Greve dos enfermeiros leva ao adiamento de centenas de cirurgias

por RTP
Mike Blake - Reuters

Os enfermeiros cumprem esta quinta-feira o segundo dia de greve. Quarta-feira a paralisação obrigou ao adiamento de centenas de cirurgias em todo o país. Desde janeiro, os enfermeiros já cumpriram mais de uma centena de dias de greve. Para sexta-feira está agendada uma reunião negocial entre os sindicatos e o Ministério da Saúde.

Na quarta-feira, a adesão dos enfermeiros à paralisação rondou os 100 por cento.

As estimativas apontam para cerca de três mil cirurgias adiadas por cada dia de paralisação, o que numa greve de seis dias equivale a cerca de 18 mil operações cancelada.

Apenas as cirurgias de urgência estão asseguradas pelos serviços mínimos.

Na zona Norte do país, das 84 salas de cirurgia, 70 estiveram encerradas. Nos hospitais de Tondela, Viseu, Lamego e Figueira da Foz e na Maternidade Daniel de Matos, em Coimbra, as cirurgias programadas não foram realizadas.

No Algarve, os hospitais de Faro e Portimão as duas unidades de cirurgia ambulatória também estiveram encerradas e foram canceladas 40 cirurgias.

Na área oncológica, há cirurgias a serem adiadas por dois meses e os médicos falam de uma situação “muito preocupante” no combate às listas de espera.

O presidente da Associação Portuguesa de Cirurgia de Ambulatório, Carlos Magalhães, reconhece que as greves na saúde estão a aumentar os tempos de espera para as cirurgias. Incluindo as de doentes oncológicos.


Uma especialista de um grande hospital da região de Lisboa e Vale do Tejo, afirmou ao Diário de Notícias que tem 12 doentes com cancro que tiveram cirurgias adiadas por causa da greve dos enfermeiros de setembro e três delas voltam a ter operações canceladas por causa destas greves deste mês.

Um outro responsável pelo agendamento de cirurgias de um grande hospital da região centro adianta ao jornal que só no primeiro dia de greve dos enfermeiros - que incidiu precisamente sobre os blocos operatórios - mais de 50 doentes viram as suas cirurgias canceladas sendo que os doentes com cancro também foram afetados.

O bastonário da Ordem dos Médicos afirmou à Antena1 que não tem conhecimento de casos concretos.


No entanto, José Guimarães avisa que para um doente oncológico dois meses de espera “é muito tempo”.

Na quarta-feira o protesto foi apenas nos blocos operatórios. Hoje, a paralisação é em todas as instituições de saúde do setor público que tenham enfermeiros ao serviço.

No final do primeiro dia de greve, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, fez um balanço positivo.

José Carlos Martins sublinhou que "ainda não existe um balanço fechado", mas sim alguns números que demonstram o descontentamento dos enfermeiros.

A greve nacional repete-se entre 16 e 19 de outubro, dia em que está marcada uma manifestação em frete ao Ministério da Saúde, em Lisboa.
Mais de 100 dias de greve
Desde o início de 2018, os enfermeiros já cumpriram mais de uma centena de dias de greve. Algumas paralisações abrangeram o dia inteiro de trabalho. Outras são parciais, como a greve às horas extraordinárias em vigor desde 1 de julho.

A Direção-Geral da Administração e Emprego Público registou 105 dias de greve dos enfermeiros. Em 282 dias, 37 por cento foram marcados por protestos.

Foram contabilizadas as paralisações de março, maio, junho, agosto e setembro.

Fora da contagem ficaram 29 pré-avisos de greve locais em diferentes unidades de saúde.

Os serviços mínimos foram sempre garantidos.

Reivindicações justas
O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, considera justas as reivindicações dos enfermeiros e mostra vontade de chegar a um entendimento.


"O que é a vontade de os enfermeiros terem uma arquitetura de carreira diferente que os valorize e prestigie é reconhecido como justíssimo por parte do governo. Se há grupo profissional na saúde que precise recriar um modelo de desenvolvimento profissional são os enfermeiros", frisou o governante.

Para sexta-feira está agendada mais uma reunião entre os sindicatos dos enfermeiros e o Ministério da Saúde.

Os enfermeiros exigem ao Governo uma nova proposta negocial da careira de enfermagem que vá ao encontro das expetativas dos profissionais e dos compromissos assumidos com a tutela.
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