Túnel do Marão inaugurado para quebrar barreiras e fechar feridas

por Ana Sanlez - RTP
infraestruturasdeportugal.pt

É inaugurado este sábado o Túnel do Marão, a maior obra pública construída nos últimos anos em Portugal. A partir da meia-noite já será possível circular no maior túnel da Península Ibérica. Antes da inauguração oficial, centenas de pessoas puderam atravessar o túnel a pé ou de bicicleta.

A luz ao fundo do túnel começa finalmente a vislumbrar-se. Em abril passaram dez anos desde que o então primeiro-ministro José Sócrates anunciou a construção de uma autoestrada entre Amarante e Bragança, para servir de alternativa ao fatídico IP4, que em 20 anos foi palco de milhares de acidentes e 136 mortes. Os 200 quilómetros que separam o Porto de Bragança vão agora demorar cerca de duas horas a percorrer, menos 20 minutos do que na era pré-túnel. Metade será o tempo e a distância entre o Porto e Vila Rela.

O túnel inaugurado este sábado por António Costa teve um parto difícil. No final de 2006 foi aberto o concurso público para a concessão da obra. Quase dois anos depois é assinado o contrato de concessão, em regime de parceria público-privada, entre o Estado e o consórcio Auto-Estrada do Marão, liderado pela Somague.

Em junho de 2009 arrancam as obras, que seriam suspensas por três vezes. A primeira logo em novembro do mesmo ano, resultado de uma providência cautelar interposta pela empresa Águas do Marão, que alegava que a construção do túnel iria penalizar a exploração de água na serra.

Cerca de meio ano depois as máquinas voltariam a perfurar a terra, mas por pouco tempo. Passariam mais dois meses até que o litígio com a Águas do Marão fosse resolvido em tribunal. A empresa retirou as queixas perante a promessa de receber indemnizações por todos os prejuízos causados pela obra.

A construção prosseguiu a bom ritmo no ano seguinte, até que em junho de 2011 a Somague alega problemas financeiros para suspender os trabalhos durante 90 dias, que se prolongariam por quase três anos e meio.

Em novembro de 2014, dois anos depois da data prevista para a inauguração, os trabalhos são retomados, já após o Governo de Pedro Passos Coelho ter rescindido a concessão por justa causa, alegando incumprimento da concessionária.
Encurtar distâncias e chamar turistas
A aproximação do litoral a Trás-os-Montes está a gerar muita expectativa para quem mora para lá e para cá do Marão. Durante a edificação, a obra chegou a dar emprego a mais de mil trabalhadores. Agora, com as distâncias encurtadas, é no turismo e na fixação de empresas que se focam as esperanças.

Segundo o ministro do Planeamento e Infraestruturas, a obra terá "um impacto enorme na vida das pessoas e das empresas", ao representar um "fator de dinamização da economia". Para Pedro Marques, "o Túnel do Marão é uma via de enorme importância para toda a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, na medida em que assegura uma ligação rápida, confortável e, acima de tudo, segura ao resto do país e à rede viária europeia".

Também as palavras do presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, citado pela Lusa, denotam esse sentimento de esperança. "Esta infraestrutura acaba com a barreira mítica do Marão, uma barreira que era física mas também era muito psicológica", sublinha o autarca.

Atravessar o maior túnel da Península Ibérica não será isento de custos. A portagem varia entre os 1,95 euros para veículos classe 1 e os 4,90 euros para veículos de classe 4. Um custo que motivou críticas por parte das associações empresariais locais, que reclamam isenção de portagens durante o período equivalente ao atraso que a região tem face ao resto do país.
Passos ausente, mesmo que fosse primeiro-ministro
A cerimónia de inauguração é presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, acompanhado por vários membros do Governo. Na plateia há um convidado especial: o mentor da obra, José Sócrates.

Quem não está presente para o descerrar da placa será o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. O líder do PSD foi convidado, mas questões de agenda impedem a deslocação. Passos garante, no entanto, que não iria a Vila Real mesmo que ainda ocupasse o cargo de primeiro-ministro.

"Creio que o túnel do Marão é uma obra bastante consensual em Portugal. Não vale a pena reclamar louros sobre ela. Mesmo que eu fosse primeiro-ministro, coisa que hoje não sou, e a obra fosse inaugurada amanhã, eu não estaria lá. Nem de estradas, nem de autoestradas, nem de pontes, nem de coisa nenhuma. Estaria lá com certeza o senhor ministro da Economia em representação do Governo", afirmou Passos Coelho.

Já antes o líder do PSD tinha afirmado que o seu Governo, ao resgatar a obra, “permitiu, apesar dos inconvenientes resultantes do atraso na conclusão da obra, ainda assim poupar cerca de mil milhões de euros ao erário público".
O túnel em números
O Túnel do Marão é o maior da Península Ibérica, com 5,6 quilómetros. A nível mundial fica ainda muito atrás da maior infraestrutura rodoviária do mesmo género, que tem mais de 24 quilómetros e situa-se na Noruega.

Entre as várias polémicas que suscitou ao longo dos anos, um dos principais pontos de conflito esteve sempre relacionado com os custos, que chegaram a ditar a interrupção da obra. 

No total, foram investidos 398 milhões de euros, dos quais 89 milhões foram provenientes de fundos comunitários. 


A infraestrutura foi projetada com uma iluminação especial e está dividida em partes, o que transmite aos condutores a sensação de atravessar vários túneis. A velociade máxima permitida é de 100 quilómetros por hora.

A segurança foi desde sempre uma das grandes prioridades. O túnel está equipado com um sistema que ultrapassa os mínimos exigidos, composto por 16 subsistemas de segurança controlados por um software de gestão centralizado. O centro de controlo remoto situa-se em Almada, na sede da Infraestruturas de Portugal.

Inclui 13 passagens de emergência para pessoas e veículos, com passeios de um tetro de largura para os peões. Existem 120 camaras de vigilância, posicionadas de 120 em 120 metros, 450 megafones a cada 25 metros e 72 ventiladores. A distância entre veículos será controlada através de luzes LED, espaçadas a cada 125 metros.

Tem ainda um sistema de deteção de excesso de altura, que impede a entrada de veículos com altura superior a quatro metros e meio. Ao contrário de outros túneis, o Marão dispõe de rede de telemóvel ao longo de todo o percurso.
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