Encontrados em Évora esqueletos de vítimas da Inquisição junto com lixo

por RTP
Um dos esqueletos encontrados em Évora DR

Uma equipa de arqueólogos da Universidade de Coimbra descobriu em Évora, durante uma escavação de rotina, os corpos de três homens e nove mulheres que a Inquisição enterrou junto com lixo.

O resultado da investigação fora referido na mais recente edição do Journal of Anthropological Archaeology e foi ontem retomado em artigo da arqueóloga Kristina Killgroveda, da Universidade da Florida, no site da revista Forbes.

A autora refere que o achado se deve à equipa constituída por Bruno Magalhães, Teresa Matos Fernandes, e Ana Luísa Santos, que escreveram o artigo para aquela publicação especializada.

Os esqueletos completos encontrados são de 12 pessoas, e além desses existe um milhar de ossos dispersos, de mais 16 pessoas. As ossadas foram encontradas no meio de vestígios que, uma vez analisados, se apurou serem de lixo doméstico.

Um estudo detalhado das plantas arquitectónicas, levado a cabo com a participação do arquitecto Matheus do Couto, apurou que o local onde os corpos foram "despejados sem cerimónias" era uma lixeira da prisão ligada ao Tribunal da Inquisição de Évora.

É de supor que haja mais cadáveres no local, porque a escavação abrangeu aproximadamente um oitavo da área  da lixeira.

Cruzando a informação patente nas ossadas e a que resulta das plantas arquitectónicas, chegou-se à conclusão de que a lixeira terá sido usada no lapso de tempo que vai de 1568 a 1634.

Os arqueólogos referem que não há nestes cadáveres indícios de que as pessoas em causa tenham sido torturadas, e observam que as condições desumanas das cadeias da Inquisição muitas vezes tinham consequências fatais para as pessoas presas.

Colocava-se então o problema do que fazer com os cadáveres, visto que a lei negava um funeral cristão às pessoas condenadas pela Inquisição. E havia normas estritas sobre o modo de enterrar as vítimas, conforme o delito de que viessem condenadas.

Assim, por exemplo, as pessoas condenadas por bruxaria eram enterradas com a cara para baixo e as condenadas por islamizarem eram deitadas de lado. Como os cadáveres encontrados agora se encontravam nas posições mais diversas, sem nenhuma ordem identificável, viu-se aí mais um indício de que terão sido simplesmente despejados na lixeira.

Segundo o artigo do três arqueólogos, "o objectivo deste tratamento indigno dos mortos era não só castigar o seu corpo mas também enfraquecer e destruir a sua alma, devido aos seus alegados desvios religiosos".

Pode, em todo o caso, presumir-se que a maioria das vítimas fosse acusada de judaizar, porque é de judaismo que se acusa a maioria das pessoas constantes do livro de registos do Tribunal da Inquisição em Évora.
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