DGS nega excesso no aumento da mortalidade de doentes sem Covid-19

por RTP
João Relvas - Lusa

Um estudo divulgado esta terça-feira pela revista Ata Médica revela que Portugal pode atingir os quatro mil óbitos, desde o início da pandemia, por outras doenças que não a Covid-19, um valor cinco vezes superior ao esperado. A Direção-geral da Saúde, no entanto, não confirma o aumento da mortalidade até ao mês de abril.

De acordo com o estudo da revista da Ordem dos Médicos, por cada doente com Covid-19 que morre, morrem quatro a seis pessoas sem infeção pelo novo coronavírus, ou seja, por outras doenças.

A publicação sugere que doentes com outras patologias graves não estão a ter o acompanhamento devido - explicado também pelo receio dos doentes em ir ao hospital -  e que o excesso de mortalidade em Portugal, desde o início da pandemia, pode chegar aos quatro mil óbitos.

Confrontado com estes dados durante a conferência de imprensa desta terça-feira, o subdiretor-geral da Saúde afirmou desconhecer a metodologia utilizada pela publicação e respondeu com dados oficiais da DGS.

"Não me posso pronunciar sobre a metodologia usada, que não sei", afirmou Diogo Cruz, acrescentando que cada "óbito é um evento único" e, por isso, "não existe possibilidade de duplicações".

Referindo dados oficiais da DGS, divulgados no sábado passado, o subdiretor-geral da Saúde esclareceu que "comparativamente ao quinquénio anterior, de 1 de janeiro e 25 de abril temos um incremento de 307 óbitos comparando com os últimos cinco anos".
Assistência médica afetada pela pandemia
Ainda na conferência diária da DGS, o secretário de Estado da Saúde fez questão de frisar que as autoridades de saúde têm apelado "aos pais que não descurem a vacinação dos filhos e às pessoas com doenças crónicas que não deixem de procurar os cuidados médicos de que necessitam para manter as suas patologias controladas", especificando "diabéticos, hipertensos, [pessoas com] doenças respiratórias, doentes oncológicos e [pessoas com] doenças cardiovasculares".

António Lacerda Sales lembrou ainda que os os primeiros casos confirmado de Covid-19 em Portugal foram identificados a 02 de março mas que "o SNS já se vinha a preparar para a pandemia", tendo "adaptado a sua resposta às diferentes fases epidemiológicas num processo flexível, dinâmico, proporcional e transversal".

"A criação de circuitos covid e não covid dentro das unidades de saúde foi determinante", afirmou. No entanto, não escondeu que a resposta a doentes sem Covid-19 pode ter sido afetada.

"Não podemos ignorar que toda a atividade assistencial foi afetada por esta pandemia. Sem ter a situação estabilizada no âmbito da propagação do novo coronavírus, não se consegue dar uma resposta adequada às outras patologias", lamentou.

Os autores do estudo em questão, por sua vez, consideram que o número superior ao esperado de mortes está associado à pandemia e lembram que o excesso de mortalidade de março e de abril "não pode ser comparado com fevereiro, nem sequer com os anos homólogos, mas deve antes ter como referência os meses de férias", em que há uma redução de atividade e circulação de pessoas e, logo, uma queda da mortalidade por acidentes de viação.

"O estado de emergência em que Portugal tem estado levou a várias medidas restritivas com impacto, por exemplo, na redução da mortalidade por acidentes de viação ou de trabalho e também a uma quebra no número de outras infeções características desta época do ano ou de alturas de menor isolamento social, que devem ser descontadas dos resultados analisados", considera António Vaz Carneiro, um dos autores.

Para o estudo publicado na Ata Médica, os autores utilizaram bases de dados públicas para estimar o excesso de mortalidade por idade e região, entre os dias 1 de março e 22 de abril, propondo níveis ajustados ao período de estado de emergência em vigor e as conclusões apontam para um excesso de mortalidade entre 2.400 e 4.000 mortes.
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