Secretário de Estado do Ambiente demite-se

por Andreia Martins - RTP
Momento da tomada de posse do secretário de Estado do Ambiente Presidência da República

O secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, apresentou a demissão esta quinta-feira e o pedido já foi aceite pelo primeiro-ministro.

A polémica das relações familiares no Governo levou esta quinta-feira à segunda demissão no executivo de António Costa.

A saída do secretário de Estado do Ambiente acontece algumas horas após a demissão do seu adjunto, Armindo dos Santos Alves, depois de se saber que era seu familiar.
Na quarta-feira, o secretário adjunto Armindo dos Santos Alves – que tinha sido nomeado pelo primo, Carlos Martins, agora demissionário - tinha renunciado ao cargo.

Em nota de imprensa, o Governo informa que Carlos Martins está, neste momento, em representação do Executivo na Costa Rica e informa que, na carta enviada ao primeiro-ministro, o secretário de Estado demissionário garante que agiu por critérios de "boa-fé".

“Estou em missão de trabalho no estrangeiro e tomei conhecimento da polémica em torno da nomeação de um membro da equipa do meu gabinete", refere na missiva enviada ao primeiro-ministro.

O secretário de Estado demissionário explica que tomou esta decisão por entender que a polémica da relação familiar com o adjunto poderia "prejudicar o Governo, o Partido Socialista e o senhor Primeiro-Ministro".

"Ao longo destes anos, enquanto Secretário de Estado do Ambiente, agi sempre por critérios de boa-fé e procurei dar o meu melhor para atingir os objetivos do Governo e do Ministério do Ambiente e da Transição Energética", refere ainda.

Carlos Martins refere na carta que sai de funções governativas "com a mesma honra" que determinou a aceitação das mesmas.
Ministro fala em "importância capital"
Na reação a este pedido de demissão, já aceite pelo Governo, o ministro do Ambiente e Transição Energética, João Matos Fernandes agradeceu "todo o empenho pessoal e político" do secretário de Estado demissionário e destacou ainda "os seus relevantes sucessos, conseguidos ao longo dos mais de três anos em funções".

"Devem destacar-se o processo de fusão dos sistemas municipais de gestão de águas, os novos planos de gestão de recursos hídricos, a condução do processo de adaptação do território às alterações climáticas e uma nova política de gestão para os resíduos sólidos urbanos, fundada nos princípios da economia circular", refere o ministro, numa nota enviada à comunicação social.

As demissões surgem após a polémica da nomeação do primo de Carlos Martins, Armindo dos Santos Alves, para as funções de adjunto do seu gabinete no Ministério do Ambiente, uma informação que foi avançada na quarta-feira pelo Observador.  
Matos Fernandes sublinha ainda que "a ação generosa e esclarecida do Carlos Martins foi de importância capital e deixa um legado de futuro que iremos continuar, desenvolver e aprofundar".

Antes do pedido de demissão deste secretário de Estado, o gabinete do ministo do Ambiente tinha considerado que, com a renúncia ao cargo do seu primo e adjunto, Armindo dos Santos Alves, a polémica tinha ficado "resolvida".

Em declarações ao Observador, o gabinete de João Matos Fernandes destacava que o adjunto tinha sido "nomeado pelo secretário de Estado do Ambiente de boa-fé, com base nas suas competências profissionais”.
Direita pediu a demissão

Carlos Martins assumiu funções como secretário de Estado do Ambiente em novembro de 2015. O primo, Armindo Alves, chegou ao cargo de adjunto em outubro de 2018.
Antes de ser conhecido o pedido de demissão de Carlos Martins, já a direita tinha exigido que o secretário de Estado abandonasse o Governo. Em declarações à RTP3, Fernando Negrão pedia esta manhã a saída de Carlos Martins.

"A responsabilidade política não é do primo, é de quem o nomeou, que foi o secretário de Estado", considerou o líder parlamentar dos social-democratas.

Depois foi a vez de Assunção Cristas, que ao final da manhã expressava a vontade de não voltar a ver Carlos Martins no Parlamento em pleno exercício das suas funções: "Hoje à tarde há debate quinzenal, porventura seria bom que já não tivéssemos esse secretário de Estado no Governo esta tarde".

Cristas afirmou ainda que tem visto "com perplexidade" os casos de familiares no Governo. "Eu creio que o Governo tem de fazer uma reflexão muito profunda, e o primeiro-ministro tem de fazer uma reflexão muito profunda sobre aquilo que se está a passar, e a perceção que cria cá para fora", disse a líder centrista.


Minutos antes de ser conhecida a demissão do secretário de Estado do Ambiente, o presidente do PSD defendeu que os governantes que nomeiam amigos ou familiares devem "obviamente" demitir-se.

"No caso do secretário de Estado do Ambiente é lógico que a responsabilidade é do secretário de Estado que nomeou e não do primo que foi nomeado", afirmou Rio, indo ao encontro do que já tinha sido referido pelo líder da bancada parlamentar.

No entanto, o presidente do PSD preferiu dar ênfase à "proliferação" destes casos "ao nível do aparelho de Estado", nas últimas semanas e assume que não tem uma solução para esta questão, que só poderá ser resolvida pelo próprio primeiro-ministro.

"O problema é que as situações que temos aqui em torno do que chamo a família socialista são de tal ordem que, se eles se começarem a demitir todos, depois a certa altura restam poucos. (...) Isto atingiu um patamar de tal ordem. Eles vão-se todos demitir? São tantos", afirmou Rui Rio.
"Questão de bom senso e transparência"

Do lado do PS, a principal voz que se ouviu nas últimas horas foi a de Ana Catarina Mendes. A secretária-geral adjunta socialista reforçou uma mensagem que tinha sido deixada pelo próprio primeiro-ministro António Costa, no último fim-de-semana: só haveria problemas nesta polémica em caso de nomeações diretas de familiares para cargos no Governo.


O pedido de exoneração acontece numa altura em que são questionadas várias relações familiares entre membros do executivo, incluindo ministros e secretários de Estado. 
“Como já tinha sido dito pelo primeiro-ministro, é profundamente errado e inadequado que um governante possa nomear um familiar. Até ao dia de hoje não era isso que estava em cima da mesa. Por isso mesmo, a demissão do adjunto é uma coisa que me parece evidente, óbvia e normal”, considerou a secretária-geral adjunta socialista, em declarações à SIC Notícias.

Sobre se a nomeação ocorreu devido a uma desatenção do ministro João Matos Fernandes, e uma vez que, até quarta-feira à noite, o secretário de Estado que nomeou o familiar se mantinha no seu cargo, Ana Catarina Mendes reconheceu apenas que a demissão de quarta-feira era "relevante" e que teve "consequências”.

Na minha opinião, um governante e qualquer pessoa que tenha responsabilidades públicas não pode nem deve nomear um familiar. É uma questão de bom senso e de transparência”, frisou a secretária-geral adjunta do PS.

Por outro lado, Ana Catarina Mendes criticou a “campanha de telenovela” que foi “levantada pela direita” nas últimas semanas em relação aos casos de familiares no Governo. Considera que a atenção dada ao assunto é exagerada e que só revela que não existe, na oposição “um projeto nem ideia política para o país”.
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