Twitter com acesso restrito na Turquia dias após o sismo

por Andreia Martins - RTP
Brendan McDermid - Reuters

De acordo com a NetBlocks, um grupo que acompanha as restrições de internet no mundo, o acesso ao Twitter está limitado em várias redes móveis da Turquia. As dificuldades no acesso à rede social dificultam a comunicação nos esforços de socorro após o terramoto devastador de segunda-feira.

“Os dados em tempo real demonstram que o Twitter está com acesso restrito na Turquia. A filtragem está a ser utilizada pelos fornecedores de internet e ocorre numa altura em que o público está a confiar no serviço após vários terramotos”, adianta a Netblocks numa publicação na rede social.

De acordo com os dados de rede recolhidos por esta organização que rastreia a cibersegurança e a governança digital, o Twitter está com restrições nos dois principais fornecedores de Internet, a TTNet e a Turkcell.

A Netblocks esclarece que os sismos que atingiram a Turquia na segunda-feira tiveram impacto na conectividade à internet nas regiões mais afetadas, mas esse impacto é distinto “da filtragem implementada de forma intencional” pelos fornecedores ISP (Internet Service Provider).

“A Turquia tem um longo histórico de imposição de restrições ao uso de redes sociais durante situações de emergência nacional e incidentes de segurança. Estas restrições foram implementadas (…) de forma a evitar a partilha de imagens prejudiciais ou impedir a disseminação de supostas desinformações”, destaca a Netblocks.
O sismo de segunda-feira, de magnitude de 7.8, afetou a Turquia e a Síria e provocou pelo menos 11.700 mortos (mais de 8.500 contabilizadas em território turco).
Ao jornal New York Times, o diretor da NetBlocks, adiantou que a natureza coordenada das restrições sugere que estas têm origem numa ordem governamental.

Alp Toker indicou ainda que os dados de rede apontam para um bloqueio desenhado através de um software que é instalado pelos próprios fornecedores de telecomunicações, que podem impedir o acesso a sites e a serviços específicos.

Até ao momento, as autoridades turcas não explicaram esta interrupção de serviço no Twitter, numa altura em que as redes sociais se enchem de mensagens e publicações de protesto devido à falta de organização no resgate.

Nos últimos dias, de acordo com a agência France Presse, pelo menos 12 pessoas foram detidas desde segunda-feira devido a publicações nas redes sociais que criticavam a atuação do governo do presidente Erdogan após a tragédia que assolou o país.

De visita à província de Hatay, uma das mais afetadas pelo sismo de segunda-feira, situada junto à fronteira com a Síria, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reconheceu que há “lacunas” na resposta ao sismo de segunda-feira.

Em outubro último, o Parlamento turco aprovou uma nova lei da “desinformação”, a poucos meses das eleições gerais de 14 de maio em que Erdogan pretende assegurar a continuidade ao fim de 20 anos no poder.

Esta nova legislação, apresentada pelo partido no poder, o AKP, abrange as publicações jornalísticas e também as redes sociais. De acordo com várias organizações que defendem a liberdade de expressão e de imprensa, a lei em causa “proporciona uma estrutura para uma censura extensiva das informações online e a criminalização do jornalismo, o que irá permitir ao Governo subjugar e controlar ainda mais o debate público”.
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