Quase 90% dos professores gostaria de se aposentar mais cedo e diz que está a trabalhar mais horas do que as legalmente estabelecidas, segundo um inquérito divulgado na semana em que os docentes realizam uma greve nacional.
Estes docentes também se pronunciaram sobre o protesto agendado para sexta-feira e a sua posição é clara: 88,3% defendem que é preciso continuar a lutar, segundo os resultados da "Consulta aos professores e educadores em tempo de Covid-19" hoje divulgados.
À pergunta sobre o que fariam se houvesse um regime de pré-reforma, apenas 10,9% diz que não pensa nisso e que só deixará de exercer quando reunir os requisitos legais em vigor.
Todos os outros acreditam que aproveitavam o regime de pré-reforma para abandonar mais cedo a profissão: 54% diz que sai "se as condições permitirem uma aposentação sem qualquer corte" e 35,1% admite que aproveitava "se as condições não forem muito penalizadoras".
Os professores constituem uma classe envelhecida, já que a maioria dos docentes das escolas portuguesas tem mais de 50 anos, sendo pouco mais de 1% os que têm menos de 35 anos.
Por isso, quase todos (98,2%) consideram que é urgente criar um regime específico que permita a aposentação mais cedo. Apenas 1,4% entende que o tempo de serviço e a idade são os adequados e 0,4% garante que não se importa "se tiver de ficar ainda mais alguns anos ao serviço do que os atualmente fixados".
Horários de trabalho e carreira
A grande maioria garantiu estar a trabalhar mais do que as 35 horas semanais definidas por lei, com apenas um em cada 10 professores a considerar que os horários são "adequados à atividade docente".
Também no que toca à carreira docente, há quase unanimidade (96,9%) em considerar que existem problemas por resolver, tais como o tempo de serviço que esteve congelado e não conseguiram recuperar ou as vagas.
A carreira docente é composta por 10 escalões, sendo que existem vagas para aceder ao 5.º e 7.º escalões. Para a grande maioria dos professores (87,1%), o regime de vagas deveria ser eliminado.
Os concursos de professores foram outro dos temas abordados, com os inquiridos a defender que se deve manter o modelo atual: concursos de caráter nacional em que a seleção é feita pela graduação profissional dos candidatos.
Os docentes são contra a ideia de serem os diretores a selecionar os professores (apenas 2,6% concorda com este modelo).
Outros problemas
Outra das medidas contestadas é a transferência de competências para os municípios, por temerem que abra "a porta à ingerência na vida das escolas, à privatização e provocará ainda maiores assimetrias".
A Fenprof lembra, em comunicado, que estas são apenas algumas das reivindicações que levam os docentes a fazer uma greve nacional em 11 de dezembro.
"Face ao bloqueio negocial imposto pelo Ministério da Educação, torna-se necessário que a luta prossiga sem adiamentos. Essa é a opinião de 88,3% dos milhares de docentes que participaram na consulta", revela a Fenprof.
A federação aponta alguns dos problemas que gostaria de discutir com a tutela como "o envelhecimento, a sobrecarga de horário e de trabalho e o desgaste daí resultante, a precariedade ou todas as injustiças que marcam o atual estado da carreira docente".
O inquérito feito aos docentes no mês passado mostrou ainda que os professores estão preocupados com a insuficiente segurança sanitária que sentem existir nas escolas, "principalmente pelo facto de continuarem a não ser feitos testes" ou por não ser garantido em todas as escolas o distanciamento físico de dois metros entre as pessoas.