Viu uma vaca-loura? Avise a Rede Nacional de Monitorização em Aveiro

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Universidade de Aveiro - Direitos Reservados

Não dá leite, não come erva, tem seis patas e mandíbulas que metem medo. Vaca-loura é o nome de uma espécie de escaravelho que vive predominantemente nas matas de carvalhos do país.

Os cientistas da Universidade de Aveiro (UA), a Sociedade Portuguesa de Entomologia e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas criaram uma Rede Nacional de Monitorização da Vaca-loura. Querem saber por onde andam estes enormes escaravelhos. Esta é uma espécie por vezes capturada para fins decorativos.

O site da RTP esteve à conversa com a bióloga Milene Matos, da Universidade de Aveiro, e tentou saber, afinal, o que são estas vacas-louras, que estão em risco de desaparecer e tanta falta fazem à manutenção da flora portuguesa.

Conhecido por ser o maior escaravelho da Europa, o vaca-loura (Lucanus cervus) pode chegar na sua fase adulta - e principalmente os machos - aos oito centímetros de comprimento.

Apesar do seu aspeto agressivo, dotado de grandes mandíbulas, o vaca–loura é inofensivo, a não ser que o provoquem.

É uma espécie em vias de extinção. É por vezes capturada para fins decorativos, o que põe em causa a sua preservação e reprodução. Razão pela qual os cientistas criaram uma rede de monitorização para saber quantos são e onde estão os escaravelhos desta espécie. E pedem a todos quantos avistarem uma vaca-loura que a fotografem.

Esta rede científica diz que não é preciso muito esforço, bastando para isso um simples clique com a máquina fotográfica do telemóvel. Além da foto, são pedidos dados sobre a localização, o dia e hora do avistamento.

As fotos dos escaravelhos, bem como os dados informativos, podem ser registados no site da rede.Os cientistas criaram uma rede de monitorização para saber quantos são e onde estão os escaravelhos. E pedem a todos quantos avistarem uma vaca-loura que a fotografem.

A bióloga Milene Matos refere que a possibilidade de mobilização de cidadãos-cientistas em larga escala é relativamente fácil e a obtenção de dados tem vantagens inegáveis, principalmente quando os recursos financeiros para a ciência e para os projetos de conservação a longo termo estão cada vez mais depauperados.

Além disso, a bióloga refere que “o contacto direto com a natureza, neste caso, com as espécies e os seus habitats, permite um envolvimento dos cidadãos, um sentimento de pertença e uma construção de consciência ambiental verdadeiramente efetivos”.
Inseto em vias de extinção
A vaca-loura, também conhecida como cabra-loura, é uma das muitas espécies de escaravelho existentes em Portugal que correm sérios riscos de desaparecer.

É uma espécie protegida e consta do Anexo II da Diretiva Habitats, no Anexo III da Convenção de Berna, e está classificada como Vulnerável pela IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza.

No caso da vaca-loura portuguesa os registos de avistamento são cada vez menores, sendo que a maior probabilidade de visualização desta espécie se centra nos meses de verão entre junho e julho, podendo ver estes escaravelhos a voar.

O risco de extinção está associado, segundo Milene Matos, às práticas de cultura exercidas no país que deformam o ecossistema onde estas espécies vivem e se reproduzem.

Outrora comum, o escaravelho vaca-loura é cada vez mais difícil de observar.

Este é um inseto de tamanho desmesurado, podendo os machos atingir oito centímetros de comprimento. Alimenta-se de madeira de árvores de folha caduca, como os carvalhos e os castanheiros, já morta e em decomposição.

A degradação da madeira morta é crucial para manter a saúde das florestas, ao permitir a formação de manta morta, a consequente regeneração florestal e a ocorrência de comunidades de outros insetos e fungos, que por sua vez constituem a base de uma série de cadeias alimentares.

A vaca-loura, assim como outros escaravelhos decompositores de madeira, diz a bióloga da Universidade de Aveiro, prestam um serviço ecológico de elevada importância.

As proeminentes mandíbulas que usam para defender o território, a coloração castanha avermelhada e um acentuado dismorfismo sexual- a cabeça e as mandíbulas do macho são muito maiores do que as da fêmea – tornam as vacas-louras inconfundíveis.
Como são
A identificação deste tipo de inseto não apresenta dificuldades de maior. Os machos do Lucanos cervus apresentam mandíbulas em forma de pinça e seu comprimento pode variar entre 2,7 e 5,3 cm (sem contar com as mandíbulas).



As fêmeas, por sua vez, são mais pequenas, variando entre 2,6 e 4,1 cm.

O aspeto geral é brilhante, cabeça e tórax negros e abdómen e pinças acastanhados.

Existem outras espécies semelhantes, mas que se podem distinguir pelo tamanho, cor e segmentos nas antenas.
Onde estão e como se desenvolvem
Esta espécie de escaravelho está associado a bosques e florestas de caducifólias, podendo também ser encontrada em parques e jardins, dependendo de árvores antigas como o castanheiro.

Estes insetos são normalmente noturnos e existem predominantemente na zona norte do país.


Fonte: Naturdata.com/lucanus cervus/2011

O período entre de junho e julho é a época de maior avistamento nos troncos das árvores. É então que os machos e fêmeas acasalam (E).

Após este ritual, o macho morre e a fêmea deposita os ovos em fendas na madeira podre (A).



Os ovos eclodem e nascem as larvas (B), que se alimentam da madeira em decomposição durante um a cinco anos, para depois formarem a pupa (C).

Sofrem depois o processo de metamorfose (D), dando origem a uma fêmea ou macho.

Se vir alguma vaca-loura, fotografe e avise.
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