e fronteiras”.
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