Verificação de factos está a mudar comportamento dos utilizadores da Internet

Os esforços jornalísticos para verificar informações falsas que circulam no Facebook estão a reduzir a sua viralidade e a alterar o comportamento dos utilizadores, concluiu um estudo de vários investigadores da Sciences Po e da Universidade de Liège.

Lusa /
Gabriel Bouys - AFP

O estudo, conduzido ao longo de um ano e meio em parceria com o serviço de investigação digital da agência France-Presse (AFP), permitiu à equipa de investigação comparar a viralidade das publicações verificadas com a trajetória de publicações semelhantes, mas não verificadas.

A AFP, bem como outros órgãos de comunicação social em todo o mundo, recebe pagamentos de determinadas plataformas tecnológicas, incluindo a Meta, empresa-mãe do Facebook, para combater a desinformação (`fake news`, em inglês).

Após ser avaliada pelos jornalistas (`fact checking`, em inglês), uma publicação errónea é rotulada como falsa ou parcialmente falsa.

De acordo com os resultados do estudo, a viralidade da informação verificada e marcada como falsa diminui em média 8% na rede social.

"Temos um efeito positivo, estatisticamente significativo", sublinhou à AFP a investigadora Julia Cagé, que participou no estudo.

Segundo a economista, o efeito decorre tanto de uma alteração no comportamento do utilizador após a verificação dos factos como da própria funcionalidade da rede social.

A Meta indicou, de facto, que "reduz" a visibilidade de informações falsas avaliadas pelos verificadores de factos.

A investigadora sublinhou ainda que a média de 8% "mascara uma grande heterogeneidade" no impacto da verificação de factos, que varia consoante vários fatores.

A viralização da desinformação diminui mais acentuadamente quando a verificação dos factos é realizada rapidamente.

O impacto da verificação de factos também varia de acordo com o tema. O estudo destaca um efeito mais forte quando a desinformação dizia respeito à guerra na Ucrânia e um efeito limitado em questões de saúde ou ambiente.

O estudo mostra ainda que a verificação de factos altera o comportamento do utilizador.

"Para o utilizador médio, partilhar informações falsas que serão sinalizadas como falsas reduzirá a sua utilização das redes sociais a curto prazo. Por outras palavras, partilhará menos informações no Facebook e, mais importante, partilhará menos desinformação", explicou Julia Cagé.

"A luta contra a desinformação continua a ser difícil, mas é encorajador ver que a verificação de factos faz uma diferença real, especialmente quando é rápida e claramente identificada como tal. Isto motiva-nos a continuar e a intensificar o nosso trabalho", frisou Nina Lamparski, editora-chefe adjunta de investigações digitais da AFP.

 

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