Tabuleiros em Tomar - Uma festa secular

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Nuno Patrício - RTP

Volta este ano às ruas tomarenses a grande festa em honra ao Divino Espírito Santo também conhecida por Festa dos Tabuleiros. Um cortejo popular que leva até ao centro da cidade templária centenas de "fregueses" vestidos a rigor e com os tradicionais e populares tabuleiros. Uma festa que apenas se realiza de quatro em quatro anos e que leva milhares de pessoas a visitar a cidade de Tomar.






Ruas Populares Ornamentadas

A rotunda à entrada de Tomar dá uma pequena amostra do que se vê nas ruas da cidade. Durante a Festa dos Tabuleiros não há paredes sem flores nem pessoas sem sorrisos. A cor é a rainha destes dias que voltam para animar tomarenses e visitantes.

Os lençóis brancos e as fitas vermelhas impedem quem circula por Tomar de entrar em algumas ruas. Os mais curiosos tentam espreitar entre panos para desvendar o resultado final.

Moradores, amigos e conhecidos juntam-se para criar a ornamentação. São meses de trabalho.

As flores de papel feitas à mão são espalhadas pelas paredes e pelo chão. Prendem-se enfeites em arame para forrar as casas e estendem-se os tapetes coloridos na calçada. Nos próximos dias, as ruas ornamentadas vão receber centenas de visitantes.
"O grelhador e a mesa improvisados alimenta todos os que por ali passam."
Nas últimas horas antes da abertura das ruas, os termómetros registam 35 graus. Mas o calor não é obstáculo para os decoradores.

Na Rua Dr. Joaquim Jacinto, as laranjeiras de papel misturam-se com o cheiro a grelhados. Luís Campos come uma bifana enquanto dá os últimos retoques.

“A nossa rua é linda”, gritam os moradores em coro, e que passa nesta rua, o grelhador e a mesa improvisada alimenta todos os que por ali passam.

Os homens sobem aos escadotes para colocar as últimas fitas. As mulheres espalham as flores. Foram precisas centenas de resmas de papel para criar toda a decoração.

Margarida Sousa conta que usaram cerca de 200 resmas só para a rua dos cinco sentidos. Neste caminho decorado pela Associação Diferença, a explosão de cor não deixa ninguém indiferente.

As montras e as fachadas das lojas também ganham vida. Os comerciantes estão na rua a colocar vasos e adornos. Lisete Pedro, sempre que há Festa dos Tabuleiros, gosta de fazer ramos alusivos ao tema para vender. "A nossa rua é linda, gritam os moradores em coro."

Coloca sempre flores de papel, espiga e um pequeno pão de plástico. É desta forma que resume, numa pregadeira de dois euros, os significados destes festejos: o pão sinal de virtudes milagrosas e a espiga sinal de fertilidade.

A Rainha Santa Isabel, que deu início à Festa do Espírito Santo, também é homenageada. Na rua de Helena Santos as flores são dedicadas à Rainha.

Às 20h00 de quinta-feira, as Ruas Populares foram abertas ao público e a cor uniu-se ao movimento.



O trabalho, a dedicação e o talento de quem se dedica de alma e coração às ornamentações é, no final, reconhecido. A Comissão de Festas oferece placas que premeiam a Cor, a Harmonia e a Tradição, entre outras categorias, às ruas participantes.

O mordomo, a Comissão e a festa
Na Festa dos Tabuleiros 2015, João Victal é o mordomo. “Estes dias tenho dormido muito pouco”, contou. Este é o terceiro ano que lidera a Comissão, mas em 1981 já ajudava a carregar tabuleiros.

A organização dos festejos começou em abril de 2014. Desde essa altura que o mordomo, em conjunto com os restantes membros, canalizam os esforços para que esteja tudo pronto. "1.600 gostos numa página do facebook denominada - Queremos o João Victal mordomo das Festas dos Tabuleiros 2015."

Durante os dez dias de festa, para além dos cortejos, existem concertos, mostras, inaugurações e exposições.

O trabalho do mordomo torna-se, assim, essencial para coordenar todos os eventos. Para além de João Victal, a Comissão Central conta com a Câmara e Assembleia municipais Municipal, as Juntas de Freguesia da zona e muitos mais elementos.



Sempre que o evento se realiza é escolhido um mordomo. Para 2015, João Victal até teve direito a uma página de apoio no Facebook. Com quase 1.600 “gostos”, a página chama-se “Queremos o João Victal mordomo da Festa dos Tabuleiros de 2015”.


O grande cortejo dos tabuleiros
Vestidas de branco vão formosas as “cachopas” nabantinas.

Uma fita colorida em peito feito, arrematada à cintura para dar mais “graça” a sua senhoria, que tem de carregar o seu tamanho num tabuleiro, com cerca de 20 quilos, enfeitado com 30 pães e flores para integrar o andor.

Já o seu fiel companheiro ao lado vai seguindo, de barrete negro sempre pronto para ajudar a sua dama caso o peso e o vento não ajude tal promessa.

Um caminho de cinco quilómetros pela cidade que se faz com amor e partilha, mas que o calor e o peso da responsabilidade não ajuda a beldade dos mais de 680 tabuleiros e mais de 2.000 representantes, que este ano de 2015 são apresentadas pelas das dez freguesias do concelho de Tomar.


Uma festa centenária em honra do Espírito Santo e uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal, que ocorre de quatro em quatro anos, sempre que a população de Tomar assim o deseja.

Um percurso de cinco quilómetros com início junto à Mata dos Sete Montes, uma das entradas da cidade de Tomar, com paragem principal na Praça da República. Um momento de pausa no desfile que prossegue pelas ruas de Tomar, sempre ao som de gaiteiros, que abrem o desfile, e das bandas filarmónicas do concelho.

A Festa dos Tabuleiros ou Festa do Divino Espírito Santo tem, segundo os investigadores, as suas origens nas festas de colheitas à deusa Ceres, devendo-se a sua cristianização provavelmente à Rainha Santa Isabel, que lançou as bases da Congregação do Espírito Santo.









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