Agentes culturais de Coimbra acreditam no potencial do Convento São Francisco

por Lusa

Os agentes culturais de Coimbra acreditam que com diálogo será possível potenciar o Convento São Francisco, espaço que a Câmara de Coimbra reabre na sexta-feira após um investimento de 42 milhões de euros.

"A expectativa comum na cidade é a de um equipamento que vem introduzir uma nova escala" e que "vai aumentar a economia da cultura" em Coimbra, disse à agência Lusa o diretor do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), Fernando Matos de Oliveira, considerando que seria importante que essa expansão da economia "envolvesse as várias estruturas".

Essa promoção de diálogo ainda não foi encontrada pelo diretor da companhia Escola da Noite, António Augusto Barros. Para além de uma visita ao local, "não houve discussão, nem resumida, nem alargada", conta.

"No horizonte, está um poder executivo que se preocupa em reclamar para si a iniciativa cultural, em que é a própria Câmara que faz e organiza. Quando há autonomia, não há interesse em investimento. Assim não há uma cidade equilibrada", afirma.

O diretor do Jazz ao Centro Clube (JACC), José Miguel Pereira, sinaliza a falta de "uma reunião que envolvesse a generalidade dos agentes culturais". Para esta associação, a articulação, "que tem existido, mas que pode ser muito maior", é uma das chaves para um "maior sucesso" do Convento.

O diálogo sempre foi definido pela Câmara de Coimbra e pelo consultor programático do espaço, João Aidos, "como algo estratégico", aponta o diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), Carlos Antunes.

No entanto, "seria melhor se esse diálogo fosse mais regular e menos dependente de incertezas do modelo de financiamento".

Para o diretor do CAPC, é necessário "criar um modelo" em que "todos os interesse culturais" da região estejam representados no Convento, para que este se assuma como uma alavanca identitária da região, à imagem de Serralves, no norte do país.

O São Francisco "pode ser uma espécie de Serralves - um elemento agregador -", mas o seu sucesso, diz a diretora d`O Teatrão, Isabel Craveiro, "depende muito da fórmula de diálogo que se encontre entre todos".

Caso não haja cooperação, corre-se o risco de "programações sobrepostas e desorganização de oferta", frisa.

O presidente da Capital Nacional da Cultura Coimbra 2003, Abílio Hernandez, considera que "há uma recusa do presidente da Câmara [Manuel Machado] em proceder a uma discussão aberta do projeto", exemplificando com a contratação por ajuste direto de João Aidos, cuja "competência não está em causa".

Seria necessário "uma estrutura autónoma e não dependente do poder político", salienta, recordando o caso do Centro Cultural de Belém (CCB), que se foi "definhando" por causa dessa "ausência de autonomia".

Já o presidente da Câmara, o socialista Manuel Machado, sublinha que a Câmara tem promovido visitas dos agentes culturais ao Convento.

A autarquia pretende que haja "uma interação com os outros agentes" e está aberta "a ouvir todos os contributos".

"Não vamos é criar órgãos que vão burocratizar ainda mais, face ao quadro legal existente, o funcionamento" do espaço, sublinha.

A possibilidade de uma espécie de conselho consultivo fica para depois, "na eventualidade de ser criada uma fundação ou uma empresa municipal", refere.

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