Trump foi maior incitador à desinformação sobre Covid-19, revela estudo

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Carlos Barria - Reuters

Um estudo publicado esta quinta-feira pela Universidade Cornell, dos Estados Unidos, conclui que o Presidente norte-americano, Donald Trump, foi “o maior impulsionador de desinformação sobre a Covid-19”, com o seu nome associado a 38 por cento das informações falsas referidas nos meios de comunicação.

Entre toda a desinformação, teorias da conspiração e informações falsas presentes na Internet, há um nome que se destaca: Donald Trump. Esta foi a conclusão a que chegou uma equipa de investigadores da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, após analisar 38 milhões de artigos de todo o mundo na língua inglesa relacionados com a pandemia Covid-19 entre 1 de janeiro a 26 de maio.

O nome do Presidente norte-americano é associado a cerca de 38 por cento da desinformação detetada, o que faz de Donald Trump o maior impulsionador de “infodemia”, termo utilizado pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde para designar as inverdades sobre a pandemia atual, que têm aumentado e diminuído ao longo do tempo, “comportando-se quase como fenómenos virais”, como diz o estudo.

“A maior surpresa foi perceber que o presidente dos Estados Unidos foi o maior condutor de desinformação sobre a Covid-19”
, disse Sarah Evanega, diretora da Cornell Alliance for Science e principal autora do estudo. “Isto é preocupante, dado que existem terríveis implicações para a saúde no mundo real”, sublinhou Evanega, citado pelo jornal New York Times.

Do total de notícias que faziam referência a desinformação, o estudo identificou cinco diferentes subcategorias, sendo que as teorias de conspiração são aquelas que representam uma maior parcela, com um volume de 522,472 notícias associadas a este tópico, o que representa 46,6 por cento do total.

Ainda neste âmbito, o estudo identificou os onze subtópicos de desinformação e teorias da conspiração que receberam uma maior cobertura por parte dos media tradicionais. Em primeiro lugar nesta lista estão “as curas milagrosas”, com mais de 295 artigos sobre este assunto – um total superior à soma dos restantes artigos que fazem referência aos dez outros tópicos.

A grande maioria das referências a “curas milagrosas” partiram do próprio presidente dos EUA, depois de ter promovido antimaláricos como a hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, quando ainda não estava comprovada clinicamente a verdadeira eficácia destes medicamentos para a doença provocada pelo SARS-CoV-2. Mais tarde, um estudo veio negar a eficácia deste fármaco como tratamento para a Covid-19, afirmando que pode mesmo aumentar o risco de morte. O Twitter e Facebook chegaram mesmo a bloquear a conta do presidente dos EUA por "violação dos regulamentos sobre desinformação", depois de Donald Trump ter publicado um vídeo onde assegurava que as crianças eram virtualmente imunes ao novo coronavírus.

A 24 de abril registou-se um novo pico de desinformação relacionado com “curas milagrosas” e, mais uma vez, o nome de Trump está no título das notícias. Neste dia, Trump sugeriu, durante uma conferência de imprensa, uma injeção de desinfetante como uma potencial cura para a infeção de Covid-19, uma ideia que comunidade científica classificou de “irresponsável e perigosa”.

Na lista de subtópicos de desinformação e teorias da conspiração que receberam uma maior cobertura dos media está ainda a teoria de que a pandemia foi provocada intencionalmente pelos democratas de forma a coincidir com o julgamento do processo impeachment de Donald Trump. O maior impulsionador desta teoria foi Eric Trump, filho do Presidente dos EUA.

No quinto lugar da tabela de subtópicos estão as teorias de conspiração que envolviam Bill Gates e acusavam o empresário de ser responsável pelo aparecimento do novo coronavírus e de estar a usar a pandemia como uma oportunidade perfeita para monitorizar a população.
Desinformação “é uma séria ameaça à saúde pública global”
Desde 1 de janeiro a 26 de maio deste ano, os meios de comunicação tradicionais de língua inglesa publicaram mais de 1,1 milhões de artigos com desinformações relativamente à Covid-19. Este número representa apenas três por cento do total de 38 milhões de artigos publicados sobre a pandemia no mesmo período de tempo.

O estudo salienta ainda que apenas 16,4 por cento das notícias de desinformação recolhidas eram de factchecking (verificação de factos), o que sugere que a maioria da desinformação sobre a Covid-19 foi transmitida pelos meios de comunicação sem qualquer verificação ou correção. Para além disso, o artigo sublinha que os artigos de verificação de factos foram, na generalidade, publicados sempre mais tarde, “o que sugere que uma grande parte da desinformação é remetida ao público sem ter sido corrigida”.

A investigação da Universidade de Cornell é a primeiro a examinar de forma abrangente a desinformação existente nos meios de comunicação tradicionais e digitais durante a pandemia da Covid-19.

O estudo alerta que “a desinformação sobre o Covid-19 é uma séria ameaça à saúde pública global”. “Se as pessoas forem enganadas por afirmações não comprovadas sobre a natureza e o tratamento da doença, é menos provável que sigam os conselhos oficiais de saúde e, assim, contribuam para a propagação da pandemia e representem um perigo para si mesmas e para terceiros”, conclui a pesquisa.

“Em concreto, a desinformação sobre os tratamentos para a doença Covid-19 pode levar as pessoas a tentar curas que podem prejudicá-las, enquanto o medo e a desconfiança associados a uma possível vacina podem prejudicar a aceitação de qualquer campanha de vacinação”, alerta o estudo.
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