José Sócrates sai do Partido Socialista

por RTP
Sócrates em 2011 Jose Manuel Ribeiro - Reuters

O ex-secretário-geral do PS e antigo primeiro ministro anunciou ter enviado uma carta ao Partido Socialista a pedir a desfiliação para acabar com o que chama de “embaraço mútuo” depois de críticas da direção socialista que para Sócrates “ultrapassam os limites do que é aceitável”. O antigo dirigente socialista acusa a direção de "injustiça" e de se juntar à direita "na tentativa de criminalizar uma governação".

Num artigo de opinião publicado esta sexta-feira no Jornal de Notícias, José Sócrates argumenta estar a ser alvo de “uma condenação sem julgamento”.

“Na verdade, durante estes quatro anos não ouvi da parte da Direção do PS uma palavra de condenação destes abusos, mas sou agora forçado a ouvir o que não posso deixJosé Sócrates é o principal arguido na Operação Marquês, acusado de vários crimes económico-financeiros, nomeadamente corrupção e branqueamento de capitais.ar de interpretar como uma espécie de condenação sem julgamento”, pode ler-se no artigo assinado pelo antigo secretário-geral do PS e principal arguido da Operação Marquês.

O anúncio de José Sócrates, que aderiu ao PS em 1981, surge depois das declarações do líder parlamentar, Carlos César, de vários militantes do PS e do primeiro-ministro e atual secretário-geral socialista, António Costa, que disse na quinta-feira que ninguém está acima da lei.

O presidente do PS e líder parlamentar socialista, Carlos César, tinha afirmado esta quarta-feira em declarações à rádio TSF que o partido se sente "envergonhado" com as suspeitas que recaem sobre Manuel Pinho, antigo ministro da Economia do Governo de José Sócrates, salientando que a "vergonha é ainda maior" no que diz respeito ao processo de Sócrates por se tratar de um antigo primeiro-ministro.

No artigo de opinião, Sócrates diz ter escrito esta espécie de adenda ao artigo que inicialmente tinha elaborado sobre Manuel Pinho, por ter ouvido Carlos César.

“Desde sempre, como seu líder, e agora nos momentos mais difíceis, encontrei nos militantes do PS um apoio e companheirismo que não esquecerei. Mas a injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político", sublinhou Sócrates.

"Considero, por isso, ter chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo. Enderecei hoje uma carta ao partido Socialista pedindo a minha desfiliação do partido", anuncia no artigo de opinião.

“Durante quatro anos defendi-me das acusações falsas e absurdas que me foram feitas”, diz Sócrates elencando os casos do apartamento em Paris, a PT, Parque Escolar, TGV e a relação de proximidade a Ricardo Salgado. “Durante quatro anos suportei todos os abusos”, diz, remetendo para a “encenação televisiva da detenção para interrogatório, a prisão para investigar, os prazos de inquérito violados sucessivamente”, entre outros pontos. Casos que a Direção do PS nunca veio condenar, lembra.

No artigo de opinião, critica a justiça e nega que o nome de Manuel Pinho para fazer parte do seu Governo tenha sido sugerido pelo antigo presidente do Grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado.

Sócrates chama de “ignóbil intrujice” a ideia de que o nome de Manuel Pinho tenha sido sugerido por Ricardo Salgado e reafirma que ele não fazia parte do grupo de amigos ou dos círculos sociais do antigo líder do BES.

No artigo de opinião hoje publicado, o antigo primeiro-ministro reafirma que o Ministério Público deve "provar o que diz".

"Não, não pactuo com a operação em curso de inverter o ónus da prova como, de forma geral, os jornalistas e os ativistas disfarçados de comentadores têm feito: o primeiro dever de um Estado decente é provar as gravíssimas alegações que faça seja contra quem for, ainda que estas tenham sido, como habitualmente feitas pela comunicação social", disse.

No entender de José Sócrates diz que "não é o próprio que tem de se defender ou de provar que é honesto ou inocente; é quem acusa que tem o dever de provar o que diz".

José Sócrates esclarece que a escolha que fez de "Manuel Pinho como porta-voz do PS para a área da economia, e mais tarde para o Governo, aconteceu naturalmente na decorrência da colaboração que este há muito prestava na condição de independente, ao PS, como conselheiro económico, do então líder Ferro Rodrigues".

"Foi aí, nessa condição de membro do chamado grupo económico da Lapa (por reunir regularmente no Hotel da Lapa), que o conheci e que desenvolvemos um trabalho comum que viria a culminar no convite que lhe fiz", disse.

Sócrates escreve ainda que vê em Manuel Pinho “um homem honesto e incapaz” das acusações que lhe são imputadas de receber um vencimento privado enquanto exercia funções públicas.

O caso que envolve o ex-ministro da Economia foi noticiado, em 19 de abril, pelo jornal 'on-line' Observador, segundo o qual há suspeitas de Manuel Pinho ter recebido, entre 2006 e 2012, cerca de um milhão de euros.

Os pagamentos, de acordo com o jornal, terão sido realizados a "uma nova sociedade 'offshore' descoberta a Manuel Pinho, chamada Tartaruga Foundation, com sede no Panamá, por parte da Espírito Santo (ES) Enterprises - também ela uma empresa 'offshore' sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas e que costuma ser designada como o 'saco azul' do Grupo Espírito Santo.

c/Lusa
Tópicos
pub