Monumentos de Macau classificados têm marca de Portugal

por Agência LUSA

Por José Costa Santos, da agência Lusa.

Já foram escola, locais de culto, residência de governadores e pontos estratégicos da defesa de Macau e estão agora numa lista de monumentos e locais que a China levou à UNESCO para que fossem considerados património da humanidade.

A economia de Macau cresce a um ritmo alucinante, a construção não pára dia e noite, os "neons" dos casinos que alimentam as finanças públicas projectam mil cores e dão um colorido especial à cidade.

Mas lado a lado com a face moderna da urbe existe um património construído ao longo dos 450 anos da presença portuguesa que marca a diferença e torna Macau numa cidade irrepetível.

Do alto da Colina da Guia, junto à Fortaleza que alberga o farol - o mais antigo do Oriente - que hoje já só serve de atracção turística, o contraste da cidade é forte com os prédios e de design moderno a "tocarem o céu" e a "cobrirem" os pequenos edifícios da cidade velha.

No ponto mais alto da península de Macau, a 82 metros acima do nível do mar, ergue-se a Fortaleza da Guia, construída entre 1622 e 1638.

Postos de sentinela, depósitos de munições, torres de vigia, túneis e posições de defesa da cidade ditaram a interdição desta área militar até 1976, altura em que foi inaugurada como atracção turística.

No percurso pelos monumentos históricos, segue-se a Fortaleza do Monte, onde hoje está instalado o Museu de Macau, uma fortificação cuja construção foi iniciada pelos padres jesuítas em 1617 e concluída em 1626.

A Fortaleza do Monte era um dos principais pontos de defesa da cidade, estava apetrechada com canhões, poços, e um arsenal que continha munições e mantimentos suficientes para sobreviver a um cerca que durasse até dois anos e foi residência de Francisco de Mascarenhas, o primeiro governador de Macau.

Com uma área de cerca de 10.000 metros e muros em redor que variam entre os 2,7 metros e os nove metros construídos de terra batida reforçados com estuque de conchas de ostra triturados, a fortaleza é um símbolo da amizade secular entre portugueses e chineses já que os seus muros virados para o continente chinês não possuem ameias porque esta foi construída para defesa contra ataques provenientes do mar.

Ao lado da Fortaleza surge a fachada do que foi a igreja da Madre de Deus, conhecida pelas Ruínas de São Paulo, construída entre 1603 e 1640.

O colégio de São Paulo, que estava ligado à igreja, considera- se ter sido a primeira universidade do Estremo Oriente e seguia um programa académico de padrões bastante elevados até que em 1835 seria destruído por um grande incêndio.

Descendo a escadaria defronte das Ruínas de São Paulo e virando para o lado direito encontram-se o pequeno Templo chinês de Na Tcha, construído em 1888, com apenas cinco metros de comprimento, pouca decoração e com um telhado de duas águas de estilo Yingshan, e a secção da antiga muralha cuja construção, apesar de ser muito fraca, remonta a 1569.

Tendo como material principal de construção o chunambo, um material local obtido com a mistura de barro, areia, palha de arroz, pedras e conchas de ostras compactadas em camadas, a secção da muralha tem 18,5 metros de comprimento, 5,6 metros de altura e 1,08 metros de largura com uma abertura arqueada de 1,8 metros de largura e 2,8 metros de altura.

Mais à frente ergue-se a Casa Garden, ao lado do Jardim Camões, e sede em Macau da Fundação Oriente.

A rua da Palha dá acesso a São Domingos, no Largo do Senado, que hoje ostenta a calçada à portuguesa e se transformou no principal "centro comercial" de Macau aos fins-de-semana, onde está situada a Igreja de São Domingos e ao lado da Sé Catedral de Macau, outra das jóias do património.

Na grande praça surgem ainda os edifícios da Santa da Casa da Misericórdia e do Senado caiados de branco que os destaca dos restantes do local.

O edifício da Santa Casa tem uma estrutura de granito e tijolo, é de características neoclássicas de aparência nobre e refinada e alberga a sede da instituição criada em 1569 pelo primeiro bispo de Macau, D.Belchior Carneiro, com o mesmo espírito e fins da instituição congénere criada por D.Leonor em Portugal.

O edifício do Leal Senado, construído em 1784, alberga actualmente a sede do Instituto dos Assuntos Cívicos e Municipais de Macau, a instituição que substituiu a Câmara provisória depois de extinto o Leal Senado com o fim da administração portuguesa.

Na verga da segunda porta do edifício, já no interior o hall, está inscrito "Cidade do Santo Nome de Deus, Não Há Outra Mais Leal", uma distinção atribuída em 1654 pelo rei D.João IV que pretendia distinguir os homens bons da cidade que mantiveram a lealdade a Portugal durante o domínio espanhol.

Do centro da cidade, sobe-se a Calçada do Tronco Velho para encontrar o Teatro D.Pedro V, construído em 1860 após petição de residentes e que recebeu o nome do monarca que governo o reino português até ao ano seguinte à inauguração do espaço cultural que se tornou famoso junto da comunidade, principalmente a macaense.

Mesmo ao lado está o seminário de S.José com a sua igreja concluída em 1758, 12 anos depois de iniciada.

Até à barra, onde está situado o Templo de A-Má, a deusa protectora da cidade e dos pescadores onde portugueses e chineses se encontraram pela primeira vez na China, construído no século XV, fica ainda a conhecer-se igrejas como a de São Lourenço, Santo Agostinho, a secção da antiga muralha da cidade, a Casa do Mandarim, o Quartel dos Mouros, o largo do Lilau da memória macaense, a casa de Lou Kau, a biblioteca Sir Robert Ho Tung.

Construída em 1881, a casa do Mandarim foi residência do eminente pensador reformista chinês Zheng Guanying, que publicou vários livros que são hoje clássicos da literatura chinesa, e do seu pai Zheng Wenrui.

Com uma área de cerca de 4.000 metros o edifício, que está em fase final de recuperação, consiste num conjunto de estilo chinês tradicional incluído vários edifícios construídos essencialmente em tijolo cinzento chinês tradicional.

Antes de chegar à barra, ergue-se ainda o Quartel dos Mouros, datado de 1871 e que foi baptizado pelos portugueses por aí se encontrar alojado o contingente indiano de Goa transferido para Macau para reforçar a polícia local na manutenção da ordem e da paz. É de estilo neoclássico de pedra e tijolo com algumas influ6encias mouriscas que lhe conferem um aspecto exótico.

No Largo da Barra, o templo de A-Má é um "exemplo representativo da cultura chinesa" inspirada pelo Confucionismo, Tauismo, Budismo e por diversas crenças populares. No aniversário da deusa, ao 23º dia da terceira lua do calendário lunar chinês, o largo é palco de vários espectáculos de rua e durante o ano novo chinês, o templo enche-se de pedidos de protecção e agradecimentos das graças recebidas no ano anterior.

O interior do Templo de A-Má é constituído pelo pavilhão de entrada, o arco memorial, o templo das orações, o templo da benevolência, o Templo de Guanyin e de Zhengjiao Chanlin - um pavilhão budista - e cada um formando uma pequena parte do complexo bem ordenado enquadrado no ambiente natural da Colina da barra.

Pedra sobre pedra, tijolo sobre tijolo, o património de Macau, hoje da Humanidade, foi construído ao longo de quase cinco séculos e só a convivência entre portugueses e chineses possibilitou manter de pé a singularidade que marca a diferença da Região Administrativa Especial do resto da China e do mundo e que contou para a aprovação na UNESCO com o apoio incondicional de Portugal.

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