Museu ambulante vai percorrer a República do Gana

por RTP
Ofoe Amegavie/ ANO

Todas as regiões do país africano vão receber a visita de um “museu quiosque” recheado de fotografias, documentos e artefactos culturais. Nana Oforiatta Ayim, escritora e realizadora natural do Gana, foi quem teve a ideia de construir este contentor sobre rodas. Ayim é também fundadora da ANO, um espaço artístico sem fins lucrativos em Acra, a capital do país.

A ideia foi inspirada por um traço característico da arquitetura africana: a utilização de contentores semilegais que estão presentes na maioria das regiões por todo o continente e que são habitualmente usados para o comércio. Mecânicos, cabeleireiros ou vendedores de mercearias são alguns dos utilizadores destes espaços reduzidos.

DK Osseo-Asare, arquiteto que passou mais de uma década a estudar a cultura dos quiosques e a criar novas unidades no Gana e na Nigéria, colaborou com Ayim no recente projeto. Osseo-Asare critica as políticas governamentais que têm vindo a destruir as estruturas metálicas nos últimos anos.

Latifah Idriss, arquiteta ganesa que também colaborou com Ayim no desenvolvimento dos museus alternativos, afirmou ao diário britânico The Guardian que os contentores “não são considerados como apropriados” pelo Governo pois, “num país com falta de riqueza, as estruturas representam a arquitetura da pobreza”.

Um dos objetivos de Ayim é contrariar esta aversão pelos quiosques e celebrar a sua estrutura informal. Em dezembro a artista vai iniciar uma rota que passa pelas dez regiões do Gana, começando pela cidade de Acra.
"Uma ferramenta de aprendizagem"
Segundo Ayim, a exposição no interior do quiosque vai ser diferente em todas as localidades. A organizadora pede aos visitantes que tragam objetos - fotografias, vídeos, documentos ou cartas antigas - que possam ser expostos dentro do museu de modo a que outras pessoas possam interagir com os mesmos.
“Penso que é importante questionar, em cada fase, como se adequa determinado modelo ao contexto em que alguém habita”, afirmou Ayim.
A criadora deste projeto teve em consideração o modo como a cultura material pode ser apresentada de forma a manter-se mais ligada às tradições locais. Por essa razão, Ayim considera que as galerias em espaços tradicionais não fazem sentido em regiões ou países como o Gana, onde a arte representa um papel diferente na sociedade.

Mas os “museu quiosque” já foram estreados em eventos anteriores. O festival de arte urbana Chale Wote, em Acra, apresentou este ano um destes contentores. Nana Boateng, uma das visitantes do espaço, afirmou ao The Guardian que “a maioria das pessoas de Gana compra o pão e o leite nestes espaços, por isso não vão ficar intimidadas ao entrar”.

Acredita ainda que a utilização de um modelo tão familiar às populações para fazer uma exposição artística é "uma ferramenta de aprendizagem brilhante e muito pertinente”.
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