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Um ano depois da morte de Alan Kurdi o que mudou?

por Cristina Sambado, Sara Piteira - RTP
O corpo de Alan Kurdi foi encontrado numa praia há um ano e chamou a atenção da opinião pública para a crise dos refugiados EPA

A imagem do corpo de Alan Kurdi, o menino sírio de três anos, na praia de Bodrum na Turquia, alertou o mundo para o drama dos refugiados. Um ano depois o que mudou? Todos os dias centenas de pessoas continuam a atravessar o Mediterrâneo em pequenos botes de borracha em busca de um sonho, que muitas vezes termina em mais uma tragédia como a de Alan Kurdi e da sua família.

Numa entrevista à BBC, o pai de Alan Kurdi, que perdeu os dois filhos e a mulher no naufrágio, pede à Europa que não feche as portas aos requerentes de asilo, que continuam a tentar entrar em território europeu. Fogem de guerras e perseguições em países do Médio Oriente e África.

No naufrágio no Mediterrâneo, além de Alan (inicialmente identificado com Aylan), de apenas três anos, Abdullah Kurdi perdeu também a mulher de 35 anos e o filho mais velho, Galip de cinco anos.

“Todos os dias penso neles, mas hoje senti como se eles tivessem vindo a mim e eu tivesse dormido com eles, o que me põe novamente triste”, disse Abdullah Kurdi. A família Kurdi mudou-se de Kobane para Damasco, a capital síria, meses antes de tentar alcançar a Europa.

“No início o mundo estava ansioso para ajudar os refugiados. Mas isto não durou nem um mês. Na verdade a situação piorou”.

Abdullah Kurdi, que foi viver para o norte do Iraque depois de enterrar a mulher Rihan e os filhos Alan e Galib em Kobone, na Síria, espera “que os líderes mundiais consigam encontrar uma forma de acabar com a guerra na Síria”.

“A guerra escalou e mais pessoas estão a fugir do país. Espero que todos os líderes mundiais possam fazer o bem e tentar travar as guerras, para que as pessoas possam voltar a ter vidas normais”, frisou.

Segundo Abdullah Kurdi, de 41 anos, depois da morte da "família, os políticos afirmaram: Nunca mais. Todos queriam fazer algo depois da foto que comoveu todo o mundo. Mas o que acontece agora? As mortes continuam e ninguém faz nada”.
Mudou alguma coisa?

Entre setembro de 2014 e agosto de 2015, 3.173 pessoas morreram na travessia do Mediterrâneo. Só em abril, 1.147 refugiados perderam a vida.

No entanto, os números são inferiores aos registados entre setembro de 2015 e agosto de 2016, em que 4.185 pesssoas morreram. Ou seja, depois da morte de Alan Kurdi, na mesma rota, ainda mais pessoas perderam a vida a tentar a travessia. 
Um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) revela que no último ano o número de refugiados que fogem das zonas de conflito no Médio Oriente e em África não parou de aumentar. Muitos encontram a morte no Mediterrâneo.

O destino é a Europa, mas o encerramento das fronteiras terrestes em alguns países europeus, o acordo assinado entre a União Europeia e a Turquia para travar os barcos que partem para a Grécia e uma repressão militar, liderada pela UE, sobre os traficantes que partem da Líbia para Itália, tornou o percurso ainda mais perigoso.

Em 2015, e pelo segundo ano consecutivo, a Turquia foi o país que acolheu o maior número de refugiados: 2.5 milhões de pessoas. 

No mesmo ano, 58 por cento dos refugiados que atravessaram o Mediterrâneo eram homens, 17 por cento eram mulheres e os restantes 25 por centos eram crianças.

Nos primeiros oito meses de 2016, 247.572 refugiados fizeram a travessia do Mediterrâneo. 

Para a OIM a rota de migração do Mediterrâneo é considerada a mais mortal de todo o mundo.
Crise de refugiados é global
Dos cerca de 65.3 milhões de pessoas que são obrigadas a deixar o país devido a conflitos, mais de 54 por cento são de três locais: Síria (4.9 milhões); Afeganistão (2.7 milhões) e Somália (1.1 milhão).

Em 2015, 51 por cento dos refugiados eram crianças com menos de 18 anos. Em 2009 essa faixa etária representava 41 por cento.


De acordo com a OIM, as mortes de refugiados em todo o mundo passou de 4.664 entre 2014 e 2015 para mais de 5.700 entre 2015 e os primeiros oitos meses deste ano.

Os dados da ONU mostram que o mundo enfrenta uma deterioração global para os refugiados e pessoas deslocadas internamente.

O último relatório anual produzido pela agência da ONU para refugiados, o ACNUR, revela que existem agora mais refugiados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas no mundo do que em qualquer momento desde o início dos registos - possivelmente desde o final da Segunda Guerra Mundial.

São 65,3 milhões, ficando perto de um por cento da população total do mundo. Se todos os refugiados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas se juntassem num país, seria o 21.º mais populoso do mundo.
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