Comunidade islâmica portuguesa nasceu há 50 anos em Lisboa

por Lusa

Lisboa, 15 mar (Lusa) -- Um pequeno grupo de universitários muçulmanos criou em 1968 a Comunidade Islâmica de Lisboa para se reunir em oração e 50 anos depois esta confissão religiosa tem em Portugal 50 mil fieis e 51 mesquitas e locais de culto.

O presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, um dos fundadores da comunidade, recordou em declarações à agência Lusa, que pertencia à primeira família muçulmana que apareceu em Portugal e que na altura nem sonhava que um dia teria uma mesquita como a de Lisboa.

A Comunidade Islâmica de Lisboa foi constituída em março de 1968 por um grupo de universitários muçulmanos que, na altura, se encontravam a estudar na capital portuguesa.

"Não havia cá nada", disse o presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, que na sexta-feira realiza uma cerimónia comemorativa dos 50 anos da sua existência, na Mesquita de Lisboa, com a presença de várias individualidades, entre as quais o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Este grupo, explicou Abdool Vakil, sentiu a necessidade de formar uma associação e de ter um local onde pudessem reunir-se e fazer a suas orações.

Mas, ainda antes da constituição da comunidade, em 1966, uma comissão composta por dez elementos (cinco muçulmanos e cinco católicos) solicitou à Câmara Municipal de Lisboa um terreno para a construção de uma mesquita.

A Comunidade, no seu início, era maioritariamente constituída por famílias provenientes das ex-colónias que vieram para Portugal a partir de 1975, nomeadamente Moçambique e Guiné-Bissau, bem como algumas pessoas oriundas do norte de África (Marrocos e Argélia), Paquistão, Bangladesh e membros das diversas embaixadas de países árabes acreditados em Portugal.

"Primeiro começámos com uma sala de culto numa cave da embaixada do Egito, mas depois o então primeiro-ministro Mota Pinto arranjou-nos uma sala de culto no Príncipe Real", explicou.

Só mais tarde, em setembro de 1977, foi cedido um terreno na avenida José Malhoa. O lançamento da primeira pedra aconteceu em janeiro de 1979 e a inauguração da primeira fase de construção realizou-se a 29 de março de 1985.

A Mesquita Central de Lisboa é um projeto dos arquitetos António Braga e João Paulo Conceição, e o seu imã é o xeque David Munir.

Por essa altura, a comunidade era já estimada em mais de quatro mil pessoas (Censos de 1981), engrossada sobretudo por gente proveniente das antigas colónias portuguesas.

A comunidade está hoje estimada em 50 mil pessoas, segundo Vakil, e que se estende por várias zonas do país, nomeadamente área da Grande Lisboa, Porto e zona do Algarve.

Já chegaram a ser 70 mil, afirmou, antes da crise da construção civil.

"Muitos trabalhavam nessa área e com a crise foram embora para outros países porque aqui não havia trabalho", explicou.

Metade da comunidade é composta por africanos, na maioria da Guiné-Bissau, a que se seguem os oriundos da Somália, Sudão e Costa do Marfim.

A outra metade é composta por gente de origem indiana, egípcios, sauditas, iraquianos, marroquinos e argelinos.

Num país de maioria católica, Abdool Vakil afirma nunca se ter sentido vítima de "islamofobia"

Para o presente e futuro da comunidade, Abdool Vakil defende que o grande desafio é deixar uma herança aos jovens.

"Os jovens são o nosso futuro. Têm de conhecer bem a religião islâmica e o Alcorão", frisou.

Na cerimónia de celebração do cinquentenário da Comunidade Islâmica de Lisboa estarão também presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, o núncio apostólico, Rino Passigato, e o cardeal patriarca, Manuel Clemente e o xeque Ahmed Mohamad El-Tayyeb da Universidade de Al-Azhar, instituição de referência para os muçulmanos sunitas, sediada no Cairo.

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