Investigadores portugueses utilizam nanotecnologia na investigação molecular genética

por Nuno Patrício, Sara Piteira - RTP
José Rueff, coordenador do Centro de Investigação em Genética Molecular Humana e Diretor do Departamento de Genética da Escola de Ciências Médicas da Nova Foto: Nuno Patrício - RTP

O tratamento médico a nível molecular é um dos principais objetivos dos investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Faculdade de Ciências Médicas/UNL, que visa o combate e aplicação de novas terapêuticas em doenças neoplásicas, ou seja diferentes tipos de cancro. A nanotecnologia está a tornar-se a arma primordial para uma verdadeira revolução no combate a esta doença.

Combater e erradicar doenças como o cancro da mama, entre outros, é o objetivo para o qual trabalham dezenas de investigadores do ITBQ - Instituto de Tecnologia Química e Biológica, da Universidade Nova de Lisboa.

É neste rumo, ainda difícil, dentro da ciência médica, que o campo da genética molecular tenta alterar o paradigma da evolução microbiológica nos seres humanos.



Nanotecnologia é a ciência relacionada à manipulação ao nível molecularJosé Rueff, coordenador do Centro de Investigação em Genética Molecular Humana e Diretor do Departamento de Genética da Escola de Ciências Médicas da Nova, esteve à conversa com o Online da RTP, tendo explicado em que consiste todo o trabalho de investigação feito pelo departamento de genética molecular da Nova.
O que se pode fazer com a nanotecnologia combinada com a genética
A designada “nanotecnologia”, que ainda é vista por muitos como incluída no campo da ficção, já se aplica em diversas áreas na construção e reconstrução molecular de objetos físicos.

O campo científico da saúde é também uma área onde este tipo de tecnologia é já utilizado muito embora numa fase experimental e primária.

Neoplasia, também denominada tumor, é uma forma de proliferação celular não controlada pelo organismo, com tendência para a autonomia e perpetuação.

As neoplasias podem ser benignas ou malignas, de acordo com o seu potencial de causar danos ao indivíduo.


Segundo o investigador José Rueff, as técnicas de diagnóstico utilizadas através de nano tecnologia, podem resultar em soluções de enorme vantagem.



Rápida eficiência e boa sensibilidade em locais onde não é fácil ter outro tipo de método de análise microbiológica, como por exemplo em trabalhos e estudos que visam o "Terceiro Mundo" ou regiões tropicais.

É neste campo que várias equipas de investigadores da Universidade Nova de Lisboa estão a trabalhar, aproveitando sistemas com base na “nanotecnologia”, no Instituto de Higiene de Medicina Tropical da UNL .

“A bactéria pode viver no seu estado normal, vive reproduz-se multiplica-se, tem um bom metabolismo, (…) ou podem em condições de adversidade evoluir para um estado de esporo. É como se fosse uma semente que anda no ar”, refere o professor Rueff.

“Por exemplo, todos se lembram quando houve o 11 de setembro nos Estados Unidos. A preocupação do que ia dentro das cartas, como o Antrax , que é um bacilo da mesma família."
A investigação na área da genética de microrganismos pode ajudar a compreender determinadas elevadas taxas de morbilidade para a espécie humana, como por exemplo a “Estafilococos”, um tipo de bactéria que normalmente é causadora de infeções tipicamente adquiridas em meio hospitalar e que se transmitem de paciente para paciente.

Com uma população cada vez mais idosa, e cada vez mais vulnerável, as bactérias podem induzir efeitos nefastos que dão origem às infeções.

A compreensão dos mecanismos de resistência antibiótica destes "estafilococos" é para a comunidade cientifica da maior importância, e essa é uma das áreas que o Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova da Lisboa trabalha, contribuindo assim com uma mais valia para o conhecimento destes microorganismos.
Microbiologia ou Genética microbiológica
Todos nós já fomos afetados por uma constipação ou gripe. Uma infeção a nível respiratório que provoca obstrução das vias nasais e respiratórias.

Por vezes o não tratamento adequado ou recorrido fora do tempo de incubação, dá origem a uma infeção bacteriana que leva uma simples constipação a degenerar numa pneumonia.

É precisamente neste campo, segundo o investigador e professor de genética molecular da Nova, José Rueff, que a genética tenta compreender os mecanismos da patogenicidade do organismo da resistência a antibióticos, entre outros.

“A bactéria pode viver no seu estado normal, vive, reproduz-se multiplica-se, tem um bom metabolismo, (…) ou pode em condições de adversidade evoluir para um estado de esporo. É como se fosse uma semente que anda no ar”, refere o professor Rueff.

“Por exemplo, todos se lembram, quando houve o 11 de setembro nos Estados Unidos, da preocupação com o que ia dentro das cartas, como o Antrax, que é um bacilo da mesma família. “

Os esporos criados por estas bactérias tornam-se em veiculos fáceis para a transmissão de doenças, que se forem como o bacilo “Antracis” podem mesmo transformar-se numa situação de elevada gravidade.



Para o professor, a nanotecnologia aplicada de forma correta e direta pode ser a ferramenta de que a comunidade científica necessita para minimizar riscos ou erradicar bactérias ou mesmo para áreas mais complicadas de manipulação genética como as neoplasias mamárias (cancro mamário).

Uma investigação translacional que visa “não é apenas da bancada do laboratório para a bancada do laboratório, mas também da bancada do laboratório para a cabeceira do doente e vice versa.


Um conhecimento aberto, segundo o investigador da Universidade Nova Lisboa, pode beneficiar e que se traduz em resultados palpáveis e publicados em revistas cientificas, passiveis de serem lidas e replicadas na comunidade médica.

Estes trabalhos, apesar de estarem já a ser executados clinicamente, ainda não estão acessíveis à generalidade dos doentes do Serviço Nacional de Saúde, visto ainda servirem apenas como teste de diagnóstico.

Para o Diretor do Departamento de Genética da Escola de Ciências Médicas da Universidade Nova, o próximo passo é precisamente a aplicação e a abertura à comunidade destes testes genéticos.

No entanto, para o investigador, este saber adquirido nas universidades não deve ser aplicado pelas mesmas, servindo sim de base a outras entidades ligadas ao setor da saúde para a sua aplicação e utilização.



Nanotecnologia: uma ciência invasiva

Nunca existe nada que signifique tudo e nada. A experiência de anos e séculos de investigação médica mostram que a via do meio é a mais larga e pode ajudar em muita coisa.

Para o investigador José Rueff da UNL, a utilização de meios modernos e inovadores, como é o caso da nanotecnologia, não vai trazer o que designa como “caixa de pandora” e alterar qualitativamente as diversas investigações em curso nas diversas ciências onde intervém.

“É uma ferramenta de uma importância muito grande. Tudo o que seja miniaturizar e simplificar para diagnosticar melhor, seja por diagnóstico que é feito através do sangue ou a urina do doente, ou por outros meios tecnológicos mais finos no interior do corpo humano, tudo isso não vai necessariamente trazer alterações qualitativas e há sempre uma gradação e o meio é sempre o que vai surgindo de novo para problemas que são problemas de sempre.”

O investigador e cientista refere que a nanotecnologia, aplicada ás ciências, pode entrar dentro do "paradigma de Kuhn", em que dentro de uma sequência de períodos de ciência dita como normal, a comunidade de pesquisadores é interrompida por revoluções científicas.

Para Kuhn a ciência segue o seguinte modelo de desenvolvimento: uma seqüência de períodos de ciência normal, nos quais a comunidade de pesquisadores adere a um paradigma, interrompidos por revoluções científicas (ciência extraordinária).


Técnica "nanogenética" utilizada no combate ao cancro

O cancro é uma das metas em que a aplicação da nanotecnologia está a ser utilizada como ferramenta de extrema utilidade.

Poder entrar nas células e transformar ou inibir o seu ciclo normal de reprodução, pode com a utilização de novas terapêuticas ligadas à nanobiologia dar lugar a um novo avanço de paradigma na área da saúde.

A mudança pode inverter o número alarmante de neoplasias existentes no seio da comunidade humana, como refere o investigador José Rueff:

“ Uma em cada três pessoas tem cancro (…), era bom que fosse um em cada mil mas não é. Detetar precocemente quem é que pode ter maior susceptibilidade para neoplasia, é uma coisa que pode ser importante para começara fazer uma vigilância mais precoce e já mais dirigida ao fator que é a susceptibilidade.”

Para o investigador, a hereditariedade no campo das neoplasias é apenas uma das causas menores, referindo que o principal factor cancerígeno no corpo humano é o tabaco, seguido do factor alimentar e só por ultimo de causas genéticas e hereditárias.


A nanotecnologia é, assim, vista pela comunidade científica, como um instrumento cirúrgico e de precisão, tal como um “míssil teleguiado” que pode destruir ou reconstruir, em alguns casos, as células anómalas no corpo humano (terapêutica dirigida a alvo).

Estes temas em debate vão ser aprofundados no simpósio, esta sexta-feira, dia 9 de outubro, na reitoria da Universidade Nova de Lisboa e que visa o conhecimento e troca de experiencias na área da saúde e bioquímica.
Um "Workshop" como troca de saberes

O "workshop" destina-se a mostrar - por via de comunicações e apresentação de estudos - o que de melhor se tem feito no âmbito da Genética nas unidades orgânicas e nos institutos de investigação da Universidade Nova como o ITQB - Instituto de Tecnologia Química e Biológica -, Faculdade de Ciência e Tecnologia ou a Faculdade de Ciências Médicas.

Ao longo do dia estão programadas apresentações de estudos e outras intervenções de diversos especialistas daquela Universidade  sobre temas que irão desde a nanotecnologia e as novas tecnologias aplicadas à Genética, análises de susceptibilidade genética a doenças crónica-degenerativas como o cancro, tendo especial destaque o cancro mamário.

Para além destes outros estudos vão ser debatidos por exemplo os mecanismos genéticos de resistência a determinados fármacos ou a facilidade da formação de tumores, entre outros assuntos.
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