Visão Global 2017: Luís Moita

por Luís Moita - Professor Catedrático no OBSERVARE (Observatório de Relações Exteriores) na UAL
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Personalidade do ano – Xi Jinping
Por mais banal que seja a percepção da importância crescente da China no mundo, ainda ficamos surpreendidos com a evolução das coisas naquele gigantesco espaço físico e humano. E nessa evolução, a figura do presidente Xi Jinping assume uma imprevista preponderância.

O Congresso do Partido Comunista Chinês em Outubro de 2017 é um momento alto da consolidação do poder do secretário-geral. Sob a sua liderança o país continua a exibir índices improváveis de crescimento económico, ao mesmo tempo que mantém uma estranha rigidez do sistema político, deixando em aberto a dúvida acerca da sustentabilidade desse modelo.

O PCC assume agora que a China ambiciona um papel, não necessariamente agressivo ou mesmo intencionalmente não agressivo, de potência mundial de primeiro nível e o seu grandioso projecto da Nova Rota da Seda permite dar impressiva visibilidade a essa ambição. E o que é sintomático é que, como expressão de tal intencionalidade, o “pensamento de Xi Jinping” ficou constitucionalmente consagrado, a par dos “pensamentos” de outros grandes líderes chineses, como Mao Tsetung e Den Xiaoping.

Eis quanto basta para referenciar Xi Jinping como personalidade internacional do ano de 2017.
Acontecimento do ano: 22 Novembro de 2017 – A Cimeira de Sochi
A cidade de Sochi, próxima do Cáucaso e à beira do Mar Negro, talvez com vista para a Crimeia, foi escolhida por Putin para nela receber, neste dia 22 de Novembro, o Presidente iraniano Rouhani e o primeiro-ministro turco Erdogan, depois de, na véspera, ter recebido o presidente Bashar al-Assad.

O que estava em cima da mesa? O futuro da Síria, país dilacerado por uma guerra onde as facções armadas internas e as numerosas intervenções estrangeiras têm travado combates cruzados difíceis de descrever.

Se o acontecimento assinala com peculiar veemência a convulsão que alastra no Médio Oriente (e mais um tristíssimo episódio do ocaso das Primaveras árabes), ele tem outros ingredientes que o tornam especialmente relevante.

Nestes últimos tempos não se deve encontrar qualquer antecedente de um conflito de envergadura que termine sem arbitragem norte-americana.

Neste caso, quem dá as cartas não é Trump, mas Putin, e isso é de enorme simbolismo. Se a Turquia e o Irão disputam interesses algo contraditórios, a Rússia, pelo seu lado, só tem a ganhar com a operação. Tanto mais que na semana anterior, o Irão, após a tomada da cidade Abu Kamal, tinha declarado o fim do Daesh! Isto não será o termo do terrorismo global, mas é um pesado revés para o mito do Califado.
 
E vem confirmar a crescente influência iraniana na região, ao mesmo tempo que a sua rival saudita tenta lutar contra ela no Iémen e no Líbano. Mas a ausência dos Estados Unidos, aliás já verificada no recente processo de paz da Colômbia, pode prefigurar não só o decréscimo da influência norte-americana, mas também confirmar que o poderio militar tem perdido eficácia política.

Fica essa outra confirmação do crescendo da capacidade do Kremlin para mover as suas peças no xadrez mundial.

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