Estudantes em Portugal querem educação como a "primeira arma"

por Lusa

Os estudantes guineenses em Portugal acompanham com interesse a campanha eleitoral para as próximas eleições na Guiné-Bissau, a 04 de junho, esperando que a educação seja a "primeira arma" do próximo governo, como defendeu Amílcar Cabral.

"É preciso mesmo o governo investir mais na educação e formar mais os nossos quadros, não só a nível do país, como ao nível da diáspora", disse à Lusa o presidente da Associação de Estudantes Guineenses em Portugal, Ceta Wagna Tchuda.

Licenciado em direito, Ceta está em Portugal há sete anos e conhece bem a realidade, e dificuldades, dos estudantes que deixam a Guiné-Bissau para conseguirem uma educação superior em Portugal.

"Enquanto estudantes guineenses na diáspora não sentimos a presença do nosso governo, mas espero que o próximo primeiro-ministro crie uma política de integração e de apoio aos estudantes guineenses na diáspora, uma política de regresso ao país de origem, porque todos nós temos essa ambição", indicou.

E acrescentou: "Viemos cá para concretizar o sonho de vida, tornarmo-nos homens e mulheres importantes que voltarão um dia para dar o seu contributo na construção do nosso país, que é a Guiné-Bissau".

Ceta Wagna Tchuda, 29 anos, está confiante de que o processo eleitoral vai correr bem e defende um consenso.

"O povo quer um primeiro-ministro que olhe para o país e para aquilo que precisa", frisou.

António Vfaro da Costa também sonha com o dia em que voltará à sua Guiné-Bissau. Licenciado em ciências da educação, com mestrado em Administração Educacional, está "otimista" com o processo eleitoral, porque esta é a altura em que o povo pode manifestar o seu agrado ou desagrado com a situação no país.

"Agrado, pela oportunidade de exprimirem a sua vontade enquanto cidadãos. O desagrado, pela situação política que não é muito favorável para os guineenses ou qualquer pessoa que queria pelo menos um bem-estar para a humanidade", afirmou à Lusa.

"Infelizmente, na Guiné-Bissau ainda não temos a cultura política de demonstrar o nosso programa, tentar servir o povo e pensar sempre no bem-estar da população", disse.

Sobre as áreas prioritárias, António Vfaro, 38 anos, considera que devem ser a educação e a saúde, como "áreas básicas para o desenvolvimento de qualquer país".

Contudo, o estudante considera que, apesar de pontualmente os políticos falarem nestas áreas, "na prática isso não se verifica".

Abubacar Mendes, licenciado em Letras em Portugal, tem algumas dúvidas sobre a crença que os guineenses têm neste processo eleitoral.

"Em parte, o povo acredita e em parte fica com dúvidas com aquilo que tem acontecido ao longo dos anos. Ou seja, ao longo da campanha os políticos dizem uma coisa, que depois não vão conseguir cumprir tudo o que prometeram à população. Quando é assim, o povo anda com desconfiança", disse à Lusa.

A comunidade guineense em Portugal continua a estar ligada ao seu país de origem e acompanham a sua realidade. E pensam: "Em quem é que vamos acreditar desta vez, quem é que podemos eleger?".

Para Abubacar Mendes, 38 anos, a prioridade num país como a Guiné-Bissau deve ser "a educação".

"Sem educação, nenhum país se desenvolve. Apenas temos uma universidade pública no país, que neste momento está em greve", indicou, acrescentando que, ao nível dos docentes, falta uma "formação baseada no contexto e na realidade do povo guineense", além de um salário digno para os professores devidamente formados.

A madrinha da Associação de Estudantes Guineenses em Portugal é Antonieta Vamain, investigadora do Centro de Estudos Internacionais (CEI) do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa, com um passado na política guineense, que continua a seguir atentamente.

"Estas eleições têm "muita importância" porque o Parlamento está dissolvido. O Governo é um governo de gestão, que precisa de aprovar orçamento e precisa de o instrumento de governação que é o próprio programa, que virá apenas com o próximo governo que sairá das próximas eleições, de 04 de junho", disse.

E alertou para as dificuldades que atingem as populações: "Existem muitas dificuldades económicas, sociais, e é preciso que se dê resposta a estas dificuldades que atrapalham o dia-a-dia das populações".

"Até que ponto o povo vai acreditar de novo? A população já acreditou muitas vezes. Muitas coisas foram cumpridas, mas muitas ficaram por cumprir. A juventude -- tanto lá na Guiné-Bissau, como na diáspora, esperam deste governo respostas ao que afeta a juventude, como a falta de emprego, a precariedade dos que estudam fora do país, com bastantes dificuldades para pagar os estudos e enfrentar a vida estudantil", adiantou.

E aos que estão na diáspora, Antonieta Vamain disse que o que os espera no regresso à Guiné-Bissau também não são facilidades.

"Não têm vida fácil porque não há um planeamento de enquadramento de quadros", observou, referindo que muitos pensam em voltar, mas, se encontrarem melhores oportunidades, acabam por ficar nos países onde estudaram.

"Se a Guiné-Bissau manda formar, é evidentemente que precisa desses recursos humanos para o desenvolvimento do país. É dos países africanos que mais precisa de se desenvolver na área económica, da agricultura, em todas as áreas.

E lamenta que os governos não tenham dado prioridade à educação, sendo disso sinal as "sucessivas greves" no setor que "atrapalham o aprendizado".

"É preciso repensar o ensino, pagar melhor aos professores. Tudo começa com a aprendizagem", disse.

As sétimas eleições legislativas na Guiné-Bissau realizam-se no próximo dia 04 de junho, na sequência de o Presidente ter dissolvido o parlamento, em 18 de maio de 2022.

Concorrem ao sufrágio duas coligações e 20 partidos políticos que iniciaram em 13 de maio a campanha eleitoral, a qual decorre até 02 de junho.

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