Dois ex-trabalhadores da Bombardier dedicam tempo livre à luta pela reabertura da empresa

Lisboa, 22 Jan (Lusa) - A vida pregou-lhe uma partida aos 55 anos. Mandou-os do desemprego para a reforma por falta de alternativa, mas Amadeu Moreira e Manuel Tremoço não baixaram os braços. Dedicaram-se à vida autárquica e à luta pela reabertura da Bombardier.

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Amadeu Moreira e Manuel Tremoço dedicaram três décadas da sua vida à fábrica Sorefame - de material para construção de barragens e material ferroviário circulante - onde começaram como serventes e foram subindo sempre na carreira devido à aposta que a empresa fazia na formação.

Mas em Maio de 2004, as suas vidas e dos outros trabalhadores, cerca de 400, sofreram um grande revés: o despedimento, depois de uma intensa luta contra o fecho da unidade da Bombardier (antiga Sorefame) na Venda Nova, Amadora.

Os dois metalúrgicos falam com orgulho e saudade do percurso que fizeram na empresa e do que mudou nas suas vidas com a reforma que chegou antes do tempo.

"Entrei como servente para a Sorefame com 22 anos. Mais tarde fui para a secção de programação de fabrico, onde estive mais de 20 anos", recorda Amadeu Moreira, enquanto desfolhava um panfleto com a história resumida da Sorefame e mais tarde Bombardier, "uma grande empresa nacional e multinacional".

Em 1997, começou a tentativa de "destruição" da empresa e Amadeu Moreira foi dos primeiros trabalhadores a ficar no grupo dos disponíveis devido a um problema de saúde que o atraiçoou.

Mas o metalúrgico, tal como "centenas de trabalhadores", não tinha condições de aceitar a rescisão do contrato.

Para assegurar o trabalho mudou-se para a secção de material circulante, onde esteve até ao fecho da fábrica, tinha então 55 anos.

"Estive três anos no subsídio de desemprego e fui obrigado a ir para a reforma", diz, sublinhando que durante esse período apenas foi chamado duas vezes ao Centro de Emprego, que não lhe apresentou qualquer proposta de trabalho.

Amadeu Moreira conta que "felizmente" ainda foi abrangido pela lei antiga que permitia aceder à aposentação antecipada sem penalizações. "Se fosse hoje a situação era bem pior", sublinha.

Mas a mudança na sua vida foi "complicada e desgastante", apenas amenizada com a luta a que se dedicou pela reabertura da empresa e pela vida autárquica: é vogal na Assembleia Municipal da Amadora.

A família foi um grande apoio nesta fase da sua vida e fala com orgulho dos seis netos, a quem não dedica mais tempo porque já estão todos na escola.

Mas o "crime político" que levou ao encerramento da fábrica e que constituiu um "atentado contra os trabalhadores, famílias e comércio local" está sempre no pensamento deste metalúrgico agora reformado por imposição do mercado de trabalho.

Manuel Tremoço ouve com atenção Amadeu Moreira. Partilham o mesmo percurso na empresa e travam a mesma batalha: "Nunca estivemos parados. Continuámos a lutar para arranjar emprego para outros trabalhadores que necessitem", recorda à Lusa.

Aos 24 anos, entrou na fábrica como servente, passado algum tempo foi manobrador e nos últimos 20 anos esteve na secção de material circulante a fazer comboios.

"Fiz muitas amizades na Sorefame. Foi com muita tristeza que vi fechar as suas portas", lamenta, confessando que foi "um duro golpe" ficar sem emprego aos 55 anos, apesar deste desfecho já ser previsível.

Tal como o seu companheiro de trabalho e de luta, Manuel Tremoço também esteve três anos a viver do subsídio de desemprego, sem que tivesse sido feita qualquer oferta de emprego, e há cerca de um ano reformou-se.

Para fugir aos "jogos de cartas e dominó nos bancos do jardim", Manuel Tremoço assumiu um cargo na direcção da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Profundos (Amorama).

"É um trabalho que gosto, por poder ajudar alguém, e absorve-me muito tempo", conta.

Além disso, ainda dá o seu contributo como vogal numa assembleia de freguesia da Amadora.

No intervalo das suas tarefas, Manuel aproveita para ir ao Alentejo, sua terra natal, desfrutar da companhia dos pais e dos sogros. "Têm mais de 80 anos e aproveito para estar com eles", concluiu.

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