Obras de Vergílio Ferreira e de Mário Dionísio são mote para ciclo no CCB

por Lusa

Os centenários dos nascimentos dos escritores Vergílio Ferreira e Mário Dionísio são o mote para um ciclo de conferências no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, coordenado pela catedrática de Literatura Maria Alzira Seixo, que tem hoje início.

O ciclo que, além de hoje, às 18:00, conta ainda com sessões nos dias 22 e 29 deste mês, e nos dias 07 e 14 de março, sempre às 18:00, intitula-se "Vergílio Ferreira e Mário Dionísio: Literatura, pensamento e arte".

"Vergílio Ferreira e Mário Dionísio iniciam-se como neorrealistas, mas o primeiro afasta-se em `Mudança`, [romance saído em] 1948, atraído pelo romance existencial de [Jean-Paul] Sartre e [Albert] Camus, que nele conduz a obras-primas tais `Aparição`, `Estrela polar` e `Nítido nulo`", afirma Alzira Seixo, no texto de apresentação do CCB, acrescentando que o escritor tentou a poesia, "mas é no ensaio que prolonga a profundidade da sua ficção, que tem no extenso diário de `Conta-corrente` importante contraponto".

"Ao invés, Mário Dionísio é poeta do `Novo Cancioneiro`, de obra lírica, em que `Memória dum pintor desconhecido` e `Terceira idade` contêm do seu melhor, com `Le feu qui dort`, em francês", prossegue a investigadora.

"De intensa atividade pedagógica e estética (`A paleta e o mundo`), dá-nos ainda belíssimos contos, em `O dia cinzento` e `Monólogo a duas vozes`, e o romance `Não há morte nem princípio`, [publicado em] 1969, ímpar na nossa ficção", afirma Alzira Seixo.

Vergílio Ferreira (1916-1996), aos 12 anos, decidiu entrar no Seminário do Fundão, de onde saiu aos 18 anos. Não seguiu a vida religiosa, licenciou-se, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Filologia Clássica, em 1940, e iniciou carreira como professor liceal.

Ao longo do seu percurso, como escritor, recebeu vários prémios entre os quais o D. Dinis, em 1981, o P.E.N. Clube de Novelística, por duas vezes, em 1984 e 1991, o de Ensaio, em 1993, o da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1984.

Foi ainda distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, em 1987 e em 1993, respetivamente por "Até ao fim" e "Na tua face", e o Prémio Camões, em 1992.

Mário Dionísio (1916-1993), tal como Vergílio Ferreira licenciou-se em Filologia Românica, também em 1940, mas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor liceal e, após o 25 de Abril de 1974, na Faculdade de Letras de Lisboa.

Foi autor de poesia, conto e romance, fez crítica literária e de artes plásticas, tendo sido também pintor. Assinou algumas telas com pseudónimos como Leandro Gil e José Alfredo Chaves, tendo participado nas Exposições Gerais de Artes Plásticas de finais da década de 1940 e princípios da seguinte.

Dionísio realizou conferências, e colaborou em diversas publicações periódicas, designadamente as revistas Seara Nova, Vértice e Mundo Literário, e nos jornais Gazeta Musical e Diário de Lisboa, de onde saiu em 1960, para colaborar na secção "Testemunhos", do vespertino A Capital, criada por Mário Neves, Norberto Lopes e Álvaro Salema, que também tinham deixado o Diário de Lisboa.

Prefaciou obras de autores como Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires e Alves Redol.

Em 2008 mais de meia centena de familiares, amigos, ex-alunos, ex-assistentes, conhecedores e estudiosos da obra de Mário Dionísio, criaram a A Casa da Achada - Centro Mário Dionísio, que abriu portas em Lisboa, em setembro de 2009, para a salvaguarda e divulgação do seu espólio.

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