Marcha pela escola pública e "contra ninguém" enche centro de Lisboa

por Carlos Santos Neves - RTP
“Não é uma marcha contra ninguém, nem contra os colégios privados”, quis enfatizar o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira Inácio Rosa - Lusa

Em defesa de uma escola pública “que tem sido maltratada”, a marcha convocada pela Federação Nacional dos Professores estendeu-se este sábado, com milhares de pessoas, da Praça Marquês de Pombal à Avenida da Liberdade, em Lisboa. Uma iniciativa, sublinhou Mário Nogueira, que não foi promovida “contra ninguém, nem contra os colégios privados”.

“Educação pública de todos e para todos”. Esta foi uma das frases que cunharam a manifestação deste sábado no coração de Lisboa. Convocada em maio pela Fenprof, a iniciativa congregou todas as forças políticas da esquerda parlamentar, mas também representantes do poder autárquico e associações de pais.A marcha foi marcada no final do mês passado, quando os colégios do ensino particular com contratos de associação multiplicavam os protestos contra o corte no financiamento do Estado.


Na base desta marcha esteve a petição em defesa da escola pública, que a Federação Nacional dos Professores fez chegar ao Parlamento. Com mais de 71 mil signatários, entre músicos, académicos e políticos.

Pelo palco da concentração no Marquês de Pombal, que começou cerca das 14h30, passaram, além do número um da Fenprof, Mário Nogueira, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, e a antiga secretária de Estado Ana Benavente. Ouviu-se também a voz dos estudantes.

Ao fazer a primeira intervenção, Mário Nogueira quis deixar claro que esta não seria uma iniciativa “contra ninguém, nem contra os colégios privados”: “É uma iniciativa pela defesa da escola pública, que tem sido maltratada”.

Uma ideia-chave do discurso do sindicalista foi a de que a escola pública fica mais barata para o contribuinte.

“Em média, na escola pública, o aluno custa 3.890 euros. Em média, no privado, um aluno custa 4.522 euros. E não creio que o Tribunal de Contas fizesse estas contas para fazer um jeito a ninguém”, assinalou.

“Não se põe em causa a existência de privados e muito menos o direito dos pais a optarem. A única coisa que acrescentamos é que ao direito de opção, ao direito de escolha, tem que se associar um dever que é o dever de pagar, porque não têm que ser os contribuintes a suportar uma escolha quando existe uma resposta pública que tem qualidade”, frisou Mário Nogueira.
“A escola da Constituição”

O secretário-geral da Fenprof lembraria ainda o desinvestimento no ensino público ocorrido nos anos da governação partilhada por PSD e CDS-PP.

A ouvir a intervenção de Mário Nogueira, integrando-se depois na marcha pela Avenida da Liberdade, estiveram rostos das forças que suportam o Governo socialista, entre os quais Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia, assim como o deputado do PS Porfírio Silva.

Também a porta-voz nacional do Bloco de Esquerda sustentou que a escola pública “tem estado sob ataque nos últimos anos”.

“Teve um corte imenso no número de professores. O número de alunos desceu seis por cento, mas o de professores 20 por cento”, acentuou Catarina Martins.

Por sua vez, o secretário-geral do PCP alinhou pela ideia de que o ensino privado “tem que ser complementar e não substitutivo”. Porque a escola pública, advogou Jerónimo de Sousa, deve ser encarada como “elemento de afirmação, qualificação e contribuição do sector do ensino para um país que precisa tanto de desenvolvimento”.

Porfírio Silva, o coordenador dos socialistas na comissão parlamentar de Educação, referiu-se à escola pública como “essencial para melhorar a igualdade de oportunidades”.

Igualmente ouvida pela reportagem da RTP no local, a deputada do Partido Ecologista “Os Verdes” Heloísa Apolónia afirmou ser “urgente promover uma escola pública de qualidade e uma escola pública democrática, uma escola pública que promova a educação integral do indivíduo”.

“Para isso, nós precisamos de dar meios à escola pública para que ela possa promover esse objetivo, não só a nível do pessoal mas também a nível das edificações, dos materiais, ou seja, há todo um agregado de coisas que em conjunto concorrem para a promoção da escola pública”, reforçou.

“A escola pública é a escola para todos, é a escola do 25 de Abril e é a escola da Constituição”, concluiria a dirigente do PEV.
pub